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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
- Mamã, não sei o que lhe deu! Amo-o tanto, tanto e ele continua a defender tudo! Repara, mamã, que não há meio de tomar a decisão pela qual anseio há tanto tempo! Mais valia que arrumasse as botas porque o que é demais é moléstia e ele tem demonstrado que trocar os pés pelas mãos deixa marcas que não se podem apagar!
O que mais me chateia, mamã, é que quando tento aproximar-me dele, rechaça-me para lá da linha de cabeceira e exige garantias de segurança e bola estável. Bem insisto! Contudo, ele defende todos os tentos!
Já experimentei ir à figura, mas ele afasta-me sempre com as pontas dos dedos. Nem sequer me sinto indefesa! Achas que esgotei todos os recursos, mamã?
- Escuta, filha, pelo que me contas, creio que, idealmente, terás de treinar muito as jogadas de antecipação. Movimentas-te ao primeiro toque, conduzes as pontas de lança pelo miolo do terreno e obriga-lo a vários golpes de rins.
Como se não o conhecesses, valha-te Deus, minha filha! Sabes que ele só resiste até um determinado momento porque, lá no fundo da rede, adora ser batido. Se seguires o meu conselho, pode ser que consigas dominar o histérico e mitigar o prejuízo que se adivinha. Oxalá esteja enganada e não tenhas de correr muito atrás dele (do prejuízo). Ao prosseguires com esta estratégia, ele vai ter de te marcar à zona; não tem outra alternativa. Se falhares, serás obrigada a mudar de flanco, parando no peito e tentando meter na pequena área. Batido, ele nada pode fazer senão carregar-te à margem regulamentar. Se tal acontecer, tens de fazer vista grossa. Caso contrário, vais beneficiar o infractor. Prevejo que, com esta estratégia, talvez possas conseguir um empate ao fim dos primeiros 45 minutos. Será preferível a este arrastamento sem justificação. Agora, se continuar tudo por definir até ao final do tempo regulamentar, então, minha filha, só te resta jogar fora de casa porque esta coisa não pode prolongar-se ad aeternum!»
NPL: «Olá a todos. Escrevo esta cartinha em tom de desabafo porque receio enlouquecer com esta situação ambígua; é só por isso e sublinho que não é pouco! Passo a explicar: No início da nossa relação, corria tudo às mil maravilhas; ele, era amor para aqui e amor para ali, enfim, era amor por todo o lado. Confesso que, às vezes, ficava a pensar que o que era demais era moléstia! Até parecia que eu tinha mel; que coisa! Tanto amor assim, também enjoa! Penso eu! Se calhar estou errada!
Então, inexplicavelmente, tudo mudou de modo dramático. A minha vida ficou de pernas para o ar porque sinto que o meu Eládio me está a passar a perna. Também, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, n'é?!
Instalámo-nos, de pedra e cal, na nossa zona de conforto sem grande dificuldade, não tendo sido necessária, por isso, a ajuda dos papás. No entanto, o meu Eládio começou a tratar-me, faz algum tempo, com quatro pedras na mão e, inclusive, dá-me por paus e por pedras!
O meu Eládio, embora nunca tivesse recebido um Prémio Pulitzer, sempre foi um distinto jornalista. Não ganha por aí além, mas, até à data, tem dado para nos sustentar e, como referi, tem sido excedível no amor que me tem. Além disso, o meu Eládio tem cumprido exemplarmente com as suas obrigações conjugais e, se necessário for, até se supera. Só que, desde há pouco tempo para cá, é isto, sei lá!
Para cúmulo, até passou a trazer a secretária para casa ao fim do dia e faz-me passar vergonhas. Será que o raio do homem mudou de personalidade?
Suspeito que já não é o meu Eládio, que mora naquele corpo, credo! Só de pensar nisso até fico toda arrepiada!
