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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
Olá, meus caros e minhas caras. Sei que ainda é um bocadinho cedo para comemorarmos o Natal (este ano, provavelmente, ainda circunscrito ao núcleo familiar dos nossos lares...) e também sei que uma boa parte de vós estaria mais interessada em ler uma estória picante, mas, por se tratar de vésperas de um acontecimento festivo muito importante, cheio de paz, amor e comezaina até rebentar, não vou fazer-vos a vontade, desculpem lá, mas é inapropriado!
Porém, para não pensarem que sou um desmancha-prazeres, tive uma ideia que considero luminosa; ao fim e ao cabo enquadrada no verdadeiro espírito natalício, n'é verdade? Ideia luminosa. Estão a ver a simbiose?
Assim, aproveitando o ensejo de que o Natal, para além de significar amor (João 3:16-17), também significa mesa farta (José 4:2-3,14159), resolvi proporcionar-vos uma receita muito fácil de fazer e que vai agradar-vos sobremaneira. Dei-lhe o nome sugestivo (se calhar pomposo de mais, peço desculpa) de "Peru populista à Tocam os sinos". No entanto, é um vulgar prato de peru assado no forno que não requer grande mestria na arte de cozinhar, como já referi. Contudo, se por um lado é um pitéu de trás da orelha; e olhem que a mim, nestas coisas, ninguém me faz o ninho atrás da orelha porque ando sempre com a pulga atrás dela - acreditem - , por outro lado também não sei porque é que se diz orelha em vez de orelhas, pois são duas: precisamente, uma em cada lado do rosto. Todavia, mais havia para dizer em relação às orelhas, mas prometo que abordarei este assunto lá mais para a frente, se Deus quiser.
Espero que gostem da sugestão e, a talhe de foice, desejo-vos bom apetite (também concordo convosco; "bon appétit", neste contexto, suava pindérico de mais)!
Ingredientes:
- Um peru populista nédio (não confundir com médio porque sobra sempre um bom garfo e um médio pode não ser suficiente)
- Um balde de água fervente (o balde de água fria é escusado porque, para o efeito, tem de borbulhar)
- Alho, salsa e fuligem qb e depois logo se vê.
- Tapas e biqueiros qb.
- Batata nova qb (Se não houver batata nova, pode ser semi-nova), com o respectivo saco de serapilheira.
- 20 quilos de banha, mais coisa, menos coisa (se o bicho for muito anafado, deve-se reduzir a quantidade de banha, mais ou menos, para metade).
- Bota (direita ou esquerda) pra pregar uns quantos biqueiros no cu do animal, previamente, untado.
Modo de preparação:
Toma-se um peru populista, de preferência bem nutrido. Bota-se em água a ferver, depena-se muito bem e esfrega-se com alho, salsa e fuligem.
Seguidamente, retira-se-lhe a barba (sai sem dificuldade porque é rala) e demais adereços inúteis.
Se o sujeito começar a espadanar é conveniente ferrarem-lhe algumas tapas. Conferem algum ambiente e abrem o apetite.
Bota-se o peru populista num pirex de dimensões generosas e junta-se-lhe batata nova (ou semi-nova) e, mais ou menos, 20 quilos de banha.
Como já tinha aconselhado, não convém pôr muita para aproveitar a gordura do galiforme. Para ornamentar pode ficar ao vosso critério, mas proponho que se lhe despeje o saco de batatas, juntamente com o resto do seu conteúdo em cima. Aposto que todos vão gramar à brava! Nomeadamente, a pequenada.
Recomendo, também, que se lhe junte molho tártaro e muito vinagre na expectativa de que liguem horrivelmente mal com algum resto de fuligem que possa ficar alojado nas virilhas ou atrás das orelhas que são partes escondidas e, por consequência, mais difíceis de limpar.
Polvilha-se com vinte quilos de coentros picados "et voilà" (não sou apologista de estrangeirismos, mas acho que esta expressão vem muito a propósito)!
É possível que o peru populista se sinta um bocado marfado e ofereça alguma resistência à entrada no forno. Todavia, ao contrário do que possam pensar, isso é sinal de que tudo corre pelos ajustes e o assado vai ficar bem apurado.
Portanto, e em jeito de conclusão, se ele conseguir escapar, pois que escape! O apreciador mais exigente pode, mesmo, ajudá-lo a fugir com meia dúzia de biqueiros no cu.
Quando já só se vislumbrar a sua silhueta depenada e gordurenta no horizonte, desliga-se o forno, parte-se o pirex, deita-se tudo para o lixo, canta-se, naturalmente, o "Tocam os sinos", preparam-se umas sandochas de mortadela, abre-se um tetrapack de vinho tinto rascante Camilo Alves (passe a publicidade), mandam-se os putos para a cama e passa-se a consoada a contar anedotas do Bocage. De preferência, daquelas muito porcas. Espero que gostem.
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