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DEVE-SE DESFAZER O CARÁCTER MÍSTICO DO SEXO?

por João Castro e Brito, em 13.10.21

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Alguém muito famoso, cujo nome não me ocorre no momento, terá dito, algures no tempo, que o "grave problema do sexo vem das origens do segundo homem" e prosseguiu: "Isto porque o primeiro nasceu por obra e graça do Criador e, curiosamente ou talvez não, tampouco gratulou numa página de jornal dedicada exclusivamente a orações de agradecimento." E prosseguiu: "Porém, o segundo já foi concebido segundo critérios mais definidos e mais avançados que ainda hoje se mantêm tão actuais que ninguém ousa meter o bedelho, ou outra coisa qualquer na matéria porque é de matéria que efectivamente se trata.

"Após esta pequena introdução, penso, no entanto, que ainda há muitas arestas cheias de rebarba e é urgente, direi até que urge desmistificar o sexo e sem delongas. Isto, a par da indispensável revisão constitucional.

Pergunto: Para quando um debate nacional sobre um tema tão importante para a vida de todos nós? Quando mais não seja para aquelas pessoas que ainda têm alguma noção de como se pratica o sexo!
Dezenas de milhares de anos após a entrada do Homo sapiens na Península Ibérica e a interacção imediata que houve entre ele e uma neandertal nativa, por sinal muito gira, não chegaram para acabar com este absurdo tabu porquê? Parece que adormecemos! Que disparate!
Acho que isto devia ser objecto de análise em qualquer governo e ponto de discussão programática, independentemente de se fazer uma vez por ano ou até de nem se fazer. Quer se queira quer não, o sexo faz parte da vida. Pois, se até os bichinhos gostam!
Então, que qualidade de vida podemos almejar, se o governo teima em preterir o sexo em favor de outras actividades lúdicas de somenos importância no equilíbrio físico e psíquico dos cidadãos?
Que qualidade de vida podemos também esperar, se este ou qualquer outro governo teima em virar ad aeternum as costas ao sexo em vez de o agarrar afincadamente com uma mão ou ambas, dependendo do gosto?
Não se pode tirar o sexo à carne e à pele! Foi o sexo que perpetuou a Pátria! Quase novecentos anos de sexo é muita seiva derramada! É claro que muita tem sido derramada fora do contexto para a qual estava naturalmente destinada. Quatriliões de metros cúbicos de fluidos e outros desperdícios para quê, Santo Deus?!
Os Descobrimentos, a Batalha de Aljubarrota, as Batalhas das Linhas de Elvas e das Linhas de Torres, o Tratado de Tordesilhas, o 1º de Dezembro, o 5 de Outubro e o 13 de Maio, têm o seu merecido lugar na História, evidentemente, mas a perenidade da Nação só ficou garantida porque os portu⁸gueses de outrora, cheios de fervor e combatividade, não deixaram cair o sexo. Excepto os descuidados do costume que não se precaviam, mas isso é um problema transversal a todos os períodos da nossa História, é quase uma inevitabilidade.
As pátrias perpetuam-se através da manifestação corporal mais legítima e nobre deste mundo. Seja num vão de escada, no banco de trás de um Fiat Cinquecento, em cima do lava-oiça, num polibã, dentro da despensa, enfim, tantas vezes com grande espírito de sacrifício e em condições difíceis, mas é assim que se tem construído o futuro; assim se vai garantindo a sobrevivência de Portugal, malgrado a crises crónicas de que padece.
Mas, torno a perguntar: Prestarão, este e outros governos, as devidas homenagens ao trabalho esforçado e anónimo e tantas vezes à socapa, da gente lusa? Evidentemente que não!
Em face disto, como se pode acreditar neles ou até no Parlamento, se se perpetua o lençol de silêncio sobre uma das mais autênticas aspirações dos portugueses e portuguesas, não implementando políticas de desenvolvimento, não incrementando a prática através de incentivos pecuniários, fiscais, criando as infra-estruturas básicas (não sei o que é isto, mas soa bem) e outras coisas mais? Respeitando sempre as normas impostas pela União Europeia, claro! S'a gente é da União, só tem de respeitar a 'senhora', isso é indiscutível!
É certo e comummente aceite que o país tem atravessado sérias dificuldades há uma porrada de tempo - atrever-me-ia a dizer há séculos - por mil e um motivos, muito embora o senhor Costa garanta, a pés juntos, que não vai haver austeridade. Até porque a "bazuca" vai dar para todos e até sobra para o que der e vier.
O seu antecessor até afirmava, noutro contexto também muito difícil, que tudo não tinha passado de um equívoco; um "mito urbano".
Desculpem-me o devaneio. Perdi-me mais uma vez...
Em resumo, penso que seria pertinente a criação, a breve trecho, de uma Secretaria de Estado da Desmistificação do Sexo. Isto só para começar, depois logo se via. A menos que este Governo se declare impotente para resolver a grave crise de impotência da população em geral, não mostrando sensibilidade para acudir ao seu dia-a-dia, a qualquer hora.
Desmistificar o sexo dos portugueses é preciso! Viva o sexo em todas as suas variantes, vertentes, performances, cambiantes, matizes, gradações et cetera! Viva!

