Imagine, por exemplo, se tivesse sido da Vinci a inventar a marmita de Papin; ou Newton a estabelecer o princípio de Pascal; ou Vasco da Gama a fazer a primeira viagem de circum-navegação. Onde ficaria isto tudo? Onde ficaria ou como seria, por exemplo, o estreito de Magalhães? Chamar-se-ia estreito de Magalhães? Provavelmente seria conhecido por estreito de Gama...
Ou se fosse Bertolt Brecht a inventar as pancadinhas de Moliére? Ou, ainda, a chef Cátia Goarmon a explicar, na 24Kitchen, como se faz uma salada de bacalhau salgado desfiado à mão (vulgo a dita cuja)? Ou se Bonaparte tivesse nascido no Egipto, filho de um humilde pescador do Nilo, e tivesse seguido as suas pisadas? Provavelmente, as invasões francesas não teriam existido e Junot, Soult e Massena não teriam levado a cabo milhares de acções de confisco, saque e destruição do nosso património cultural, jamais devolvido; e a Família Real Portuguesa não teria fugido para o Brasil, com o rabinho entre as pernas, deixando os portugueses entregues ao seu trágico destino; e não teriam entrado em Portugal os ingleses (outros saqueadores que tais), sob pretexto de expulsar os franciús, ao abrigo da "Mais Antiga Aliança do Mundo". Se bem que, sem as invasões francesas, Brites de Almeida seria, historicamente, uma ilustre desconhecida.
Até pelo exemplo da padeira de Aljubarrota, continuo convicto de que, na história, tudo é fruto do destino.
Ao contrário do que se pensa, Cristóvão Colombo não descobriu a América por acaso, mas antes por engano. E o que é o engano a não ser o destino? Calma que eu explico:
Diz-se que quando pisou o solo do Novo Mundo, pensou que tinha chegado à Índia. E porquê? – pergunta você com toda a legitimidade – Porque quando viu tanta gente desnuda e de pele vermelha a vir ao seu encontro, decidiu, ali mesmo, apelidá-la de índia. É claro que incorreu num equívoco, mas o que seria de Billy The Kid, Búfalo Bill e até do Grande Chefe Apache, Geronimo, se Colombo não se tivesse enganado? Ou se tivesse chamado americanos aos índios, como se chamariam, hoje, os americanos?
Regressemos à nossa História: Suponhamos que o 25 de Abril foi em Agosto. Como poderíamos falar dos Capitães de Abril?
E se os capitães fossem generais? Ou notários? Ou até mesmo carteiros? Soaria muito mal dizer-se que os Carteiros de Abril tinham derrotado o regime de Caetano em Agosto. Isto, sem desprimor para a nobre e quase extinta profissão de carteiro.
Pior soaria se Caetano se chamasse Óscar. Já pensou quão feio constaria se se tivesse derrubado um regime oscarista? Mesmo se, no caso, os capitães fossem carteiros e o 25 de Abril fosse em Agosto, hã?! Está a ver?
Suponhamos, agora, que Spínola era um autóctone australiano. Como poderia o senhor ter participado no 11 de Março? E se os acontecimentos de 11 de Março tivessem ocorrido nas montanhas dos Himalaias? Ou se os capitães fossem delegados de propaganda médica? Se o 25 de Abril fosse em Fevereiro? Se Caetano fosse José Vitalício Barbosa, caldeireiro, que não é tido nem achado nesta história? Se Afonso Henriques nascesse daqui a uma semana? Se Cavaco Silva fosse um parente afastado do Nosferatu? Se Cristóvão Colombo tivesse achado a Ilha da Madeira, ao invés de João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo? Se Dom João VI tivesse pedido asilo político aos Camarões?
Como certamente inferiu, o encadeamento dos factos, às vezes, é difícil, mas a história também nunca foi fácil, n'é verdade? Olhe, o CC que o diga! Por isso é que teve uma vida curta, coitado! Dizem que foram desgostos de amor...