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A ESCULTORA SILENCIADA

por João Castro e Brito, em 29.05.25

camille claudel.jpg

Nascida em 1864, Camille Claudel desafiou os padrões sociais da sua época.
Ainda jovem, mudou-se para Paris para se tornar escultora – sem se deixar intimidar pela proibição de admissão de raparigas na Escola de Belas-Artes.
Assim, abriu o seu caminho à custa de "workshops" privados, onde o seu extraordinário talento chamou a atenção de Auguste Rodin, outro afamado escultor, que a convidou para sua assistente.
O trabalho desenvolvido por ambos, em comum, foi, do ponto de vista criativo, de um entusiasmo e dedicação absolutos.
De certa forma, Claudel influenciou a escultura de Rodin, tanto quanto ele a sua.
Mantiveram uma relação amorosa, apesar de Claudel ser mais nova do que ele 24 anos. Todavia, a parceria não durou muito porque depressa surgiram conflitos entre ambos. A genialidade de Rodin começou a invejar a de Claudel e, sobretudo, a sua inteligência, considerando-a uma forte concorrente ao seu estatuto artístico. Por isso, o escultor, que ademais mantinha com ela uma relação extra-conjugal, viu-se na necessidade de a "dispensar".
Assim, a história, ligada a uma certa forma de segregação sexual (domínio patriarcal preponderante), encarregou-se de tentar apagar as maravilhosas contribuições de Camille Claudel.
Após a dolorosa separação, Rodin continuou famoso, enquanto o mundo de Claudel, incompreendida e tristemente, só, desabava tragicamente para o abismo.
Descartada como alguém que havia perdido o juízo, a escultora, debaixo de enorme depressão, foi internada pela família numa instituição psiquiátrica, em 1913, e aí ficou confinada durante 30 anos, apesar das repetidas avaliações médicas afirmarem que não representava qualquer perigo e não necessitava de ficar isolada do mundo exterior.
A sua mãe e o seu irmão, ignoraram repetidamente as cartas que lhes escrevia: desesperadas, cheias não de ilusão, mas de desejo, mágoa e de uma lucidez impressionante. O seu pai havia sido o único que não tinha contrariado o desejo de Camille de um dia ser escultora. Porém, parece que a sua opinião não tinha peso...
No dia 19 de Outubro de 1943, Camille Claudel morreu sozinha num asilo psiquiátrico e o seu corpo foi sepultado numa campa anónima. Ninguém compareceu ao funeral.
Todavia, mudaram muitas coisas desde então.
Os seus trabalhos – outrora relegados ao esquecimento – estão, expostos em museus, dentro e fora de França.
O Museu Camille Claudel, em Nogent-Sur-Seine, inaugurado em 2017, presta homenagem a uma escultora ousada, visionária e à frente do seu tempo. O seu único "pecado" foi ter sido mulher num tempo em que a criação artística era exclusivamente masculina.
Pelo menos, Camille Claudel já não é uma nota de rodapé na história do seu famoso amante, Rodin. É a autora do seu próprio legado.

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INQUIETAÇÕES DE TRAZER POR CASA

por João Castro e Brito, em 29.05.25

o pensador de cokwe.jpg

Aqui, aparentemente, ninguém se inquieta com essas guerras. São conflitos entre gente de outras paragens, bem longe das nossas fronteiras.
À semelhança das pessoas responsáveis pela política doméstica, entretidas com os habituais casos e casinhos, tão característicos da nossa pequenez, cá vamos andando, com a cabeça entre as orelhas, isolados na nossa "ilha".
Assistimos, com apatia, à luta desesperada de um país para defender a sua matriz cultural e a sua soberania e, por conseguinte, os limites do seu território.
Assistimos, do mesmo modo, ao genocídio de um povo, como resposta a um ataque ignominioso de um grupo de bandidos que se diz representá-lo.
Porém, a reacção do estado – objecto desse ataque – tem sido desproporcionada e brutal, parecendo que o seu propósito é o extermínio desse povo.
São acontecimentos muito distantes e, por isso, longe da nossa zona de conforto. Nem quem nos governa demonstra mais determinação em juntar-se aos que estão contra o que parece ser uma forma de estabelecer uma nova (des)ordem mundial.
É a nossa eterna idiossincrasia, "não nos comprometam". Os "valentes guerreiros que nos deram, livre, esta nação", agitam-se na poeira da memória esbatida...
No entanto, por muito paradoxal que possa parecer, relativamente ao pensar dos seus cidadãos e consequente acção ou reacção, Portugal tem cumprido, de alguma forma, os seus compromissos internacionais em nome de outros interesses. Todavia, são interesses que também afectam a sua independência e o seu estatuto como nação entre as nações.
Os tempos actuais já não se compadecem com nacionalismos serôdios. Mas continuamos com aquela atitude mental – egocêntrica – do "orgulhosamente sós"...

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DIA INTERNACIONAL DO BURRO

por João Castro e Brito, em 08.05.25

dia internacional do burro.jpg

Neste dia, celebra-se uma efeméride que pretende promover a dignificação de todos os burros. Bem, particularmente – a bem da verdade – porque, se fosse genericamente, teria de englobar os outros burros e isso seria muito injusto para estes simpáticos e inteligentes equídeos.
E aqui destaco o Burro de Miranda, uma raça autóctone nacional, quase em vias de extinção, que contribuiu decisivamente para a ruralidade, cultura e história do nosso país.
Tendo este dócil animal uma extraordinária capacidade de resistência a factores adversos, tem conseguido desempenhar, ao longo de milhares de anos, os mais diversos papéis, na convivência com os seres humanos, desde que foi domesticado. Seja como animal de companhia, parceiro de trabalho ou com outras competências.
São muitas as valências do burro que, ao contrário da conotação que muitas vezes lhe é atribuída, é, como disse e de facto, muito inteligente.
Assim, devemos honrar a magnífica parceria entre os burros – os genuínos – e as pessoas.
E, para terminar, deixo-vos uma linda quadra do Aleixo, um dos nossos mais amados poetas populares do século XX, dedicada aos outros burros que também merecem, coitadinhos.
A talhe de foice, importa salientar que Aleixo se afirmou pela ironia azeda e pela crítica social que imprimiu nos seus versos e que essa forma de contestação sarcástica ao statu quo, lhe granjeou simpatias dos vários estratos sociais. Claramente, mais de uns do que de outros, como é natural.
A sua obra, a par das mais eruditas, é reconhecida como uma contribuição singular para a literatura portuguesa:
 
Há tantos burros a mandar
em homens de inteligência
que, às vezes, fico a pensar
que a burrice é uma ciência.
 
António Aleixo

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