por João Brito, em 28.09.21

Um homem mau pega num telemóvel e digita um número. Alguém atende:
Homem mau:
- «Boa tarde, daqui fala o estripador de Lisboa e telefono só para informá-lo de que acabei de matar a sua esposa.»
Do outro lado:
- «O quê, como disse?!...Quem fala?»
Homem mau:
- «Parece-me que fui bem claro! Sou o estripador de Lisboa e assassinei a sua mulher há minutos!»
Do outro lado:
- «E foi onde?»
Homem mau:
- «Foi em sua casa.»
Do outro lado:
«E como foi?»
Homem mau:
- «Matei-a com uma dúzia de facadas.»
Do outro lado:
- «Sangrou muito?»
Homem mau:
- «Um bocadinho, fiquei todo salpicado!»
Do outro lado:
- «E a alcatifa?»
Homem mau:
- «Ficou toda ensanguentada, o que é que esperava?!»
Do outro lado:
- «Você faz ideia de quanto me custou a porra da alcatifa?»
Homem mau:
- «Lá por isso eu pago-lhe a limpeza da merda da alcatifa; não é preciso ficar para aí todo abespinhado, homem!»
Do outro lado:
- «Sempre ajuda! Se você pensa que tenho para aqui alguma árvore das patacas, desengane-se!»
Segue-se um momento de pausa no diálogo e o homem mau prossegue:
- «Pensando melhor: não acha ilógico ser eu a pagar, depois de lhe ter comunicado o homicídio da sua esposa?»
Do outro lado:
- «E você ainda acredita na lógica das coisas? Não repara no que se passa ao seu redor, mais a mais, confessando ser um assassino da pior estirpe? Fico com a clara impressão de que não passa de um amador!»
Homem mau:
- «Visto desse ângulo... e quanto ao amadorismo, deixe-me dizer-lhe que sou credenciado e tenho boas referências. Ademais, fazendo jus a um avito familiar, não menos famoso!»
Do outro lado:
- «Com tão excelentes alusões, ao menos podia ter usado uma pistola com silenciador. Teria sido uma morte mais limpa e rápida e escusava de incomodar a vizinhança; ela deve ter gritado bastante, coitadinha! Não sou especialista, mas presumo que bastava apontar-lhe directamente ao coração e teria evitado a porcaria e, quiçá, o sofrimento que causou!»
Homem mau:
- «De facto, desta vez, não ponderei os prós e os contras. No entanto, deixe que lhe diga que, habitualmente, não uso armas de fogo; e não dramatizemos tanto esta estória porque a sua consorte, afinal, só gritou um bocadinho, não foi nada de especial, fique tranquilo. Queira aceitar, desde já, as minhas desculpas e aproveito o ensejo para lhe manifestar as minhas mais sinceras e profundas condolências...»
- «Ah, como quer que lhe pague a limpeza da alcatifa? Aceita transferência bancária ou mando-lhe um cheque?»