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ADORO FAZER SEXO COMIGO

por João Castro e Brito, em 02.10.21

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Gente lambareira! Queriam sexo, n'era? Em próximo artigo faço-vos a vontade. Hoje não estou virado para aí. Antes, vou debruçar-me sobre um assunto que, embora pareça banal é mesmo trivial, acreditem! Sobretudo, se fizermos uma análise da sucessão cronológica de eventos ou factos que, por qualquer incidente da História nos pudessem ter desviado do caminho exemplar que, como nação, temos vindo a percorrer. Gostaram? Também acho que é um excelente exórdio.

Todavia, penso que a importância da reflexão que se segue é eminentemente parda, como irão ter oportunidade de constatar.
Imaginemos por breves instantes, no domínio da ficção (óbvio, dah!), que a terceira ilha do arquipélago dos Açores a ser descoberta, tinha sido a ilha do Corvo. Chamaríamos, então, Terceira à do Corvo e Segunda à Terceira? Topam? Ou tentaríamos rodear a questão, chamando à do Corvo a primeira Terceira e segunda Terceira à Terceira. Perceberam, até aqui, onde é que quero chegar? Problemas idênticos poderiam ter alterado o nosso percurso histórico se tivesse sido o Vasco da Gama a atravessar o estreito de Magalhães, ou ainda a Maria de Lurdes Modesto a cozinhar pela primeira vez Bacalhau à Zé do Pipo.
Se Afonso Henriques tivesse nascido em 1499, como poderia ter sido o fundador da nacionalidade? E se só a tivesse fundado nessa época, como poderíamos ter, actualmente, quase nove séculos de História? Mais, ainda: de que serviria ao primeiro rei de Portugal conquistar Lisboa aos Sarracenos, se os gajos não tivessem, ainda, invadido a Península Ibérica? E onde ficariam os tintins do Martim Moniz na História, se a infantaria lusa não tivesse irrompido pelo castelo de São Jorge adentro? Convenhamos que, se o herói e mártir da tomada de Lisboa não os tivesse entalado nas portas do castelo, tomar a cidade aos Suevos, aos Hunos, aos Visigordos, aos Vândalos, ou até, mesmo, aos Energúmenos não teria a mesma graça.
Já agora, seguindo a mesma linha de raciocínio lógico, já imaginaram, também, como há por aí tanto amor desencontrado, perdido, esquecido? Não?...Têm a certeza?... Vejam lá, se precisarem de um ombro amigo, estou aqui, não se façam rogados!

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MARIA, UMA MULHER MODERNA PARA O SEU TEMPO

por João Castro e Brito, em 29.09.21

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Pode ter sido uma mulher moderna para aquele tempo. Se calhar, fora de tempo. Jamais se saberá ou, quiçá, a seu tempo. Contudo, já ninguém é vivo para testemunhar se teria valido a pena ter sido uma mulher daquele tempo. Perante estas conjecturas não é difícil imaginar que tivesse existido uma mulher moderna para o seu tempo.

