Um dia destes, ao acordar e observar a minha barriga – é a primeira elevação que vejo quando me levanto, sobretudo quando durmo de barriga para o ar – veio-me à ideia escrever qualquer coisa acerca da barriga. De um modo geral, entenda-se.Também conhecida como abdómen, ventre, pança, mula, saliência ou bandulho, não há gato pingado que não saiba o que é e o que aloja esta parte essencial do corpo humano. Digo essencial porque, se pensarmos bem, uma pessoa sem barriga não é a mesma coisa que uma pessoa com barriga. Também chegou a esta conclusão, n'é verdade?
Mas antes de prosseguir com a descrição, penso que é conveniente deixar claro que cada um de nós tem somente uma barriga. Claro que sem contar com as barrigas das pernas, evidentemente.
Por conseguinte, a frase "tem mais olhos que barriga" faz todo o sentido e reforça a característica única deste extraordinário órgão do corpo humano.
Por outro lado, é completamente falacioso que alguém, em qualquer circunstância, tenha a "barriga vazia". Isto porque contém muitos órgãos, sobre os quais escreverei um pouco mais adiante e por forma a que você compreenda, inclusive eu.
A barriga situa-se imediatamente abaixo do tórax e estende-se até aos membros inferiores, ficando, normalmente, por aí, à excepção dos indivíduos e indivíduas obesos, cujas barrigas podem distender-se um pouco mais até cobrir as partes pudendas. Se não tem a certeza se se enquadra nesta categoria de pessoas, faça o seguinte teste: coloque-se em pé, com as mãos atrás das costas, e olhe para baixo sem curvar o tronco. Das duas, uma: ou as vê (as partes pudendas) porque tem um corpinho de sonho ou não as vê porque tem um índice de massa corporal (IMC) superior a 40, só conseguindo observá-las com a ajuda de um espelho ou, eventualmente, de uma lupa.
Claro que isto não é assim tão linear, mas já é uma preciosa ajuda para quem que não as vê há muito tempo seja por que motivo for.
Na perspectiva do observador de fora (de dentro é muito difícil observar, como certamente já deve ter deduzido), a barriga pode ser chata, redonda, d'água, de abade, de freira, de bicho, de aluguer e por aí fora.
Uma coisa é praticamente factual, apesar de nem sempre estar à vista: toda a gente tem um bigo. Não há conhecimento, até ao presente, de casos de pessoas com mais do que um bigo. Não quer dizer que não possam existir, mas, como acabei de dizer, até ao momento não há nenhum caso digno de registo.
A barriga, de acordo com o género, contém geralmente quase tudo o que é necessário para o seu bom funcionamento, desde o estômago à bexiga, passando pelo fígado, rins, baço, intestinos, bebés, ovários, e outras coisas não menos importantes. Contudo, uma coisa é certa: não contém relógio nem rei, pelo que frases como "ter a barriga a dar horas" e "ter o rei na barriga", não passam de crendices populares, pois nunca se provou a sua existência.
Penso que descrever ao pormenor as funções dos diversos órgãos que a constituem, tornar-se-ia moroso e enfadonho. Portanto, deixemos essa descrição para os especialistas na matéria. Assim, vou-me restringir ao básico, se me permite.
Começo pelo fígado, cuja função é tentar impedir-nos o acesso desregrado ao consumo de bebidas alcoólicas, por assim dizer. Porém, é tentativa debalde (há quem beba de balde). Ademais, parece estar cientificamente comprovado que a dificuldade do fígado em controlar a nossa apetência inata para beber álcool é inversamente proporcional ao número de fígados ou seja:...bem, também não sei como é que os cientistas chegaram a esta conclusão, mas poderá pesquisar na Wikipédia se assim o entender.
É garantido e, como tal, inquestionável que, infelizmente, ainda há gente com maus fígados e esta classificação simplista nem sempre está relacionada com o hábito de emborcar bagaço como se fosse água, mas antes pelo facto de possuírem dois fígados. Faça um pequeno teste de verificação, mirando-se novamente no espelho. Se tiver duas grandes protuberâncias laterais, para além da frontal, é sinal que também tem maus fígados. Se isso se confirmar, olhe, tenho pena!
O duodeno é aquela parte inicial do intestino delgado que sai do estômago e termina no final do jejuno, por altura da Páscoa. Isto, depois dos católicos terem andado na borga até à véspera de quarta-feira de cinzas.
Os muçulmanos também jejunam, no nono mês do calendário islâmico (Ramadão), do nascer ao pôr do sol, para terem direito a setenta e duas virgens quando forem para o Céu. É obra!...
Passemos, então, aos intestinos também chamados de tripas (não confunda com tripas à moda do Porto).
A grosso modo, é nos intestinos que se processa a papinha que é transformada em sangue. O que não é assimilável é rejeitado pelo organismo e excretado, normalmente, por duas vias, como é, certamente, do seu conhecimento.
Portanto, é fácil inferir que os intestinos se dividem em delgado e grosso.
O comprimento varia, consoante a capacidade volumétrica da barriga. Existem registos, devidamente comprovados, de intestinos com mais de dez quilómetros de comprimento.
Explicar isto, numa perspectiva mais científica seria uma maçada para mim e entediante para si que tem pachorra pra ler estes disparates. Além disso é preciso ter estômago para entender tal explicação. Por isso, se ao ler este artigo já estiver a sentir um buraco no estômago, o meu conselho é que, antes que isto lhe dê a volta ao dito, o forre com qualquer coisinha, sei lá, talvez um pratinho de grão de bico com mão de vaca, por exemplo.
Prosseguindo rapidamente com a descrição porque, sinceramente, isto já me está a nausear, segue-se a bexiga, também chamada de bexiga doida (não confunda com bexiga natatória que, como o próprio nome indica, é um auxiliar de natação) porque nos deixa ficar mal quando estamos à rasca para mijar e já não vamos a tempo.
A barriga também contém o útero que é um órgão exclusivamente feminino e serve para guardar bebés, mas também contém a próstata que é um órgão exclusivamente masculino e serve para dar chatices a partir de uma certa idade.
E pronto!
Olhe, peço-lhe encarecidamente desculpa por ter sido um bocadinho lacónico (?!) na exposição da barriga, mas assiste-me alguma razão, dado que o tema é muito complexo, para além de não ser dos meus temas favoritos. Mais a mais, acho que qualquer assunto à volta das vísceras é só para quem sabe, efectivamente, ler nas entranhas (não confunda com entrelinhas).