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OS BRAÇOS

por João Castro e Brito, em 12.07.23

manguito.jpg

Talvez você não saiba, mas debruçarmo-nos sobre os braços tem que se lhe diga e passo a explicar: um braço divide-se em duas partes: o braço, propriamente dito, e o antebraço, articulados entre si pelo cotovelo.
Analisemos cada uma dessas partes, separadamente, só para evitar confusões: o braço destaca-se do ombro e termina na articulação do cotovelo, certo? Assim, forma com o tronco um ângulo chamado axila, o qual serve para fazer cócegas e transpirar muito.
Quanto ao cotovelo, trata-se de uma espécie de dobradiça que impede que o antebraço fuja pra fora, permitindo somente movimentos como, por exemplo, um manguito*.
A propósito do cotovelo, importa referir que há gente que padece de uma doença muito comum, chamada "dor de cotovelo", para a qual não existem analgésicos.
Em relação ao antebraço, a sua função é evitar que a mão fique suspensa do cotovelo que, como toda a gente sabe, a acontecer, seria uma grande chatice.
O antebraço articula-se com a mão através do punho que pode ser de renda ou de ferro. Em ambos os casos é preciso ter pulso.
Tal como nas pernas, os braços dividem-se em direito e esquerdo. Penso que toda a gente sabe disto.
Para além dos dois braços, que estão ligados ao tronco (nunca é demais enfatizar), há a considerar outros: o braço-de-preguiça que é uma planta muito indolente; o braço de prata que é uma estação de comboios; o braço da justiça que é lento a condenar patifes poderosos e lesto a fazê-lo aos fracos; o braço-de-ferro que é quando alguém defende a sua dama com unhas e dentes, et cetera.
Os braços não se vendem. Quando muito, dão-se; e como é bom andar de braço dado, santo Deus!
Os braços são muito úteis para os seres humanos, embora não sejam imprescindíveis. Quem não tem braços caça com as pernas, como é curial dizer-se.
Além disso, para andar, as pernas, que já tive oportunidade de abordar em artigo anterior, dão muito mais jeito. E quanto mais compridas forem, melhor porque podem-nos safar de situações embaraçosas.
Quando estamos a braços com um problema, das duas uma: ou cruzamos os braços ou não baixamos os braços. Não existe meio termo.
É com os braços que envolvemos as pessoas de quem gostamos; neste particular utilisam-se os braços bem abertos e desejosos de apertar. Daí chamarem-se abraços apertados.
São os braços que transportam as mãos levando-as aonde são necessárias (faites la liaison...).
É também com os braços que esbracejamos quando estamos à rasca. Por exemplo, quando ficamos sem pé dentro de um ambiente líquido, sem sabermos nadar. Aqui, as pernas compridas podem fazer a diferença.
Diga-se, ainda e em abono da verdade, que cem braços são, regra geral, cinquenta pessoas.
A braça, ao contrário do que se possa imaginar, equivale (equivalia ) a 1,82882 metros e a braçada é o movimento dos braços, na natação, mas também pode ser um braçado.
A bracelete é um braço pequenino, mas também pode ser uma armela ou uma ramela (anagrama).
E fica, desde já, assente que um sujeito canhoto jamais será o braço direito de alguém.
Ossos: o braço possui, pelo menos, três ossos: o cúbito que é o osso do cotovelo e o que dá mais dores quando a gente recebe uma cotovelada em cheio, o úmero que é um osso muito homérico, e o rádio que, por sinal, só foi descoberto em 1902 por Marie e Pierre Curie.
Por último, nunca dê o braço a torcer senão aleija-se!
(*) A título de curiosidade, o Zé-povinho e o seu famoso manguito é uma criação de Raphael Bordalo Pinheiro. Património da tradição humorística Nacional, é um símbolo da resistência popular contra a opressão e os abusos do poder. O Zé-povinho teve a sua primeira aparição no jornal humorístico “A Lanterna Mágica “, no ano de 1875 do século dezanove.