1 de Abril de 1911:
As pessoas do meu tempo acham que sou uma mulher sem qualquer obrigação moral.
Coisas mundanas como fumar um cigarro, entrar no Martinho da Arcada, sentar-me na mesa do Nandinho sem ser convidada, descobrir as pernas, ao de leve, acima dos joelhos para os olhares desejosos dos homens, o que é que estes gestos têm de mais?
Que culpa tenho de ter um corpo escandalosamente bonito? A minha avó habituara-me a apreciar as coisas boas da vida desde que a estavanada da minha mãe fugira com um caixeiro-viajante.
Mas o que mais incomoda esta gente serôdia, nomeadamente os homens, é o facto de ter escrito acerca de algo tão normal como o sexo.
A sexualidade não é uma característica exclusiva dos homens. E se eles têm a veleidade de conquistar todas as mulheres que se lhes atravessam no caminho, a elas cabe o direito de responder com o mesmo capricho.
Chocou às mentalidades broncas, é claro! Sobretudo àquelas que pensam que nós somos burras e, por conseguinte, temos de ser fiéis, tolerantes, obedientes e outros cândidos atributos. Porém, esquecem-se que, lá em casa, as suas mulheres também podem ter, secretamente, desejos lúbricos em relação a outros homens. Sobretudo, quando eles não dão uma para a caixa.
Consta que um tal Barbosa, um dos mais obstinados moralistas do meu tempo, fulano de porte mediano, aparentemente austero, grande frequentador de lupanares - segundo conta o mentideiro ocioso da burguesia alfacinha - , anda a fazer apostas com amigos, garantindo-lhes que não vai descansar enquanto não partilhar os meus lençóis. O objectivo do marialva é provar à agremiação de cretinos, de que faz parte, que mulher que se deite com ele não vai desejar dormir com outros homens...

25 de Abril de 1911:
No final do dia deste esplendoroso mês a cheirar a cravos, entrei no Martinho para tomar a minha bica em chávena escaldada, como o faço habitualmente, e lá os encontrei mais o Barbosa. Cumprimentei-os e foram de um polimento extremo, direi mesmo excessivo. Contudo não se coibiram de me assestarem olhares gulosos no decote. Bem, confesso que é difícil a um homem de bom gosto desviar os olhos de um decote generoso. Desta feita aprimorei-me.
Sentei-me no lugarzinho cativo do Nandinho, filei o Barbosa e atirei-lhe de chofre: «O que faz você para estar cada vez mais borracho?». Vermelho e balbuciante, com gotículas de suor no beiço superior, embora estivesse um final de tarde fresco, continuei: «com uma carinha tão bonita, tão bem escanhoada e com uma atitude tão máscula, palpita-me que também deve ter argumentos capazes de satisfazer a mulher mais exigente...».
Pedi-lhe para desabotoar apenas dois botões da sua camisa de linho a fim de verificar se tinha cabelos no peito, pois - expliquei bem alto para que todos ouvissem - «é algo que aprecio particularmente». Certificado o facto de os ter, embora pouco densos, convidei-o para me acompanhar a casa, pois tinha algo interessante que gostava de compartilhar com ele. Embaraçado perante a risota geral e não querendo dar parte de fraco, decidiu-se a aceder ao meu pedido e lá fomos.
No primeiro lance de escadas atirei-me a ele que nem uma loba e beijei-o sofregamente na boca, pedindo-lhe que me desculpasse o impulso, mas era algo que eu desejava fazer há muito tempo, só que ainda não tinha surgido a oportunidade.
Conduzi-o, sem mais delongas, escadas acima até ao apartamento e, já no quarto, empurrei-o para cima da cama, abri-lhe a camisa, devorei-o com beijos loucos e, enfim, nu. Elogiei-lhe o corpo para o pôr à vontade, afaguei-o, sussurrei-lhe palavras que não ouso publicar aqui, pedi-lhe que se entregasse todo aos meus ímpetos até à saciedade. Jurei-lhe, por todos os santinhos, que nada passaria daquelas quatro paredes.
 
