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É verdade, abigos, esta berda já be anda a chatear há quase uba sebana e está difícil de bassar. Ando a inalar sbrays nasais, a tobar anti-histabínicos bais anti-inflabatórios e não be fazem qualquer efeito. Bas não é a brobósito da binha constibação que be brobonho a escrever este artigo; é bais sobre a discorrência do seu significado. Brosseguindo:
A constibação, cujo étibo latino brovém do grego katárrhous ou seja: que escorre bara baixo (berdoe-se-be a redundância), também conhecida bor catarro, do étibo grego catarrhu, broveniente do latim, bais coisa, benos coisa, é um estado físico buito chato, embora seja coisa banal, de tal forba que todos os hubanos begam isto uns aos outros, seja através do esbirro, da tosse, do beijo e de outras borcarias que be abstenho de bencionar aqui bor uba questão de decoro.
Bara quem tiver a bretensão de obter esclarecibentos, ainda que sem qualquer fundabento científico – também não é esse o objectivo deste texto sem bés nem cabeça –  , sobre este teba tão comblexo, convém fazer, já aqui, uba destrinça entre constibação e gribe. Besbo sendo leigo no assunto, benso que são dois estados distintos, embora bribos entre si.
Bor exemblo: a constibação é geralbente acombanhada de tosse, esbirros, dores de cabeça, exbectoração, bal estar geral e, às vezes, febre. Certo é que estes sintobas também estão associados à gribe e, recentebente, ao estubor do novo coronavírus.
Vistas as coisas nuba bersbectiva desabaixonada e isenta de favorecibentos, a diferença é óbvia e, no entanto, subtil!
Em conclusão, debrucebo-nos sobente na constibação e na gribe: diagnosticar uba constibação e uba gribe não é assim tão fácil cobo se bensa; é necessária alguba brática e, claro, alguba baciência e intuição. Vou exemblificar: considerebos um "boy" activo do CHEGA (também há bassivos, duvidosos, bi ou híbridos que dão bara os dois lados), alto, louro, corte de cabelo à betinho, abaricado nas baneiras que, abós uba sessão qualquer na sede do bartido, em ambiente clibatizado sai da zona de conforto e vê-se confrontado com o beio circundante e hostil da rua: o frio, a chuva, a trovoada, um cobunista em botência escondido atrás de cada rosto com que se cruza ou até, besbo, um bredador sexual filiado na CGTB-IN, daqueles bais ortodoxos, que ainda cobem criancinhas ao bequeno-alboço.
Todavia, um factor imbonderável acaba bor traçar o destino deste jovem nacionalista: é atingido bor um raio eléctrico, só borque se lembrou de acender um cigarro com um isqueiro Zibbo – basse a bublicidade. Se o tem acendido com um isqueiro BIC – basse a bublicidade – , a história, talvez, não tivesse tido um desfecho tão trágico, besbo tendo a noção de que o estado da imbonderabilidade é um estado lixado, bois não bodebos discernir se estabos a bairar ou em queda livre. Curiosabente, banifesta-se bais, abós a ingestão de quantidades generosas de bebidas ferbentadas e destiladas, bas isso é outra estória.
A única ilação que se retira deste infeliz exemblo é que é besbo barvo, beço desculba.
Ora, na binha bodesta obinião, isto está buito longe de ser uba constibação!
Tobebos outro exemblo: um sujeito a cabinho dos oitenta, banqueiro "reforbado", bem na vida, com uns dinheirinhos esbalhados bor vários baraísos fiscais (não confundir com o João Rendeiro), bas, besbo assim, descontente com a justiça, insatisfeito com a caganifância da reforba e sofrendo subostamente de demência. Q'é q'isto tem a ver com gribe? Bor abor de Deus, tenham dó!
São dois exemblos que exemblificam, com exemblar transbarência e rigor exemblificativo, cobo são difíceis os diagnósticos. Bor estas e outras, brefiro os brognósticos e, na falta destes últibos, os agnósticos.
P.S.: Beço ibensa desculba bela eventual dificuldade na leitura deste texto, bas, se isto lhe servir de consolo, eu bróbrio também be vi à rasca bra escrever esta berda, quando bais lê-la!
Abesar de tudo, desejo-vos um bom Natal; agora a sério!

