Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CATARINA SALGUEIRO MAIA

por João Castro e Brito, em 25.04.24

"Sou uma portuguesa desapontada com o meu país. Não com os governantes, mas com aquilo que fizemos, ou não fizemos, por ele.
A minha mãe disse-me, ontem, uma coisa maravilhosa ao telefone: "Se todos fizermos um bocadinho por Portugal, Portugal vai para a frente." É a realidade. Se todos lutarmos um bocadinho, é tudo mais fácil. Porém, não sinto isso. Sinto que o povo português reclama, aponta o dedo, mas não faz nada pra mudar as coisas; não é capaz de dar a sua quota parte para mudar o rumo do país.
Os sucessos que temos tido são insuficientes. Portugal não é feito de campeonatos da Europa nem de Festivais da Canção – quem ganha tem todo o mérito, mas precisamos de mais. Temos de evoluir em mais áreas. Revelar que também temos uma ciência digna de mérito e prémios. Precisamos de mostrar que temos escritores fantásticos, cineastas maravilhosos – que existiram e existem, mas não são reconhecidos.
Parece-me que regredimos, um bocadinho, ao tempo do Salazar – Fátima, futebol e festival (em vez de fado).
Portugal não é isso ou, pelo menos, não é só isso.
Somos um país riquíssimo em muitas áreas e queremos ser reconhecidos como tal.
Se o meu pai estaria, hoje, desapontado? É difícil responder por ele. O meu pai, tal como tantos outros, abriu uma página nova para melhorar Portugal; lutou para dar aos portugueses aquilo que eles, em parte, não souberam manter, que foi o cimentar de uma sociedade mais equitativa.
Talvez ele estivesse – se fosse vivo – desapontado com a falta de iniciativa que temos enquanto cidadãos.
Por outro lado, talvez estivesse satisfeito pela meia dúzia de pés descalços que tentam lutar, que tentam investir no país (mas que muitas vezes têm de sair).
Portugal é conhecido pelos portugueses que pegaram nas suas ideias e levaram o nome de Portugal mais além. Isso iria fazê-lo orgulhoso, por ter ajudado a que tal fosse possível. Eu acho que ele não estaria desapontado a 100%, mas com algumas coisas, sim.
Tinha sete anos quando ele morreu, tenho boas lembranças: lembro-me das festas, de brincar com ele, de irmos para a praia e de me tentar ensinar a nadar. A minha mente bloqueou a doença do meu pai, ele também nunca nos transmitiu que estava a sofrer. Tenho a imagem da última vez que o vi no hospital antes de morrer; é a única lembrança má. O resto, é tudo bom. Era um pai maravilhoso."
 
Catarina Salgueiro Maia, entrevistada pela jornalista Leonete Botelho do jornal Público, em 2017, no Luxemburgo, para onde a filha de Salgueiro Maia havia emigrado em 2011, antes do "escalvado" ter convidado os portugueses e as portuguesas a "ganharem experiência no estrangeiro” – justiça lhe seja feita por, pelo menos, a filha de um Homem de Abril ter tomado essa difícil decisão, sem esperar pelo "atento" conselho desse ex-primeiro ministro de má memória. Isto porque a Pátria tem sido sempre uma madrasta para muito boa gente e uma amenista para a malandragem, no que parece ser, desde tempos imemoriais, uma "inevitabilidade"...
Divaguei... Mas, continuando:
Afinal, Catarina ficou órfã de um herói de Abril que a maldita doença, nas suas manifestações mais imprevistas e sórdidas, a deixou, prematura e involuntariamente, menina, e também a nós que pouco o chorámos, mal agradecidos que somos.
E outros heróis se lhe seguiram – também desaparecidos das nossas fracas memórias – , protagonistas daquela fantástica madrugada que nos devolveu um país livre de grilhões. Felizmente, alguns ainda estão vivos, mas igualmente esquecidos.
Vou amar, até morrer, estes intrépidos capitães que restituíram a liberdade à minha Pátria.
Daqueles e daquelas a quem legaram a tarefa de pugnar por essa essencial condição, a história louvará quem a executou em prol do bem comum e julgará quem se aproveitou, ilicitamente, da esperança que depositámos num dia como este há 50 anos.
Assim o espero. Mesmo que morra sem ver a ascensão de uma "Nação valente e imortal"...

