A origem desta frase é muito mais antiga do que parece e, segundo o meu ponto de vista que até pode estar desfocado, talvez derivado de algum cansaço visual, vou tentar explicar porquê:
Segundo o calendário gregoriano(1*), esta expressão data de tempos afonsinos, sendo, pois, uma frase de origem bíblica. Arriscaria, até, afirmar que é antediluviana. Mas vamos por partes porque não gosto de estar com partes senão ainda me mandam àquela parte.
Passarei, então, à descrição dos factos, tal como eles deviam ter figurado nos livros sagrados, se não tivesse havido um pequeno erro tipográfico; uma espécie de página em branco que me obrigou a improvisar. Peço, desde já, desculpa por alguns anacronismos (normais neste género de estórias; pelo menos nas minhas).
Como é do conhecimento público, Jesus de Nazaré tinha um grande amor por todos os trabalhadores, sobretudo os manuais. O próprio, antes de se dedicar a pregar o Evangelho segundo Ele, exercera o ofício de carpinteiro, que seu pai adoptivo(2*), José, lhe ensinara desde tenra idade, facto donde proveio a velha máxima: "de pequenino é que se torce o pepino".
Por isso e porque tinha uma grande preocupação social e, por conseguinte, uma consciência política prodigiosa e, obviamente, ímpar para aquela época, gostava de visitar e conversar com o operariado. Pode-se considerar, sem exagero, que foi, talvez, o grande precursor do sindicalismo revolucionário depois Dele, a grosso modo...
Certo dia, em visita à região de Estremoz a convite de um compadre e correligionário, Jesus parou junto a uma pedreira onde esforçados homens trabalhavam o mármore. Estacou bem perto de um deles que logo caiu de borco, aparentemente encantado com a magnífica presença do rabino; e Jesus disse: «Que fazes, camarada? Levanta-te e anda!
Sou lá pessoa de reverências, homem de Cristo?!», ao que o trabalhador retorquiu: «Mestre, este é o meu mester; só que tropecei nestas pedras e caí!», e erguendo-se com as lascas marmóreas na mão(3*), exibiu-as para que o carpinteiro as contemplasse. Jesus disse: «Não ouses falar para mim com duas pedras na mão porque todo aquele que tiver telhados de vidro, entrará no Reino do Céu pelo buraco de uma agulha (vulgo buraco negro)! Ademais, transformá-lo-ei numa estátua de sal, se se atrever a olhar para trás, mesmo de relance! No entanto, como a vindicta não me compraz, ao contrário do que muita gente pensa, perdoarei ao sacana que negar o meu nome, mas só na condição do galo cantar três vezes! Se o galo não cantar, tenho pena!
Portanto, quem não está comigo está contra mim (uma grande verdade)! E quem estiver comigo jamais em tempo algum estará sozinho (lógico e redundante)!»
Ouvindo isto, o trabalhador, temeroso e simultaneamente maravilhado, arremessou uma das pedras para longe, ficando conhecido, na história da cristandade, como aquele que atirou a primeira pedra.
O Cavaco só lançaria as "Pedras Preciosas na Arte Sacra em Portugal" muitos séculos mais tarde.
(1*) O calendário gregoriano foi promulgado pelo Papa Gregório XIII, se a memória não me falha, em 1582. Daí ter surgido a frase corrente: "chamar o Gregório", da qual não se consegue extrair qualquer relação com o calendário.
(2*) A fazer fé nas sagradas escrituras, deduz-se que José não foi o pai biológico de Jesus, uma vez que o "Filho de Deus foi concebido por obra e graça do Divino Espírito Santo" na pessoa de Maria de Nazaré que se manteve virgem até ao final dos seus dias. Ademais, os testes de paternidade, nesses tempos recuados, ainda estavam pouco desenvolvidos e não eram comparticipados pelo SNS, por conseguinte, só Deus sabe...
(3*) Não se sabe, ao certo, se teria sido a mão direita ou a esquerda, mas penso que é irrelevante para a estória.