26 de Abril de 1911:
Apesar de todos os meus esforços, o Barbosa foi uma decepção: o homem não tem ponta por onde se pegue e, claro, senti-me, naturalmente, desencantada.

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SEXO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

por João Castro e Brito, em 09.05.20

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. Os gregos foram realmente uns licenciosos como os historiadores os pintam?
. É plausível pensar-se que os romanos praticavam relações eurogenitais muito antes da criação da Zona Euro?
. E as conjecturas que se têm feito acerca dos hábitos necrófilos dos egípcios têm, efectivamente, algum fundamento?
. É risível aceitar a ideia estapafúrdica de que os hunos cuspiam para o ar quando copulavam?
Regressado a um tema que me apraz sobremaneira, escolhi estas quatro incertezas históricas ligadas a civilizações da antiguidade clássica que julgo representativas de sociedades que foram influentes em vários patamares da evolução humana e que me pareceram pertinentes. Isto, sem embargo do estilo fabulístico da narrativa.
Julgo que estas culturas ajudaram a moldar os nossos costumes, particularmente, numa área que ainda consideramos restrita ou tabu.
Quanto às consultas que efectuei, é facto que pecaram por escassas, mas tenho a meu favor um álibi: é o medo patológico de frequentar bibliotecas por causa do cheiro intenso a lignina. Associado a esse medo, vem a minha preguiça em folhear livros, com a agravante de padecer de uma rinossinusite crónica. Já para não dizer do sacrifício que é botar cuspo nas pontas dos dedos. Isto, apesar da extensa bibliografia que podia percorrer, não fosse a indolência mental inata, aliada ao enorme esforço intelectual que teria de fazer. Assim, escolhi a Internet porque vem tudo condensado e, por conseguinte, é menos cansativo.
Por outro lado, também podia pesquisar em revistas da especialidade. Todavia, seria indigno se o fizesse porque, por exemplo, a Penthouse estava a milénios de existir em Atenas; a Playboy ainda não era vendida no Cairo; a Lui só apareceu nos quiosques de Roma depois de Cristo e os hunos, esses intratáveis broncos, supõe-se que liam revistas pornográficas dinamarquesas para conseguirem ter erecções. Isto porque as suas mulheres eram, supostamente, muito feias e gordas.
No entanto, pelo que me foi dado a ler, a conclusão a que cheguei, após análise exaustiva às práticas sexuais destas quatro civilizações, é que não diferiram substancialmente umas das outras e uma coisa é certa: os antigos já eram danados para a brincadeira.
Os romanos foram mais longe e internacionalizaram-na, com a introdução dos efémeros jogos sem fronteiras em que valia tudo menos tirar olhos.
Muito mais tarde, os gregos seguiram-lhes as pisadas e introduziram uma variante desses jogos: as Olimpíadas do Sexo que duraram um ano bissexto.
Numa dada passagem, na Wikipédia, li algo que me despertou a curiosidade: Júlio César, como romano que era, também tinha gostos fora do vulgar: por exemplo, adorava comer baguinhos de uvas moscatel de Setúbal enquanto uma escrava lhe afagava a virilha direita. Todavia, fica-se sem saber se JC apreciava mais os baguinhos de uvas moscatel de Setúbal ou os afagos na virilha direita, mas isso também é irrelevante para a história; foi somente um aparte, peço desculpa.
E que dizer do nariz de Cleópatra? É consabido que Marco António tinha uma atracção compulsiva por aquela bela protuberância carregada de sensualidade, mas pouco mais se sabe sobre esse seu encantamento fetichista.
Já um huno feio e peludo, completamente nu, devia ser uma visão desagradável, não? E uma múmia egípcia (não confundir com a famigerada "múmia paralítica" portuguesa) com cuequinhas de renda? Valha-nos Deus!..
