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DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARIN

por João Castro e Brito, em 14.11.21

colbert e mazarin.jpg

Colbert: «Para encontrar dinheiro, há um momento em que já não é praticável enganar seja quem for.
Senhor Superintendente, gostaria que me explicasse como é que é possível continuar a gastar tanto, quando já nos empenhámos até ao pescoço?!...»
Mazarin: «Bom, então, passo a explicar:
Se estivermos a falar de um miserável Zé ninguém, coberto de dívidas até ao pescoço e não tendo como as pagar, é óbvio que vai preso. Mas o Estado, enfim, o Estado é diferente! Não se pode mandar prender o Estado, homem!
A solução natural para o problema é continuar a acumular dívidas; todos os Estados o fazem e nós não somos excepção, Colbert!»
Colbert: «Ah sim? É essa a sua convicção, então? No entanto, continuamos a precisar de dinheiro. Como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?»
Mazarin: «Criando outros com designações incompreensíveis para a população ignara. Dada a sua complexidade, irão presumir que são vitais para combater a falta de liquidez das finanças do Reino. E, como deves calcular, isso é bom para as nossas receitas.»
Colbert: «Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Sujeitamo-nos a uma insurreição popular!»
Mazarin: «Realmente tens razão, também pensei nessa possibilidade!»
Colbert: «Bem, sobram os ricos!»
Mazarin: «Os ricos também não, nem ouses tal pensamento! Deixariam de gastar ou pior ainda: tratariam de transferir a totalidade das suas fortunas para reinos onde não fossem taxadas! Um rico que gasta faz viver centenas de pobres, não esqueças!»
Colbert: «Então, onde vamos arranjar dinheiro?»
Mazarin: «Ai, Colbert, comes muito queijo, alma de Deus! A coisa processa-se da seguinte forma: há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham, com o sonho de um dia se tornarem ricos e com um medo insuportável de ficarem pobres. São esses que devemos sobrecarregar com impostos atrás de impostos, cada vez mais, sempre mais, percebes? Quanto maiores forem os encargos, mais se esfalfarão a trabalhar para compensarem o que o Reino lhes tira. São uma reserva inesgotável!»
 
As personagens são reais, o diálogo é fictício ( adaptação livre da peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault.), mas pode-se reportar aos tempos actuais, como facilmente se depreende nesta magnífica rábula, n'é verdade?
 
"Jean-Baptiste Colbert (Reims, 29 de Agosto de 1619 — Paris, 6 de Setembro de 1683) foi um político francês que ficou conhecido como ministro de Estado e da economia do rei Luís XIV. Instalou o Colbertismo na França, onde teve uma grande importância no desenvolvimento do mercantilismo ou da teoria mercantilista (com adeptos fervorosos em Portugal), bem como das práticas de intervenção estatal na economia, que o mercantilismo advogava.
Em 1651, Michel Le Telier, apresenta-o ao Cardeal Jules Mazarin que o contrata para gerir a sua vasta fortuna pessoal. Antes de morrer, em 1661, Mazarin recomendou Colbert ao rei Luís XIV de França, salientando as suas qualidades de dedicado trabalhador. Nesse mesmo ano o rei fez de Colbert ministro de Estado e, em 1664, atribui-lhe o cargo de superintendente das construções, artes e manufacturas e ainda o de intendente das Finanças."
Fonte documental: Wikipédia

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