
Talvez você não saiba, mas debruçarmo-nos sobre os braços tem que se lhe diga e passo a explicar: um braço divide-se em duas partes: o braço, propriamente dito, e o antebraço, articulados entre si pelo cotovelo.
Analisemos cada uma dessas partes, separadamente, só para evitar confusões: o braço destaca-se do ombro e termina na articulação do cotovelo, certo? Assim, forma com o tronco um ângulo chamado axila, o qual serve para fazer cócegas e transpirar muito.
Quanto ao cotovelo, trata-se de uma espécie de dobradiça que impede que o antebraço fuja pra fora, permitindo somente movimentos como, por exemplo, um manguito*.
A propósito do cotovelo, importa referir que há gente que padece de uma doença muito comum, chamada "dor de cotovelo", para a qual não existem analgésicos.
Em relação ao antebraço, a sua função é evitar que a mão fique suspensa do cotovelo que, como toda a gente sabe, a acontecer, seria uma grande chatice.
O antebraço articula-se com a mão através do punho que pode ser de renda ou de ferro. Em ambos os casos é preciso ter pulso.
Tal como nas pernas, os braços dividem-se em direito e esquerdo. Penso que toda a gente sabe disto.
Para além dos dois braços, que estão ligados ao tronco (nunca é demais enfatizar), há a considerar outros: o braço-de-preguiça que é uma planta muito indolente; o braço de prata que é uma estação de comboios; o braço da justiça que é lento a condenar patifes poderosos e lesto a fazê-lo aos fracos; o braço-de-ferro que é quando alguém defende a sua dama com unhas e dentes, et cetera.
Os braços não se vendem. Quando muito, dão-se; e como é bom andar de braço dado, santo Deus!
Os braços são muito úteis para os seres humanos, embora não sejam imprescindíveis. Quem não tem braços caça com as pernas, como é curial dizer-se.
Além disso, para andar, as pernas, que já tive oportunidade de abordar em artigo anterior, dão muito mais jeito. E quanto mais compridas forem, melhor porque podem-nos safar de situações embaraçosas.
Quando estamos a braços com um problema, das duas uma: ou cruzamos os braços ou não baixamos os braços. Não existe meio termo.
É com os braços que envolvemos as pessoas de quem gostamos; neste particular utilisam-se os braços bem abertos e desejosos de apertar. Daí chamarem-se abraços apertados.
São os braços que transportam as mãos levando-as aonde são necessárias (faites la liaison...).
É também com os braços que esbracejamos quando estamos à rasca. Por exemplo, quando ficamos sem pé dentro de um ambiente líquido, sem sabermos nadar. Aqui, as pernas compridas podem fazer a diferença.
Diga-se, ainda e em abono da verdade, que cem braços são, regra geral, cinquenta pessoas.
A braça, ao contrário do que se possa imaginar, equivale (equivalia ) a 1,82882 metros e a braçada é o movimento dos braços, na natação, mas também pode ser um braçado.
A bracelete é um braço pequenino, mas também pode ser uma armela ou uma ramela (anagrama).
E fica, desde já, assente que um sujeito canhoto jamais será o braço direito de alguém.
Ossos: o braço possui, pelo menos, três ossos: o cúbito que é o osso do cotovelo e o que dá mais dores quando a gente recebe uma cotovelada em cheio, o úmero que é um osso muito homérico, e o rádio que, por sinal, só foi descoberto em 1902 por Marie e Pierre Curie.
Por último, nunca dê o braço a torcer senão aleija-se!
(*) A título de curiosidade, o Zé-povinho e o seu famoso manguito é uma criação de Raphael Bordalo Pinheiro. Património da tradição humorística Nacional, é um símbolo da resistência popular contra a opressão e os abusos do poder. O Zé-povinho teve a sua primeira aparição no jornal humorístico “A Lanterna Mágica “, no ano de 1875 do século dezanove.