Mas tentemos botar um pouco de ordem neste texto eivado de reticências e referências dúbias ao comportamento sexual dos nossos ascendentes remotos e prossigamos, senão divago como é meu hábito.
No que diz respeito às relações amorosas desta gente, pelo pouco que pesquisei, julgo que os gregos eram, efectivamente, muito liberais. Basta mencionar Afrodite sem esquecer, inevitavelmente, Eros, Anteros, Himeros e Pothos, os seus quatro filhos alados, uns Erotes que não negavam a sua proveniência divina.
E, é claro, Apolo que, para além de belo, também tocava lira para deleite dos cavalos de Eumelo (consta que Eumelo tinha ciúmes dos cavalos, mas nunca foi devidamente documentado).
A propósito de Apolo, é certo que Homero nutria um fascínio por ele, de tal modo alucinante, que o citou apaixonadamente na Ilíada.
Finalmente, Paralellepípedon. Não tenho palavras para o descrever, tão rica e vasta é a sua obra a propósito da arte do sexo. De tal modo que Catherine Millet se baseou nela para escrever o seu polémico romance, hipoteticamente, auto-biográfico, "A Vida Sexual de Catherine M.".
Contudo, os costumes sexuais variavam muito de cidade para cidade. Os espartanos, por exemplo, não queriam misturas, pois odiavam a concupiscência, a luxúria e eram atreitos a tibiezas; uns cinzentões do caraças! Por via disso, os rapazes eram enviados para escolas especiais, chamadas Androceus e as raparigas para os Gineceus. Pensa-se que Salazar teria copiado a ideia, muito mais tarde, criando escolas masculinas e femininas (outro aparte, peço desculpa).
Segundo alguns estudiosos das ciências comportamentais, estas medidas favoreceram a emergência da homossexualidade. Contudo, não fizeram com que a Grécia desaparecesse como civilização. Aliás, há teorias que explicam que esta separação dos géneros até foi benéfica, mas não me perguntem porquê e para quem!
Consta que um espartano, ginecófobo obsessivo, cujo nome foi apagado da história (terá existido?), decidiu formar-se em medicina como forma de contrariar tal fobia. Para tal, leu o "Corpus hippocraticum" do Hipócrates (obviamente) e os estudos do Alfred Kinsey (não tão óbvio).
Sagaz, o rapaz, embora muito reservado, especializou-se em fisiologia e patologia dos órgãos sexuais femininos, para o que teve que percorrer vários Gineceus de Esparta, onde examinou com minúcia, como convinha, todas as raparigas. À luz do conhecimento actual, pensa-se que foi deste modo que nasceu a Ginecologia. Não se sabe, ao certo, se o espartano ficou curado desse temor mórbido ao sexo feminino...
Em Atenas, as coisas eram mais tipo tudo ao molho e fé nos deuses do Olimpo. Gente de ambos os sexos, da mais nova até à mais velha, juntava-se à noitinha, junto à Acrópole, e dedicava-se a uma senda de promiscuidade sexual que faria corar Afrodite, se Ela, com efeito, não tivesse passado de uma fábula. As colunas da Acrópole estavam pejadas de grafítis obscenos e no chão podia-se tropeçar nos mais variados objectos, utilizados na estimulação sexual, e até escorregar nos fluidos corporais! Isto, contado, ninguém acredita...
É claro que a autarquia ateniense encarregava-se de limpar tudo pela manhãzinha para estar tudo limpinho e pronto para o recomeço, na soirée seguinte. Era uma perversão total da moral e dos bons costumes, nunca vista nem imaginada. Um século mais tarde, os gregos viram-se gregos para erradicarem estes costumes impudicos da sociedade. Até tiveram de pedir ajuda aos troianos, mandando vir um cavalo e tudo, imagine-se!...
Em relação aos egípcios, não pesquei grande coisa a não ser que tinham procedimentos assaz estranhos: andavam sempre de lado e a sua caligrafia era difícil de entender. Além disso era uma escrita papirosa c'mo catano! Demais a mais, construíram pirâmides com o bico para cima (?!) e não se livraram da fama de terem sido necrófilos, embora, como referi, só subsistam indícios.