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O COMPROMISSO

por João Castro e Brito, em 23.12.21

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Depois de ter rompido pela enésima vez mais um compromisso, assumido pública e solenemente, e de ter feito orelhas moucas (não confundir com orelhas-de-abade) às recomendações de fiscalização de despesas de representação e outras fixas e variáveis, indevidamente não documentadas e passíveis de tributação fiscal e extrafiscal, e segundo fontes que reputo não possuírem a mínima reputação, teria assinado um compromisso no sentido de anular todas as tomadas de compromissos anteriores, já que esses compromissos poriam fim a qualquer tomada de compromisso, fosse como fosse e com quem fosse.
Ficaria assim sem efeito o compromisso que o ligaria a outros acertos, os quais estariam em sério risco de ser rescindidos por falta de ajustes directos. Inclusive este último compromisso que incluiria, presumivelmente, uma cláusula exactamente no sentido da prudência porque isto, meu filho, está preto e mais vale pôr o preto no branco. Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém!
Interrogado por um repórter anónimo (um repórter anónimo, valha-te Deus!), teria afirmado:
“É normal em democracia que o cumprimento escrupuloso dos compromissos, de que sempre nos orgulhámos, se desenrole dentro da mais estrita obediência aos deveres constitucionais e aos legítimos interesses do povo que, como se sabe, são muito variáveis.
Gostaria, portanto, de reafirmar que é com a cabeça bem assente, para não me cair aos pés, que assino este compromisso, mas, por muito contraditório que pareça, sem compromisso de espécie alguma, pois não estou aqui para fazer a cabeça de ninguém e muito menos meter na cabeça de alguém. Nem tal coisa me passa pela cabeça! Disso ponho a cabeça sobre o que for necessário, nem que tenha de me atirar de cabeça. É um compromisso. Juro!»

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este país não é para velhos (1).png

