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PLURAIS E CONJUNTOS

por João Castro e Brito, em 01.10.21

a minha pátria é a língua portuguesa.jpeg

A língua portuguesa foi sempre o meu calcanhar de Aquiles, não obstante ter tirado excelentes notas a aritmética na primeira classe. Todavia, penso, aliás com alguma legitimidade, que quem renova a língua ou melhor, a mantém viva é o povo e não alguns "doutores" que celebram acordos ortográficos à porta fechada.

Vem este pequeno intróito a propósito de nunca ter entendido a lógica de não se poder chamar os bois pelos nomes. Parece que há um certo escrúpulo em fazê-lo e ainda não percebi a razão de tal inibição. Porém, isso será assunto para outro artigo que publicarei mais adiante. Às vezes divago e perco-me que é quase a mesma coisa. Queiram aceitar o meu pedido de desculpas.
Então, vou debruçar-me sobre os plurais e conjuntos de alguns mamíferos, entre os quais nos incluímos, como é natural. Começo pelo chacal: chamar ao plural de chacal, chacais e não poder utilizar o mesmo princípio para o plural de cavalos (cavais), é uma enorme incongruência. Está certo que também pode ser uma forma do verbo cavar e daí? O que não falta na língua portuguesa, são palavras homónimas e ambíguas que podem induzir juízos precipitados nos espíritos menos atentos.
Prosseguindo o raciocínio com que iniciei esta dissertação, também não compreendo por que carga d'água o plural de leão não é leãos ao invés de leões. Logo, o plural de cão devia ser cões e afinal é cães. Pela mesma ordem, o plural de leão até podia ser leães ou leais, porque não? Mas, não! É, incompreensivelmente, leões, ponto final. É uma pena!
Se pensarmos bem, e matutar nisto gera uma confusão mental do caraças, o plural de chacal devia ser chacões, chacães, ou chacalos, mas, uma vez mais, contra toda a lógica, é chacais. Assim sendo, o plural de cão, devia ser cais, cãos, ou mesmo calos, mas não é. Mais uma vez, tenho pena.
Agora, concentremo-nos na noção de conjunto que, na minha modesta opinião, pode ser que facilite a compreensão do texto que - reconheço - é um bocadinho confuso. Ora, toda a gente sabe que um conjunto de porcos é uma vara. Até uma criancinha sabe. Nesse caso, por qual razão é que um conjunto de touros não é uma táurea e é, antes, uma manada? Onde é que foram buscar o raio do termo? Então, um conjunto de camelos devia ser uma camála, não? Mas não é; é uma cáfila, imaginem!
Um conjunto de lobos em fila indiana devia chamar-se uma lupusfila e não uma alcateia. Pelo que um conjunto de cães devia ser um canídelo e, afinal, é uma matilha. Donde se deveria inferir que um conjunto de bestas devia ser uma bestilha, sendo que é uma récua. Ainda, se fosse uma récua-tê vá que não vá!
No que nos diz respeito, pois, como têm lido até agora só me tenho referido aos mamíferos quadrúpedes (não confundir com gente estúpida), deixando-nos para último lugar, as coisas são bastante mais fáceis de compreender. Assim, o plural de homem pode ser homens, gajos, tipos, gandulos, filhos de pai incógnito, filhos da mãe e filhos da outra. Na mesma linha, um conjunto de homens pode ser um grupo, uma manada, uma cáfila, um bando, uma corja, uma cambada, uma maralha, uma quadrilha, um gangue, uma manifestação, uma concentração, uma multidão, et cetera.
Num próximo artigo, voltarei a este tema, mais propriamente sobre botões, colchetes e afins, mas, exclusivamente, a pedido, pois não gosto de escrever para o boneco.

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TENHO A PALAVRA

por João Castro e Brito, em 29.10.20

a minha pátria é a língua portuguesa.jpeg

"A minha pátria é a língua portuguesa" - disse Pessoa que também se expressou em língua inglesa, coisa que considero muito irritante. Só para não dizer ultrajante que é chato. Que eu tenha conhecimento, Shakespeare nunca se expressou em português e isso, sim, é um verdadeiro insulto à língua lusa!
Tirando esta fatuidade, o Poeta é uma figura pela qual nutro muita simpatia, não obstante os meus descomedimentos. É este meu impulso para abexigar vultos da nossa História: os maiores e os menores. Os maiores por amor e os menores por dedignação. Aqui, Pessoa por particular carinho; e Pessoa foi pessoa de importância. Até porque também sou um insatisfeito com o tempo presente, como ele foi com o tempo passado, e ainda sonho com um destino grandioso para o meu país. Sei que é um sonho quase tão utópico como, por exemplo, a conquista de mais uma taça dos clubes campeões europeus pelo "glorioso" (actual liga dos campeões), mas nada está oculto que não venha a ser revelado, segundo São Marcos que, já no seu tempo, jurava solenemente ter visto a luz tantas vezes, ficando-se sem saber se teria sido ao fundo do tunel ou na segunda circular.
Portanto, a mística não morreu, está adormecida. Falta cumprir-se o nosso fado (ou desígnio) que nem sempre se traduz por uma fatalidade; nem todos os fados dão para chorar, por mor da santa!
Por conseguinte, que me perdoem os e as indefectíveis do legado literário de Fernando Pessoa e que me perdoem, também, a paráfrase com que iniciei este texto...
Com efeito, a língua é uma alquimia de palavras que constituem uma filigrana de emoções, ideias, memórias, mitos e realidades. Portanto, é essa mistura que forma o temperamento de um povo e é a essência da sua identidade. Dissociar Fernando Pessoa dessa essência pátria, penso que seria o maior dos desrespeitos.
Serve este curto manifesto para dizer que, tendo consciência das minhas profundas limitações intelectuais, não estimo menos a minha língua. Espero que quem a ama tanto ou mais do que eu e que, obviamente, aprecie o que escrevo, perdoe algumas gaffes ou imprecisões que cometa naquilo que vou publicando. Sei que são muitas e que passo a vida a reeditar escritos. Obviamente que aceito críticas que me ajudem a corrigir o que está mal. Sobretudo das pessoas que têm mais conhecimento e que, sem embargo da sua sabedoria, não as ostentem de maneira arrogante, como se já tivessem aprendido e apreendido tudo. Tolos dos que incham de erudição e tolos dos que lhes alimentam tais veleidades. Sejam felizes, a despeito deste ano que tem sido tão difícil para todos...

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