Contudo, o culto pelos mortos, deste povo singular, alimenta-nos a suspeita de que só conseguiam obter prazer sexual à custa da profanação de cadáveres, preferencialmente múmias...
Os romanos, a par dos gregos, eram muito sofisticados. Diga-se de passagem que foram eles os verdadeiros precursores das orgias e dos bacanais, onde se comia, bebia e fazia-se sexo a torto e a direito, enquanto as legiões oprimiam os povos, como certamente, não constitui novidade. Afora isso, os romanos também não jogavam com o baralho todo. Exemplo dessa falta de cartas, era o facto de obterem prazer sexual à custa dos pobres cristãos que sacrificavam às feras ou dos gladiadores que se decepavam mutuamente nas arenas enquanto a populaça ululava de prazer. Um espectáculo triste e bárbaro que ainda hoje se repercute nas arenas de Portugal. A reacção é a mesma: é ver a "afición" a exprimir esgares de prazer sexual, quiçá orgasmos, enquanto assiste ao martírio de um animal acossado e a sangrar abundantemente.
Mas, continuemos senão disperso-me novamente e não é meu fito, por hoje, escrever sobre um dos mais vergonhosos crimes perpetrados contra animais; com a agravante de fazerem parte da "tradição cultural" de um país...
Os romanos tinham taras porque não havia mais nada para fazer em Roma a não ser cultivar a mandriice e o deboche; o trabalho era para os escravos.
Para não amolecerem com excesso de lazer, inventaram as guerras, indo travá-las para além das suas fronteiras. Aí, vinham ao de cima formas imaginosas e bizarras de não adormecerem durante os confrontos. Faço aqui uma referência, bem a propósito, às Guerras Púnicas, que foram três e julgo que duraram cem anos, pouco mais ou menos. Eram umas guerras muito recreativas, em que romanos e cartagineses rasgavam as suas túnicas e ali, no campo de batalha, praticavam sexo puro e duro para gáudio e volúpia dos generais romanos. Destaco um legado chamado Gaudêncio Jacinto Prazeres das Dores que mandava punir (daí o carácter punitivo das Guerras Púnicas) imediatamente, por castração, o legionário que não consumasse o acto durante a "peleja". Ora, como é consabido, isso levou à queda do Império Romano porque, ao fim dos tais cem anos, o paradigma "em Roma sê romano" deu lugar a outro: "Todos os eunucos vão dar a Roma".
Finalmente, os hunos. Que dizer dos hábitos sexuais desses bárbaros eurasiáticos, semi-analfabetos, capitaneados por Átila? Mais a mais, um brutamontes que, curiosamente, só sabia contar até dez e com grande dificuldade.
Uma coisa parece ser certa: as hunas eram férteis à brava! Tão férteis que – diziam as línguas viperinas das sogras – eram capazes de engravidar só pelo cheiro ou seja: o huno aproximava-se da huna, cheirava-a e, caso não lhe cheirasse a chamusco, era tiro e queda.
Todavia, como referi, eram, presumivelmente, feias e gordas e isso exigia, para além de um excelente olfacto, uma grande dose de imaginação e muito estímulo por parte delas porque os gajos não tinham maneiras nenhumas. E era, em parte, por via desses estímulos, não se sabendo de que tipo, que ficavam prenhes e pariam às ninhadas.
Só assim foi possível criarem as famosas hordas de que se serviam para invadirem outros territórios.
É claro que ficamos sem saber se, com efeito, os romanos praticavam relações eurogenitais muito antes da criação da Zona Euro ou se os hunos cuspiam para o ar durante o sexo, mas julgo que são pormenores de somenos importância. Contudo, posso voltar ao tema, lá mais para a frente, a pedido e sob consulta.
Com isto, espero ter contribuído, mais uma vez, e reitero, sem fins lucrativos, para um maior conhecimento dos hábitos e costumes dos nossos ancestrais.

