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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
Hoje, desloquei-me ao centro de saúde da minha freguesia. Tenho mais de 90 anos. Disseram-me que durante os meses de Verão não aceitam marcações de consultas por telefone.
Não vale a pena ligar para o centro de saúde da minha freguesia nos meses de Verão. Os meses de Verão são para respeitar, pronto e ponto!
Por conseguinte, peguei nas minhas pernas que, apesar do desgaste dos anos e um pouco trôpegas, ainda estão capazes de me levar ao centro de saúde da minha freguesia.
A pessoa que me atendeu, a que enfaticamente se dá o nome de "médico(a) de família", perguntou-me de que me queixava:
«Olhe, doi-me aqui e ali. Além disso, tenho tonturas; urino aos pingos; tenho zumbidos nos ouvidos; sinto náuseas e não sinto prazer em viver!».
Enquanto me escutava ou penso que me escutava, perguntou-me que remédios tomava, mediu-me a tensão arterial, gabou-me a provecta idade, receitou-me mais comprimidos e requisitou exames, enfim, a regra a que me fui habituando ao longo dos meus já longos anos. Depois, disse-me para me deslocar ao centro de saúde da minha freguesia, assim que tivesse o resultado dos exames na mão.
Assim fiz, passados que foram 30 dias, mais dia menos dia, após a marcação da consulta e com os exames na mão.
Chegada a minha vez de ser atendido, depois de três horas de espera, a pessoa que me recebeu, perguntou-me de que me queixava, mediu-me a tensão arterial, gabou-me a provecta idade, e quis saber se eu estava a ser medicado:
«Bem..., são as queixas recorrentes: umas dores aqui e ali; as tonturas persistentes; a urinação aos pingos; a agravação dos zumbidos nos ouvidos; as malditas náuseas e o desprazer da vida.
Aqui tem os exames que pediu. Quanto aos remédios estou a tomar aqueles que costumo tomar e outros tantos que me receitou.» - ao que retorquiu não ter a certeza de mos ter prescrito...
Enquanto mirava e remirava os exames, não sei se com atenção, disse-me para ir ao centro de saúde da minha freguesia, no dia seguinte, com o nome dos remédios que me tinha indicado.
Assim fiz. Agarrei nas minhas pobres pernas e fiz o percurso que elas conhecem tão bem, para mostrar à pessoa que me tem atendido, o nome dos remédios que me receitou. Assim que me recebeu, passadas que foram mais de três horas de espera, veio com a conversa repetida: de que me queixava, mediu-me a tensão arterial, gabou-me a provecta idade e quis saber que remédios estava a tomar. E eu, é claro!...
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