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AS PERNAS

por João Castro e Brito, em 05.12.21

as pernas.jpg

Por razões que a própria razão desconhece, e sublinho que desta vez não se trata de razões do coração, apeteceu-me escrever sobre as pernas. Para quem não sabe, em princípio, são duas; e não confundam a expressão com o acto de escrever em cima das pernas (ou dos joelhos, como vos aprouver). A propósito, é um (mau) hábito que tenho, mas é assunto que poderei abordar noutra altura.
Então, em relação às pernas propriamente ditas, poder-se-á afirmar, com algum rigor científico, que só existem dos joelhos para baixo. Se se pretender confirmar tal evidência num sentido estrito, então, teremos de admitir que efectivamente as pernas começam na bacia e terminam nos pés que também são dois até ver.
As pernas, à semelhança de outras partes do corpo, podem classificar-se de duas maneiras: localização relativa e forma. Relativamente à localização ou localização relativa que não é a mesma coisa que localização absoluta – já descrita nos primeiros parágrafos – , temos as pernas esquerda e direita.
Já foram relatados casos em que existe mais uma perna: a do meio, mas isso será tema para outro artigo; uma coisa mais elaborada, lá mais para a frente. Assim a memória não me atraiçoe.
É fácil distinguir quais são as pernas direita e esquerda se, de antemão, estivermos habituados a escrever com a mão direita e a coçar uma orelha – habitualmente a esquerda que é onde se tem mais comichão (não tem explicação) – com a mão esquerda. Isto se a pessoa não for canhota porque se for, o caso muda de figura.
No respeitante à forma, as pernas podem ser perninhas; pernocas; pernões; pernaças; pernas-longas; pernas às costas; pernas para o ar; pernas de alicate; perninhas de rã; pernas de frango; pernas de peru; presuntos; et cetera.
As pernas, ou membros inferiores, não obstante serem maiores do que os membros superiores (geralmente), são constituídas pelas ancas, coxas, por si próprias e, naturalmente, pelos pés.
Uma perna sem pé, é uma perna coxa. Porém, um pé sem perna é um pé coxinho. Em ambos os casos há uma perna que é sempre mais curta do que a outra que se convencionou chamar de perna manca.
A articulação das coxas com as pernas é feita através dos joelhos que encerram as rótulas, elementos indispensáveis neste processo de ligação dos ossos, sem as quais estaríamos constantemente a dar pontapés na testa, o que convenhamos, não seria nada agradável! Para esse efeito existem as canelas que não são propriamente uma especiaria, mas antes aquele espaço entre os pés e os joelhos, esse sim, apropriado para levar caneladas.
Os pés merecem, ainda, uma referência especial, como é óbvio, embora me faltem as palavras para explicar os motivos de tal obviedade.
Independentemente de serem grandes ou pequenos, podem ser chatos; de galinha; de galo; de lã; de atleta; de meia; de bailarina; de dança; de elefante; de lótus; de feijão; de salsa; de cabra; de chumbo; de pato; de igualdade e de cereja. Isto para não dizer dos tão apreciados pezinhos de coentrada e de leitão.
Trata-se, também, de uma zona anatómica que, às vezes, gera alguma confusão nas pessoas menos esclarecidas. E porquê? – perguntam vocês com toda a propriedade. Porque, com efeito, as partes baixas do corpo são os pés e não as partes pudendas, como erradamente devem ter presumido.
A talhe de foice, os pés articulam-se com as pernas através do calcanhar de Aquiles (em princípio são dois ou seja: um em cada pé). No entanto não se pode esquecer o papel complementar e determinante do tendão de Aquiles (igualmente dois, até ver) em qualquer acção locomotriz dos membros inferiores.
Quanto à utilidade dos pés, vou ter de pedir a vossa ajuda para fazermos a seguinte experiência:
Façam o favor de não se sentarem, ou se estiverem sentado(a)s, levantem-se. Em seguida avancem, naturalmente, a perna direita cerca de vinte centímetros. Se já fizeram esse pequeno movimento pedestre, acabaram de dar "um pequeno passo para o Homem".
Agora, avancem lentamente a perna esquerda cerca de três metros. Já está? Em linguagem coloquial, deram "um salto gigantesco para a Humanidade".
Finalmente, movimentem alternadamente uma perna e outra, tanto para trás, como para a frente. Podem até recuar estrategicamente um passo para dar dois à frente, enfim, fica ao vosso critério.
É para o que as pernas servem: para andar; tanto para trás, como para a frente e, em certas circunstâncias, para o lado, como facilmente depreenderam; e também deduziram que esta coisa da anatomia é uma grande pepineira.
E pronto; se quisermos e tivermos muita força de vontade, podemos fazer muita coisa com uma perna às costas ou até com as duas.
Resta a velha e sacramental exclamação: Pernas pra que vos quero!

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