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Chegou ao condomínio, situado no subúrbio, e estacionou o veículo de propulsão electromagnética numa plataforma móvel que o transportou ao silo correspondente. Seguidamente, entrou no ascensor, subiu trezentos e noventa e nove pisos e, com o dedo indicador esquerdo (era canhoto), validou o acesso biométrico ao apartamento. Depois, ordenou ao andróide mordomo para se desactivar: sempre subserviente; sempre cheio de falinhas mansas; sempre cheio de mesuras; sempre solícito; sempre cheio de etiqueta; sempre cumpridor do protocolo, enfim, uma melga do camandro, o andróide mordomo!

Chamou:

– Querida, onde estás?...Uhu!... Não há nada que se coma nesta casa, amor? Estou esganado com fome!
Dos lados da casa de banho, veio a resposta:
– Já desligaste o vatel? Pois, não devias tê-lo feito! Agora não te posso atender; estou a fazer um "system update"!
Estrelou uns ovos de dodô(*) e, enquanto os devorava com voraz apetite, contou as novidades do dia:
– Queres saber uma que ouvi hoje no serviço? Então, não é que o Tó Zé foi apanhar a mulher na cama com o andróide jardineiro, pá, já viste?! E sabes que mais? A coisa deu divórcio litigioso, o gajo aproveitou o pretexto e amancebou-se com o estupor do bonifrate, já viste?! É preciso ter lata que é coisa que não lhe falta, aliás! Há cada uma que a gente até fica parva!
Estranhando o silêncio da mulher perante a novidade tão surpreendente que lhe acabara de anunciar, dirigiu-se à casa de banho, pé ante pé, e descobriu-a na posição de quatro com o andróide despenseiro e, simultaneamente, a fazer um felatio ao andróide da limpeza doméstica.
Perante o lamentável cenário de libertinagem pura e dura com que se deparou, não esteve com meias-medidas: pregou um par de bofetões à mulher por andar a estragar os outros robôs com mimos e deu-lhes uma grande descasca por estarem a fazer sexo dentro do horário normal de expediente. E ainda os ameaçou com desligamento colectivo, sem justa causa, por via das tosses.
Passado o infeliz episódio, resolvido a contento de todas as partes envolvidas e após o jantar, entretiveram-se a fazer zaping em canais de memórias televisivas do século XXI. Entre os programas memoráveis dos canais generalistas de outrora, o tempo ia passando enquanto esperavam que o andróide lava-loiça acabasse de arrumar a cozinha.
Após as tarefas domésticas cumpridas, desactivaram a máquina e foram-se deitar; o dia tinha sido bestialmente fatigante.
– Queres ter relações sexuais? – perguntou ela, alheia à resposta.
– Estou com dores de cabeça... – esquivou-se, tendo a noção exacta do tom desapaixonado da pergunta dela.
– Deixa lá, delegamos nas nossas unidades sexuais autónomas» – disse ela.
Trataram de colocar uns dispositivos cheios de luzinhas coloridas, a piscar e a silvar intermitentemente, cada um em cima da respectiva mesa de cabeceira, e caíram instantaneamente num sono profundo, quase de morte. Os módulos deram, então, início a um ciclo de coito tântrico automático (ou não fossem autómatos) que se iria prolongar noite adentro.
Módulo xy:
– Pronto para inicializar acto, coordenadas XPD (xray, paso-doble) - 33° 69' 96'', diga se já posso metê-lo, over.
Módulo xx:
– Over me, é claro; para já, apénis tenho contacto visual. Pode dar início à aproximação copular...ups, "just a minute", necessita lubrificar um pouco! (A memorizar expressões e interjeições designativas programadas para hoje:
– isso, aí, aí tá bom, quero-te todinho só pra mim, tens um corpinho de sonho, mete-o todo, ai, ui"...brup, slurp, truca-truca, chloc, over).
Módulo xy:
– Cuidado, não perca o controlo nem declame poesia erótica da Natália Correia e muito menos do Bocage ou do António Botto sob risco de sobreaquecimento das células de iões de hidrogénio! Comutar para a posição de gozo total ATL (argenta, tango-louco) 433...ah, confirme se tomou pílula, over.
Módulo xx:
– Afirmativo, pílula processada. Vou comutar libido para pilota automática para poupar a sua pilha (pila em madeirense). Diga se tomou comprimido azul, over.
Módulo xy:
– Ok, acabei de processar sete. Já sinto algo. Todavia, mantenho-me em standby a aguardar efeito mais acentuado, over.
Horas mais tarde:
Módulo xx (a escaldar e a deitar fumo):
– Gozei que nem uma máquina perdida; noite inesquecível; estou de rastos; tenho de desligar; over and over.
Na manhã seguinte:
– Dormi como um andróide, querida! – exclamou, na casa de banho, sentado na sanita, a lubrificar as juntas.
– Ontem não te contei o que se passou na mercearia do senhor Narciso? – disse ela – Vê lá que a do 222º esquerdo pegou-se com uma venusiana do 335º direito! Tudo por causa da outra deixar sempre a roupa a pingar no estendal e molhar-lhe a roupa toda! O bom e o bonito, foi quando a venusiana a acusou de ter feito sete abortos espontâneos de uma relação extra-conjugal com um terminal de computador obsoleto. Como se não bastasse, ainda gritou, para quem a quisesse ouvir, que a do 222º tinha ido para a cama com um sujeito verde com antenas cromadas, vê tu! A do 222º não foi de modas e chamou-lhe venusiana(**), imagina! Zangam-se as comadres e descobrem-se as verdades, é uma vergonha!... Ai, estas malditas hemorróidas dão cabo de mim!» – desabafou ela a fazer um semicúpio, no bidé, com óleo mineral.
Ele, com o seu ar mais paternalista da galáxia, já imerso no óleo da banheira, enquanto deixava outro robô lubrificar-lhe as partes, perguntou:
– Foi bom, o sexo, ontem? – ela anuiu com indiferença.
Ele desconfia, há algum tempo, que ela tem um caso traumático com um andróide ucraniano.
Não tardaram a separar-se. Ele seguiu a caminho de mais um dia de labor numa fábrica de chipes e ela caminhou até uma cinemateca próxima de casa, onde desempenha trabalho de recuperação e catalogação de filmes indianos "hard-core" do século XX. Uma actividade cultural assim, a modos muito "kitsch". É um trabalho visual árduo e, naturalmente, cansativo, não obstante aqueles olhos grandes e doces que Saturno, um dia, lhe há-de comer.
 
