por João Castro e Brito, em 21.08.14

O Secretário de Estado do Orçamento afirmou há algum tempo que o orçamento rectificativo com as medidas para compensar o desvio orçamental deste ano está nos propósitos do Ministério das Finanças no sentido de minimizar os efeitos da grave crise que o país atravessa constituindo esta alteração a maior novidade no campo das medidas económicas a tomar pelo Governo ligeiramente à margem do memorando da "troika".
Esta foi à Saramago! Deixem-me recuperar o fôlego...
Com efeito, não obstante a grave crise económica internacional e o brutal défice externo, estudos (estudos, estão a ver?) apontam para o facto de os portugueses continuarem a praticar sexo com alguma regularidade, embora nem sempre nas melhores condições. Temos, pois, que englobar outras práticas de sexo que não somente e apenas (passe a redundância) as praticadas geralmente por pares. Também essas serão taxadas, caso esta alteração venha a ser aprovada pela maioria e passar pelo crivo do Tribunal Constitucional. Afinal, trata-se de uma actividade generalizada a todas as camadas sociais, sendo esta a razão fulcral pela qual o Governo considera este novo imposto como o mais equitativo e justo (desculpem lá, outra vez, o estupor da redundância).
Temendo que os portugueses deixem de ter relações sexuais para fugir ao imposto ou tentem praticá-las à revelia do fisco, o Executivo vai lançar uma campanha de sensibilização da opinião pública, nomeadamente com "spots" publicitários institucionais, no canal 2 da televisão do Estado, em que dois jovens praticam sexo puro e duro enquanto preenchem o impresso electrónico no Portal das Finanças.
Estão também previstos cartazes que serão afixados em locais públicos bem visíveis onde surgem os mesmos jovens, muito suados e despenteados da "refrega" coital, a afirmar alegremente: "Gozámos à brava porque cumprimos as nossas obrigações fiscais!".
No entanto, apesar desta medida de largo espectro social poder vir a render alguns milhões de euros aos cofres do Estado, a situação continua a ser preocupante. As taxas de juros poderão aumentar de muito altas para altíssimas; o PIB poderá ser extinto; as pensões de reforma poderão ser substituídas por mitras; o abono de família poderá ser retirado a todas as crianças que contraiam sarampo, rubéola ou varicela; o crédito à aquisição de habitação própria poderá ser restringido aos cidadãos que tenham pago a casa a pronto, et cetera.
Em face deste cenário tão calamitoso, vislumbra-se uma situação deveras negra, deixando adivinhar um 2015 bem pior que o que decorre, embora a ministra Luís Albuquerque teime em classificá-la de cinzenta, pelo que parece confirmar a tese que muita gente já temia: A gaja sofre de daltonismo...
P.S.: A talhe de foice e somente por curiosidade, vocês sabem que daltonismo provém de um tipo chamado John Dalton que era um daltónico do caraças?