Autoria e outros dados (tags, etc)

BREVES REFLEXÕES SOBRE HISTÓRIA (Episódio II)

por João Castro e Brito, em 19.03.24

cristóvão colombo.jpg

Na história, nada acontece por acaso. Todos os factos têm as suas interligações e os seus antecedentes lógicos. Isto até pode parecer uma banalidade ou algo que você já leu ou escutou em qualquer lado, mas vou tentar explicar como a importância de lugares comuns como este, pode transcender a nossa compreensão.
Imagine, por exemplo, se tivesse sido da Vinci a inventar a marmita de Papin; ou Newton a estabelecer o princípio de Pascal; ou Vasco da Gama a fazer a primeira viagem de circum-navegação. Onde ficaria isto tudo? Onde ficaria ou como seria, por exemplo, o estreito de Magalhães? Chamar-se-ia estreito de Magalhães? Provavelmente seria conhecido por estreito de Gama...
Ou se fosse Bertolt Brecht a inventar as pancadinhas de Moliére? Ou, ainda, a chef Cátia Goarmon a explicar, na 24Kitchen, como se faz uma salada de bacalhau salgado desfiado à mão (vulgo a dita cuja)? Ou se Bonaparte tivesse nascido no Egipto, filho de um humilde pescador do Nilo, e tivesse seguido as suas pisadas? Provavelmente, as invasões francesas não teriam existido e Junot, Soult e Massena não teriam levado a cabo milhares de acções de confisco, saque e destruição do nosso património cultural, jamais devolvido; e a Família Real Portuguesa não teria fugido para o Brasil, com o rabinho entre as pernas, deixando os portugueses entregues ao seu trágico destino; e não teriam entrado em Portugal os ingleses (outros saqueadores que tais), sob pretexto de expulsar os franciús, ao abrigo da "Mais Antiga Aliança do Mundo". Se bem que, sem as invasões francesas, Brites de Almeida seria, historicamente, uma ilustre desconhecida.
Até pelo exemplo da padeira de Aljubarrota, continuo convicto de que, na história, tudo é fruto do destino.
Ao contrário do que se pensa, Cristóvão Colombo não descobriu a América por acaso, mas antes por engano. E o que é o engano a não ser o destino? Calma que eu explico:
Diz-se que quando pisou o solo do Novo Mundo, pensou que tinha chegado à Índia. E porquê? – pergunta você com toda a legitimidade – Porque quando viu tanta gente desnuda e de pele vermelha a vir ao seu encontro, decidiu, ali mesmo, apelidá-la de índia. É claro que incorreu num equívoco, mas o que seria de Billy The Kid, Búfalo Bill e até do Grande Chefe Apache, Geronimo, se Colombo não se tivesse enganado? Ou se tivesse chamado americanos aos índios, como se chamariam, hoje, os americanos?
Regressemos à nossa História: Suponhamos que o 25 de Abril foi em Agosto. Como poderíamos falar dos Capitães de Abril?
E se os capitães fossem generais? Ou notários? Ou até mesmo carteiros? Soaria muito mal dizer-se que os Carteiros de Abril tinham derrotado o regime de Caetano em Agosto. Isto, sem desprimor para a nobre e quase extinta profissão de carteiro.
Pior soaria se Caetano se chamasse Óscar. Já pensou quão feio constaria se se tivesse derrubado um regime oscarista? Mesmo se, no caso, os capitães fossem carteiros e o 25 de Abril fosse em Agosto, hã?! Está a ver?
Suponhamos, agora, que Spínola era um autóctone australiano. Como poderia o senhor ter participado no 11 de Março? E se os acontecimentos de 11 de Março tivessem ocorrido nas montanhas dos Himalaias? Ou se os capitães fossem delegados de propaganda médica? Se o 25 de Abril fosse em Fevereiro? Se Caetano fosse José Vitalício Barbosa, caldeireiro, que não é tido nem achado nesta história? Se Afonso Henriques nascesse daqui a uma semana? Se Cavaco Silva fosse um parente afastado do Nosferatu? Se Cristóvão Colombo tivesse achado a Ilha da Madeira, ao invés de João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo? Se Dom João VI tivesse pedido asilo político aos Camarões?
Como certamente inferiu, o encadeamento dos factos, às vezes, é difícil, mas a história também nunca foi fácil, n'é verdade? Olhe, o CC que o diga! Por isso é que teve uma vida curta, coitado! Dizem que foram desgostos de amor...

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D