Para si, que me lê habitualmente com muito prazer e, às vezes, até com alguma condescendência, aqui lhe deixo o meu mais veemente pedido de desculpa porque tenho receio de que estas coisas sejam os primeiros sintomas de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
Bom, mas como o prometido é devido, penso que aqui há tempos deixei a promessa de analisar certos factos históricos de alguma relevância, como, por exemplo, saber que razão esteve por trás da dramática decisão de Viriato não se ter dedicado à filatelia. Todavia, como nem sempre se cumpre o que se promete, e na esperança de que me perdoe o incumprimento, resolvi voltar à carga com o Fundador da Nação.
Como você sabe, ou pelo menos tem a obrigação de saber, salvo se for ignorante, a Península Ibérica foi invadida por gajada oriunda de muitos lados.
Hunos ou Indivisíveis, Suecos, Visigordos, Energúmenos, Vândalos, Malandrinos, Hooligans e Mao Metanos (não confundir com Mao Istas*), todos eles deixaram as suas pegadas de carbono por aqui.
Os Mao Metanos (gente com fortes distúrbios gastrintestinais), Muçulmanos, Árabes, Sarracenos, Mouros e Jiahdistas, esses, instalaram-se um pouco por toda a parte, como se isto fosse o da Joana, criando praças fortes, como Santarém e Lisboa.
Ora, isto foi um bom pretexto para Afonso Henriques consolidar a sua vontade férrea de ser o dono disto tudo e vir por aqui abaixo feito um desenfreado, cheinho de vontade de dar uma carga de porrada a esta malandragem e, naturalmente, espalhar a fé de Cristo.
Órfão de pai aos três anos e homem de vistas largas, apesar de usar óculos, travou o passo ao filho da puta do Dom Peres (efectivamente, Dom Peres era filho de uma mulher de maus costumes. Isto, de acordo com os padrões morais daqueles tempos; está devidamente documentado nos arquivos históricos da Torre do Tombo), armou-se em cavaleiro de corrida (não confundir com carapau de corrida) e fez-se ao caminho à frente de um numeroso exército.
Chegou muito antes dos outros e tomou Santarém aos Mouros, com a ajuda de um copo d'água. É o que faz a sede de glória.
Pouco tempo depois, tomou Lisboa com a ajuda de muitos escudos e muitas lanças. É claro que com muitos cruzados também. Evidentemente que nada disto nos admira, dado que o cruzado era moeda de troca na altura.
O poder de Afonso Henriques consolidou-se a olhos vistos. A sua fama chegou além fronteiras. De toda a parte choveram louvores. Geraldo Geraldes a todo o vapor e sem pavor, por exemplo, ofereceu-lhe Évora, para perpetuar os seus feitos. Porém, Afonso ficou muito decepcionado com a oferenda, dado que a Praça do Giraldo não passava de um projecto e a cidade estava reduzida a um simples templo romano.
Conflituoso, o nosso primeiro rei, até com o papado teve bate fundos de ferver em pouca água.
A coisa tomou tais proporções que a designaram de "bulha papal".
No decorrer do seu longo reinado, o nosso rei teve tempo pra tudo: derrotou os mouros em Campo de Ourique, após um encontro com um ancião que se havia cruzado com ele, garantindo-lhe que a vitória estava no papo; fundou o Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, ao cimo da alameda com o seu nome, símbolo da sua megalomania, e posou para selos de 5 tostões, comemorativos do seu septuagésimo aniversário (actualmente, fora de circulação).
Contudo, muito fica por dizer a respeito de Afonso Henriques. Pelo menos, por agora. Por exemplo: a sua cota de malha era de pura lã virgem ou era uma merda feita na China?
E o tratado de Zamora? Terá sido assinado em cruz? É consabido que Afonso só tinha completado a quarta classe do ensino primário, e com muita dificuldade, mas lá cristão era ele!...
E mais: teria o senhor a noção de que estava a fundar Portugal (não confundir com "afundar Portugal" que é o que os políticos têm andado a fazer desde o 25 de Abril)?
E a derradeira pergunta: terá Afonso Henriques enriquecido ilicitamente ou também terá sido enganado pelo Ricardo Salgado com a aceitação dos tais 253 mil euros de financiamento do BES?
São perguntas que vão ficar eternamente sem resposta, dado que Afonso I morreu em dezembro de 1185, segundo rezam as crónicas, desconhecendo-se as causas exactas da sua morte, mas sabe-se que contava 76 anos, idade muito avançada para aquela altura, e sofria muito de gota.
(*) Os Mao Istas, vieram a estabelecer-se definitivamente em Portugal, ainda no século XX, contribuindo para a disseminação das famosas lojas dos 300.