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UMA NO CRAVO

por João Castro e Brito, em 21.08.21

silêncio vai-se cantar o fado.jpg

Não costumo estar atento aos sermões habituais, que nos dão os fazedores de opinião, sobre o estado da Nação...bem, pelo menos de alguns. Tenho de confessar que também sou um bocadinho tendencioso, mas quem não é?
Às vezes, lá arranjo um pouco de paciência para prestar alguma atenção ao que escrevem e falam os da "concorrência", não obstante antecipar o que sai das suas cabeças, pois é matéria tão recorrente que, às vezes, até se torna doloroso ouvi-los. Todavia, a maior desatenção ao paleio do "inimigo" não significa que o discurso dos do lado de cá da barricada seja mais apelativo; isto que fique bem claro! O chato disto tudo é que o palratório é chapa cinco; já o oiço e leio há décadas. E o diapasão pelo qual afinam, uns e outros, parece ter o mesmo padrão; enfim, com algumas nuaces ideológicas; cada um a defender a sua dama, obviamente, mas, cada vez, mais me convenço de que se estão marimbando para o pagode. Será que ainda pensam que estamos no tempo em que era possível enganar a malta com papas e bolos?
Contudo, mal por mal, antes estes do que os que nos roubaram, com despudor, no tempo da coligação PAF, para, segundo eles, "não hipotecar o futuro de Portugal"...
Julgo que, para se ser político, não se pode ser nobre. Pelo menos neste país. Os exemplos de políticos nobres não fazem a regra, infelizmente.
Mas, ainda em relação a alguns fazedores de opinião, acho que, com a sua aparente capa de inocuidade, permitem-se dizer coisas que outros não podem dizer, ou fazer, embora interiorizem, sob risco de falharem a "progressão na carreira".
Assim, de prudência em prudência, vão-se desviando das pedras soltas da calçada. É claro que há sempre um ou outro que sobressai da monotonia das cautelas e caldos de galinha e não as evita, sem pensar que tem telhados de vidro.
Um discurso conhecido, do seu dedicado amor à Pátria e aos portugueses, era o elogio que faziam, nos anos da trindade Cavaco-PAF-TROIKA, aos credores (vulgo agiotas) e o apelo sistemático ao sacrifício colectivo, sob pena de nos serem aplicadas sanções ainda mais onerosas. Davam uma no cravo e outra na ferradura, escondendo-nos as negociatas que se faziam nos bastidores; os favorecimentos; as ligações nacionais ao "Panama Papers", et cetera.
Houve um, mais inteligente... não, não foi o Barroso, o tal da tanga, que foi gerente dum banco que quase levou um país à falência e agora arranjou mais outro tacho como presidente da Aliança Global para as Vacinas. Este é outro que resolveu abandonar o barco em "boa altura". Mais uma vez a pensar, quiçá, em novos voos a longo prazo. O tempo é a sua arma, contando com a nossa "mirífica" memória curta, talvez, num regresso triunfal à liderança do partido que deixou entregue a uma gaiata e depois a um puto quase lampinho. Sim, esse mesmo: o ainda vice-presidente da Câmara de Comércio que, em 2016, andava numa relação de amor com os irmãos Castro (os cubanos). Até gabava os "papões comunistas", afirmando, para quem o quisesse ouvir, que a sua "ideologia não é ideológica, mas, antes, pragmática". Um espertalhão das dúzias...
Passos Coelho é outra história; é um revanchista dos quatro costados; doeu-lhe muito perder o emprego de primeiro ministro que lhe assentava tão bem. Nomeadamente quando ia prestar vassalagem à senhora Merkel, cada vez que obrigava os portugueses a abrir mais um furo no cinto, cumprindo, assim, de modo escrupuloso, as determinações da senhora e dos seus banqueiros. A "geringonça" ficou-lhe atravessada de tal modo que, sem embargo do drama familiar por que tem passado - presumo - , aparentemente, vem cheio de entusiasmo para atacar à esquerda e à direita, justamente, as hostes apoiantes de Rui Rio. E tem gente de peso, dentro e fora do seu partido, que pensa como ele: Cavaco, Santana Lopes e os passistas do PSD que esperam pela grande oportunidade....
No entanto, na minha modesta opinião, penso que Passos Coelho tem um défice de inteligência abismal em relação a Paulo Portas. Consequentemente, passados estes anos, perdeu a memória e o discernimento, atacando a torto e a direito sem pensar que impugnou a própria governação, nomeadamente, a do último ano do seu mandato. É claro que os indefectíveis da famigerada coligação recorrem invariavelmente ao bode expiatório do costume: Sócrates, outra figura trágica, pela qual também não nutro simpatia de qualquer espécie, como o grande culpado da nossa desgraça.
Voltando a Portas, penso que finge não se interessar pela política partidária, mas estarei cá para ver, mais uma vez, se  é, ou não, irrevogável. Até posso estar enganado...

