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RICOS E POBRES: A ETERNA DICOTOMIA

por João Castro e Brito, em 27.12.22

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Dizia aquela senhora, ainda no tempo em que foi directora do FMI, que era necessário "partilhar o crescimento". Dizia-o no final de uma cimeira dos países mais ricos do mundo. Segundo ela, os líderes desses países haviam concordado em identificar e dar prioridade às reformas que são essenciais para aumentar o estímulo do crescimento de cada país, área em que a organização que dirigia, supostamente, actua. Reforçava a ideia com a importância que deve ser dada à "partilha alargada dos recursos e do conhecimento"...
Ora, como estamos habituados a discursos de conjuntura, já não estranhámos mais este.
É do senso comum que, sem as ferramentas que reduzam as desigualdades e aumentem, assim, as perspectivas económicas, designadamente dos grupos de mais baixos recursos e com poucas qualificações – os primeiros a serem afectados com as mudanças tecnológicas – , o fosso entre ricos e pobres aumenta inevitavelmente. Palavras, portanto...
A propósito desta assimetria sem solução (?) e a fazer fé nas estatísticas, a concentração de riqueza continua imparável mesmo em tempo de guerra, sem embargo dos constrangimentos que lhe estão associados. Direi, até, que a reforçou, especialmente, com os chamados lucros excedentários de empresas ligadas a sectores mais impactantes nos bolsos dos cidadãos. Sem contar com os ganhos fabulosos da banca.
E, a talhe de foice: com tantas famílias em dificuldades económicas, que dizer desta imoral atribuição de meio milhão de euros a uma ex-funcionária da TAP, actual secretária de Estado do Tesouro como forma de a indemnizar. A título de quê?! É legal – dizem – , mas, do ponto de vista ético, está correcto? Onde pára a equidade social?
É claro que há formas de combater as desigualdades, mas pergunto: alguém está interessado em fazê-lo?
Há algum empenho político, por exemplo, em combater eficazmente a fuga à tributação de fortunas incalculáveis?
Portugal, onde alguns pensavam (se calhar, vivendo uma realidade virtual) que o número de pobres tinha diminuído, contrastando com os relatórios da OCDE que contrapõem como permanecendo entre os países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza consistente, permanece em banho-maria.
Portanto, continuamos a marcar passo na UE e a deixar-nos ultrapassar por países europeus, supostamente de menores recursos, que parecem ter apostado em mudar para melhor.
Para compor o ramalhete, mudaram, também, todas as perspectivas e espectativas a um ritmo extraordinário e violento, devidas a esta guerra que ninguém sabe muito bem durante quanto tempo se vai prolongar e de desfecho imprevisível.
Todavia, mantenho a profunda convicção de que o cenário social se vai agravar e, pela ordem de "prioridade", o eterno lixado é o mexilhão – passe o vulgarismo.

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Em 2015, um tal comissário europeu para a "Economia e Sociedade Digitais" (não sabia que havia um comissário europeu para estas coisas, peço desculpa pela minha elevada ignorância), entregou ao, então, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Rui Machete, em Berlim, um óscar...perdão, um galardão, com um nome muito pomposo: "Golden Victoria Europa".
Parece que foram uns gajos alemães, representantes de uma associação de editores, não sei do quê, que inventaram este prémio anual.
Günther Öttinger – assim se chama o sujeito que era comissário dessa coisa – dedicou o "Prémio Europeu do Ano" aos "11 milhões de pessoas que vivem em Portugal".
Imagino a honra que todos devem ter sentido ao terem sido conhecedores da atribuição do prémio.
Todos é como quem diz: temos de subtrair os largos milhares que constituíram o êxodo para o estrangeiro na procura de melhores condições de vida. Se calhar, motivados por um apelo que havia sido feito por um "boy" imberbe, Secretário de Estado da Juventude e Desporto, que se dirigia, assim, a uma plateia de jovens luso-brasileiros em São Paulo:
"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Observação infeliz que se tornou viral, pela boca de alguns governantes, entre os quais, Passos Coelho.
Mas, essencialmente, o galardão deveu-se, na opinião do senhor comissário, ao "êxito" do país em concluir o programa da troika.
E prosseguindo no discurso elogioso, disse que Portugal conseguiu "encontrar o caminho para mais emprego e competitividade" (fiquei banzado!). Acrescentou que o prémio era também um pedido aos portugueses para que "possam manter uma estabilidade política, económica e financeira, sem oscilações". Aqui, o gajo borrou a pintura! Estava a ir tão bem e, no final, saiu-se com esta!
Passados sete anos, com o advento das novas e trágicas realidades globais que nos têm assolado e permanecendo um bocadinho instáveis, pelo menos, nos domínios económico e financeiro, com reflexos na equidade social, continuamos a ser tratados quase como se fôssemos um dos meninos mais mal comportados da Europa da "União". Porém, com uma ligeira nuance: estamos no bom caminho para conseguirmos recuperar o tempo perdido, em áreas como as energias limpas e a digitalização, segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
Assim, a "bazuca" nos ajude, mesmo com os enguiços a que estamos acostumados há décadas. O ideal seria a gente acabar com aquele cisma, que já vem dos tempos afonsinos, de que "se não é do cu é das calças".
Pode ser que... Longe vá o agouro!

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