por João Castro e Brito, em 26.10.21
INSÓNIA
A manhã mal acordadaO intervalo do cigarro
O oceano escancarado
Vejo o Tejo a beijá-lo
No paraíso replantado
A eternidade embrutece
No lusco-fusco da placa
Quebro à saudade, anoitece
No quarto, matuto o tempo
Esquadrinho o calendário
Risco o dia no armário
Penduro o fardamento
Trezentas páginas de encanto
Repousam brancas sobre a mesa
O diluente da tristeza
Torna mais espesso o meu pranto
Mortalha queima, mal a sinto
Derramo o último chuveiro
Enquanto, alheio, o dia teima
Perpetua-se noite adentro
Quiçá Morfeu se compadeça
Das minhas penas e me ofereça
O prazer sublime do seu colo
E extinga enfim meu pensamento
Composição poética criada a partir de uma carta que escrevi a alguém, há mais de quarenta anos, durante a minha comissão na guerra da Guiné. A autoria é do Zé Resende, poeta e músico nas horas vagas.
Lamentavelmente, perdi o rasto dessa carta...
A fotografia (Base Aérea de Bissalanca) é do António Esteves. Não sei se é vivo ou se é morto...