"Será que as melgas: insectos dípteros, nematóceros, de distribuição cosmopolita – de acordo com qualquer enciclopédia boazinha – podem ser avaliadas como sendo produtos descartáveis, da mesma forma que alguns artigos de higiene pessoal como, por exemplo, o papel higiénico; o sabonete; os cotonetes ou até o vulgar penso rápido (não confundir com velocidade de pensamento), como é pretensão de alguns sectores mais conservadores da sociedade?
Na minha modesta opinião, estou em crer que não. As melgas foram sempre bens de primeira necessidade. Aliás, se me permitem a ousadia, as melgas foram e são um indicador seguro do nível social, cultural e económico de um país.
Nas sociedades mais industrializadas e, por consequência, mais desenvolvidas, chegam-se a atingir níveis da ordem das 50 melgas por metro quadrado per capita, por noite, nomeadamente no pico do Verão.
No norte da Europa, onde erradamente se presumia que as melgas não tinham capacidade de sobrevivência aos frios rigorosos do Inverno, estes simpáticos bichinhos conseguiram adaptar-se admiravelmente aos elementos, ultrapassando, mesmo, as expectativas mais optimistas. Em Portugal dificilmente se conseguem ultrapassar as 2-3 melgas no mesmo período; mesmo com as janelas escancaradas! E porquê? Porque existe no mercado uma panóplia de substâncias que são utilizadas indiscriminada e desapiedadamente no combate a estas inocentes criaturas.
A verdade nua e crua é que, no que a tal matéria concerne, continuamos na cauda da União Europeia.
Se ainda pretendemos apanhar o comboio das nações mais desenvolvidas da UE, e saliento que agora só em andamento, temos de repensar seriamente o repovoamento territorial ordenado das melgas. É de primordial importância a participação de todos os portugueses na conservação das espécies autóctones nacionais.
Os fundos da UE, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) garantem-nos, aqui, uma oportunidade ímpar para proteger estes pequenos e frágeis insectos em vias de extinção.
O contributo de todos é importante para travar este êxodo trágico, desde a simples partilha da iniciativa em blogues e redes sociais até ao planeamento de actividades a nível local.
É verdade que os sucessivos governos pós-25 de Abril têm apregoado aos quatro ventos o seu empenhamento na resolução deste problema, mas não têm passado de boas intenções.
Para promover um desenvolvimento sustentável e uma disseminação planificada das melgas pelo país, é essencial criar-lhes condições de sobrevivência e ir para além disso, garantindo-lhes qualidade de vida.
Não se deve pensar na existência de melgas, exclusivamente, no Verão. Há que mudar as mentalidades e os hábitos. Urge fomentar a insalubridade dos rios, ribeiros, poços, valetas e charcos, nas cidades e nos campos; começar, já, no próximo Inverno. Não há tempo a perder!
É indispensável muita firmeza e inflexibilidade para pôr fim às iniciativas irresponsáveis de algumas organizações pseudo-ambientalistas (optei por não nomeá-las porque é chato) que querem punir empresas que não tratam as águas residuais, não eliminam lixeiras a céu aberto e outras merdas muito foleiras – como é apanágio de todas as merdas, aliás.
Não é só uma questão de economia ambiental mal gerida, é também política. Só o alargamento da influência das melgas a todas as camadas sociais trará benefícios para todos e constituirá uma defesa intransponível contra as tentações totalitárias de alguns sectores mais populistas da sociedade. Avançar com medidas isoladas, só para conquistar votos, é pura demagogia e um atentado infame à classe média! Já para não dizer das outras classes mais abaixo, coitadinhas!
As melgas são o garante real de um futuro promissor para os nossos filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos e por aí adiante até à quinta geração. Quem vier atrás que feche a porta (agora bloqueei porque não sei se é quem vier atrás ou depois).
Contudo, a indiferença com que os poderes têm tratado este assunto tão delicado, tão primordial e, por isso mesmo, fundamental para a nossa sobrevivência como Nação, una e indivisível, poderá vir a constituir o fim da picada.
Tem de se legislar, antes que seja tarde.
Não acreditem em tudo quanto de mal se tem dito e escrito sobre as melgas, como algumas frases batidas tipo "grande melga!"; "melga do caraças!" ou ainda "já não consigo aturar aquela melga!". São maledicências, não liguem! Vivam as melgas, as melgas são nossas amigas e são umas queridas!"
Nota breve: Este artigo foi escrito pelo Presidente da ala esquerda do lado direito do PM (não confundir com Partido das Melgas, é mesmo Partido do Meio como certamente presumiram e muito bem).