A vizinhança cochicha, e com razão, porque é todos os dias a mesma barulheira a subir e a descer as escadas; já para não referir as paredes esmurradas! Inclusive, a dona Isaltina do rés do chão avisou-me, solenemente, que ia fazer queixa à polícia se a pouca vergonha continuasse e não vejo forma de a levar a reconsiderar.
Também sei, por portas e travessas, que o chefe da redacção desconfia que o meu Eládio anda com a sua secretária. Até a mamã, que não gosta de meter a colher, já jurou a pé firme (a mamã desfez-se do outro que era muito chato) que nunca mais põe o pé cá em casa. "Nem ao pé coxinho!" - garante e insiste, batendo o pé sem o arredar.
Pela minha parte tenho tido uma paciência de Job, mas começo a ter receio da minha reacção a esta desusada, senão bizarra, realidade...
Imaginem que há noites em que o meu Eládio comete a absurdez de trazer a secretária para a cama e dormir abraçado a ela com uma perna às costas; é inacreditável! Olhem, só visto! O que mais me choca é que fico sem reacção, feita parva, a assistir. Está bem que a cama é daquelas larguíssimas e, por conseguinte, dá para os três, mas não deixa de ser esquisito!
Não sei o que hei-de fazer; estou completamente desesperada!
Todavia, os meus amigos dizem-me que nem sequer é razão para divórcio! No entanto, gostava de saber a vossa opinião.
Em abono da verdade, posso adiantar que a secretária nem tem um volume por aí além: possui estrutura em ferro, tampo em fórmica, duas gavetas em cada lado e pesa, mais ou menos, setenta e cinco quilos. Contudo, não deixa de ser uma situação desconfortável. Por favor, ajudem-me!»
Natércia Pá Lopes
ER: «Muito fácil, Pá! Já que a cama é grande, seja ciosa e meta lá uma cadeira giratória com rodas e um desktop, só para fazer ferruncho ao seu Eládio!»
GFDP: «Bom dia. Não fossem vocês e a quem é que me havia de dirigir, valha-me Deus?!
Estou muito aborrecido e o caso não é para menos porque, caso contrário, não o encararia como um caso sério e garanto-vos que não foi um caso ao acaso. Em todo o caso, como não tinha mais ninguém a quem recorrer, lembrei-me de vocês por mero acaso. Então, aqui vai o caso:
Costumo passar férias em Armação de Pêra. Aliás, uma praia e peras, embora não goste de Armação de Pêra e também não vem ao caso. Em todo o caso, gostando ou desgostando de Armação de Pêra, trata-se de um caso de consciência porque, caso contrário, não era caso para recorrer aos vossos conselhos muito sensatos e prudentes (passe a redundância).
No fundo, a razão deste meu apelo não se prende com o facto de gostar ou desgostar de Armação de Pêra, como referi a despropósito. Com efeito, o caso é sério porque a minha esposa, que por acaso é espanhola (podia não ser, mas é), embirra solenemente com o topless. Ao contrário de mim que adoro ir à praia só para ver as mamas...perdão, manas de fora. As manas de fora são duas morenaças de estalo. Adoro vê-las aos saltinhos à beira-mar, fugindo graciosamente das ondas. São tão airosas e delicadas! A minha senhora é que teima comigo que aquello es una vergüenza y que nació en Santiago de Compostela y que yo quiero mucho libertinaje, etcétera.
Dígame, por favor, qué he de hacer para hacerla cambiar de opinión y ahora me expliquen el significado de la palabra "libertinaje", gracias!»
Gervásio Flores Dias Pires
ER: «Mira, Flores, en primer lugar, estamos en duda si tú estás pidiendo nuestro apoyo o el apoyo de Dios, porque entras aquí en contradicción. De todos modos te damos una respuesta porque no estamos aquí para nada más y es una pena que tu esposa no le guste el topless, porque nos encanta el topless. Pero tiene fe y esperanza y insiste con ella que no hay nada más hermoso y inocente que mirar unas hermanitas bonitas sacudiendo al viento. En cuanto al significado de "libertinaje", es un concepto muy debochado, pero bosch es bueno (pase la publicidad)!
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