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NO TEMPO DA OUTRA SENHORA

por João Castro e Brito, em 01.05.22

no tempo da outra senhora.jpg

Havia gente que era presa, torturada e morta pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) por contestar o regime; havia gente cuja miséria era tão desesperante que a obrigava a ir a salto para a França; havia gente que vivia em barracas nas periferias das grandes cidades; havia uma guerra ultramarina com três frentes: Angola, Moçambique e Guiné. Um esforço de guerra que aumentava a nossa pobreza e nos distanciava dos elevados padrões de crescimento dos países europeus mais desenvolvidos. Uma guerra que obrigava ao sacrifício de milhares de jovens, nomeadamente dos provenientes das zonas rurais, cujas famílias, para subsistirem, dependiam do seu amparo; havia o exílio, forçado ou voluntário, de figuras públicas contrárias ao regime e, não raras vezes, o seu assassinato; havia as prisões políticas e os algozes do sistema; havia a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa, organizações paramilitares de integração ideológica; havia a censura prévia e a proibição de manifestações na via pública; havia a arregimentação de milhares de pessoas para virem periodicamente a Lisboa, à Praça do Comércio, louvar o Salazar; havia a repressão policial sobre os movimentos de contestação estudantil e do operariado; havia uma Igreja que pactuava com a ditadura; havia um bispo, o do Porto, que era a excepção à regra e foi obrigado a exilar-se; havia o General Humberto Delgado que um dia, respondendo a uma pergunta, foi imprevidente afirmando que se fosse eleito Presidente da República, "obviamente", demitia o tirano, sendo morto na fronteira pelos seus verdugos; havia uma cadeira da qual o iníquo caiu e feneceu; havia uma certa "Primavera Marcelista", mas foi sol de pouca dura; havia a necessidade premente de acabar com a "Guerra do Ultramar"; havia a vontade popular de se juntar aos militares revolucionários naquele memorável dia; havia muito para fazer há quarenta e oito anos; havia...

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