Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A GATA BORRALHEIRA

por João Castro e Brito, em 13.06.22

a gata borralheira.jpg

Quando a Fada Madrinha lhe ofereceu um lindo vestido e pôs à sua disposição uma carruagem puxada por seis fogosos cavalos, estava longe de supor que eram para ir ao baile de debutantes no Palácio do Príncipe Real. Aquilo foi uma visão tão linda e tão fantástica que até teve receio de se beliscar, não fosse desvanecer-se e acordar novamente para a sua rotina diária na cozinha. Se ao menos fosse chef, vá que não vá!
Todavia, naquele momento tão sublime, pôs de lado a cruel realidade.
Finalmente, tinha chegado a sua hora feliz. Porém, havia uma condição essencial que a Fada Madrinha lhe impusera: tinha de regressar à meia noite em ponto – nem mais nem menos um minuto – , altura em que o feitiço findaria.
As fadas são muito exigentes e, às vezes, pecam por excesso de rigor e até são capazes de acabar com tudo na melhor altura. E muito boas são elas porque, quanto às fadas más, então, não sei se vos diga se vos conte!
Já ia na enésima dança com o Príncipe Real, cheia de contentamento, quando começaram a soar as doze badaladas provenientes da torre do relógio. Precipitada, a Gata Borralheira, desatou a correr escadaria abaixo e desapareceu na noite escura e negra – passe a redundância – como breu. Contudo, na retirada apressada, deixou cair um dos sapatinhos que, por qualquer razão, desconhecida da própria razão, não se esfumou com a cessação do encantamento.
Desvairado, o Príncipe Real (já chateia estar a repetir Príncipe Real!), procurou por todo o reino e arredores a dona daquele precioso sapatinho.
Depois de muito buscar, o PR, acabou por chegar à mansão onde morava a Gata Borralheira.
O sapatinho foi finalmente experimentado, sucessivamente, nas suas duas manas, inclusive na madrasta – que era gorda e muito feia, sublinhe-se – , nas criadas de quarto e, por último, na própria. Nada. O calcante não serviu em nenhuma.
Na tentativa desesperada de tranquilizar o espírito, o PR resolveu experimentar o sapatinho no pé do Jacinto, o moço da estrebaria e...milagre dos milagres! Entrou, perfeitamente, no pezinho delicado do rapaz que nem uma meia de seda (se fosse que nem uma luva ou uma meia-desfeita, saía fora do contexto).
Assim, lá foram ambos de mãos dadas, alegres e felizes, a caminho do Palácio do PR (não confundir com o Palácio do senhor Presidente da República).
Nas coisas do amor, o PR não era nada esquisito.
Adaptação muito parva de um conto infantil(*), de Charles Perrault, com o título em epígrafe.
(*) - Peço encarecidamente desculpa a todas as crianças.
 

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D