(*) Ave pré-histórica das Ilhas Maurício.
(**) Seres hermafroditas com três pernas, quatro mamas, duas vaginas e um pénis assoberbante atrás das costas; e detestam que lhes chamem venusianas. Manias!

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SEXO COM UMA PAPAGAIA

por João Castro e Brito, em 12.11.14

sexo com uma papagaia.jpeg

"Um dia deambulava pelo Centro Comercial Colombo mais o meu pai e, como a fome apertava, resolvemos comer por lá qualquer coisa. 
Dirigimo-nos à zona da restauração e entrámos numa pizaria.
Após algum tempo de espera, reparei que o senhor olhava fixamente para uma mulher jovem sentada a uma mesa contígua à nossa.
O corte de cabelo da moça formava uma espécie de crista tricolor: verde, lilás e azul.
O meu pai continuava a olhar insistentemente para a jovem, deixando-me pouco à vontade para lidar com o seu súbito interesse nela.
A rapariga olhava à sua volta de vez em quando e dava sempre com o olhar fixo e, aparentemente, inquisidor do meu pai.
Quando se cansou de ser observada perguntou-lhe sarcasticamente:
«Qual é o seu problema, avôzinho, nunca fez coisas malucas na vida?»
Conhecendo o meu "velho" como conheço os dedos das minhas mãos, engoli em seco, pois sabia como eram eloquentes, as suas respostas.
No seu estilo plácido, o troco saiu com prontidão:
«Olhe, minha menina, uma vez estava tão janado, tão janado, que fiz sexo com uma papagaia, veja bem! Por conseguinte, estava para aqui a congeminar se, por ventura, você é minha filha.»"
Nota: Veio parar ao meu correio electrónico.

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