 

 

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VEM

por João Castro e Brito, em 29.10.19

vem.jpg

Segundo o meu ponto de vista, que até pode estar desfocado - admito - , foi um programa de sucesso duvidoso, do governo de coligação PAF, de má memória para a generalidade dos portugueses:
Até à descoberta desta "ideia genial", o governo de então, pela voz de um membro do seu elenco, tinha exortado as pessoas desempregadas a mudarem de vida, procurando convencê-las a sair da sua "zona de conforto".
Tal apelo havia sido feito por um "boy" imberbe,  Secretário de Estado da Juventude e Desporto, que se dirigia, assim, a uma plateia de jovens luso-brasileiros em São Paulo:
"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Observação infeliz que se tornou viral, pela boca de alguns governantes, entre os quais, Passos Coelho.
O rapazinho, quiçá acabado de sair da universidade e alavancado para um cargo muito bem remunerado no ministério, por obra e graça, não de Deus, tampouco do Espírito Santo (deste último, sob reserva), falava assim, de barriga cheia porque sabia que jamais faria parte de uma geração sem saída e, por conseguinte, sacrificada em nome da sacrossanta importância do dinheiro...
Rapazinhos como ele, que pululavam e continuam a pulular na política, terão sempre o futuro assegurado, independentemente da organização partidária onde militam, de tal modo que a saída da "zona de conforto", para eles, sempre foi (e será) algo irrisório.
Na altura, com as legislativas à porta, a mesma canalha que encorajava os portugueses a procurarem emprego no estrangeiro, aprovava uma coisa artificiosa designada, por Valorização do Empreendedorismo Emigrante (VEM).
É claro que não passou de um logro destinado a tapar o sol com a peneira, com a falsa pretensão de apoiar o regresso daqueles que tinham sido escorraçados de Portugal:
”Não são projectos de dez ou vinte mil euros que me vão fazer regressar” - dizia uma jovem enfermeira (entre muitos outros compatriotas altamente qualificados) portuguesa de 30 anos a trabalhar na Inglaterra.
Ora, sabendo-se da existência de centenas de milhares de novos emigrantes a engrossarem a eterna diáspora nacional desde Sócrates (lembremo-nos das promessas desse, também, inenarrável ex-primeiro ministro do PS com relação aos eleitoralistas "150 mil novos postos de trabalho para jovens licenciados"), agravada tragicamente com a crise global de 2008 e as consequentes políticas de contenção e saque do governo de Passos Coelho e Portas, tudo feito com o beneplácito régio dos agiotas da TROIKA, era um apelo tão miserável que roçava o ridículo! No mínimo, detraía a nossa integridade intelectual.
O actual governo aprovou recentemente um programa, não sei se similar, chamado Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora (PNAID). Pelo menos, a sigla não está sujeita a interpretações obscuras como pareceu ser o caso de "VEM", pois só faltou o hífen e o "TE"...

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DISCURSO INDIRECTO LIVRE

por João Castro e Brito, em 07.08.15

discurso.jpg

Agora, estamos bestialmente melhor! O país já começa a colher os dividendos do corte substancial nos salários e pensões dos contribuintes.
Há mais emprego, mais saúde (os hospitais e centros de saúde foram autorizados a comprar papel higiénico), melhor educação e mais justiça.
A corrupção é diminuta, melhoraram os apoios sociais, há mais gente satisfeita, as exportações vão de vento em popa e, imagine-se, o Algarve está a abarrotar de gente!
Tudo isto como resultado do compromisso que assumiram com Portugal de que vão trabalhar com esforço empenhado para transformar a nossa economia numa das dez mais competitivas do mundo na próxima legislatura. Verdade?! Até eu estou perplexo!
Porém, nada está concluído porque isto é só uma projecção para os próximos quatro anos. Contudo, garantem que a caminhada vai prosseguir no sentido de guiar os portugueses, sem excepção e sempre irmanados no mesmo espírito, como tem sido atributo do governo, até um final muito feliz.
É óbvio que o governo tem todo o empenho em reconquistar o coração dos portugueses e, por conseguinte, ser muito querido enquanto durar a campanha eleitoral. Aliás, é perceptível a olho nu - basta abrir os olhos - que estão mais descontraídos na sua relação com o governo; já não o recebem com duas pedras na mão, não obstante andarem com a pedra no sapato desde que o Primeiro Ministro quebrou todas as promessas eleitorais que havia assumido publicamente.
Mas, aqui fica a habitual pergunta de retórica: não é o que todos os políticos fazem? Não é inédito, n'é verdade? Todavia, juram sempre pela sua imaculada honra que a última coisa que farão é atirar a pedra e esconder a mão e tampouco revogarão, de ânimo leve, a tomada de decisões irreflectidas que venham a tomar, no sentido de não pedir mais sacrifícios aos portugueses!

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