Lembrei-me do fantástico "thriller" dos irmãos Coen, baseado no romance homónimo do americano Cormac McCarthy e protagonizado por excelentes actores, entre os quais destaco Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin e Woody Harrelson.
Certo é que os "velhos" vivem cada vez mais; não há como desdizer tal facto. No entanto, julgo que esta evidência não significa que vivam melhor; pelo contrário!
A partir do ocaso da vida, os "velhos", de um modo geral, não usufruem de uma "velhice" despreocupada, com todas as condições que lhes garantam um final de vida tranquilo e com qualidade. Mereciam-na, certamente, mas há factores – seria fastidioso enumerá-los – que contribuem para que, muitos, apenas sobrevivam.
É inegável que o aumento da esperança média de vida nas últimas décadas, tem a ver, entre outras causas, com a melhoria dos níveis gerais de sanidade; não contando com a calamidade global provocada pelo novo coronavírus, a qual veio obrigar a uma revisão dos dados relativos à longevidade.
Todavia, penso que a sociedade não se preparou para as consequências desse benefício e os problemas são sentidos hoje, de uma forma acerba, pelos mais desassistidos.
Com o Outono, vem a solidão e a tristeza que lhe é inerente. É igual para todos: em aldeias desertificadas do interior e em centros urbanos. Tanto nuns como noutros, vemos "velhos" vetados ao abandono, alguns tolhidos nas próprias casas.
Não é raro encontrarem-nos mortos, só depois de alguém sentir o cheiro dos corpos em decomposição.
Contudo, a saúde, ou falta dela, é o lado mais dramático da sua ancianidade. Disposição que se veio a agravar com o surgimento da nova peste que parece ter vindo para transformar as rotinas sociais num novo normal.
Se o apoio médico já era deficiente e o preço dos medicamentos insuportável para muitos "velhos", imaginemos, nas actuais circunstâncias, casos particularmente angustiantes de "velhos" afectados por doenças degenerativas. Alzheimer, por exemplo:
Segundo um relatório de 2018, da OCDE, "Cuidados necessários: Melhorar a vida das pessoas com demência", Portugal encontrava-se no "final da tabela entre 45 países, com uma taxa de prevalência de demência de 19,9 casos por 100 mil habitantes, bem acima da média da OCDE (14,8). Pior, só o Japão, a Itália e a Alemanha."
Outra situação prende-se com a forma como os familiares dos "velhos" lidam com o seu envelhecimento, pois, não havendo condições para os manterem em casa, quando não os abandonam à sorte nas instituições hospitalares (públicas) por incapacidades de vária ordem, nomeadamente económica (acontecia antes do advento da pandemia) internam-nos em lares que, apesar de desenvolverem um trabalho louvável e dedicado, não dispõem de grandes meios nem de pessoal tecnicamente habilitado. Sabe-se, até, que há lares e centros de dia que os recebem, nas mesmas instalações, juntamente com outros que padecem de patologias degenerativas.
Quem gere essas instituições não tem soluções para esta concomitância. É claro que há algumas boas excepções, mas são pouco expressivas e um luxo no panorama nacional. Ademais, a crise pandémica veio despoletar mais casos de infracções graves na gestão dos lares, inclusive o encerramento de alguns "ilegais"...
A acrescentar a tudo isto e só para terminar, acho que já não há garantias de que as reformas cheguem para todos. Se essa perspectiva era quase uma miragem antes desta coisa nos atingir, agora, com os efeitos colaterais, resultantes, de muitas falências e consequente estagnação da economia, vão ser cada vez menos os que vão mantendo os seus postos de trabalho para sustentar um número crescente de "velhos", não obstante a Covid-19 ter dado uma "ajudinha" à Segurança Social (desculpem a impudência, "meus queridos velhos").
São crises, umas atrás das outras e já não acredito; este país não é, literalmente, para "velhos" e vai ser difícil ser para todos...

 

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CLEÓPATRA E MARCO ANTÓNIO: UMA TRAGÉDIA PEGADA

por João Castro e Brito, em 16.12.21

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Hoje, consagro este epítome (também gosto muito da palavra "epítome") a duas personagens de uma das mais famosas tragédias da obra Shakespereana.
No caso particular, penso que não ficará atrás de uma verdadeira tragédia grega. Acho que não encontro melhor epitáfio para lhes prestar, senão dedicar-lhes esta síntese. Julgo que quem conseguir ler isto até ao fim deverá estar de acordo comigo.
Como as estórias têm de começar por algum lado, começo pelo imaginário nariz de Cleópatra. Era tão evidente e tão exclusivo que não podia pegar nesta estória por outro lado; temos de convir que era um verdadeiro monumento. Até Marie Robes Pierre que não era dado a divagações particulares sobre anatomia humana, escrevera nas suas "Memórias": "se o nariz de Cleo fosse mais curto, não teria mudado a face do mundo". Ora, apesar de considerar Marie Robes Pierre um dos expoentes máximos do iluminismo, não posso estar mais em desacordo com a pouca iluminação de tal presunção. Quando muito, teria mudado a própria face ou até, mesmo, a dos seus amantes. Mas quem sou eu para contrariar tais fundamentos ou as suas pressuposições? Deus me livre, apesar de não ser religioso!
Depois desta breve introdução, é aqui que entram duas personagens que alimentavam animosidades recalcitrantes entre si, sem razão aparente, segundo reza esta estória: o imperador Júlio César e Pompeu, um general romano natural de Pompeia.
Obviamente que, provocação daqui e provocação dali, só podia dar escaramuça e o inevitável aconteceu, como tudo o que é inevitável.
Como era previsível, a Legião Romana do imperador era em maior número e altamente organizada e, por consequência, derrotou facilmente o bando de maltrapilhos e indisciplinados fenícios e cartagineses de Pompeu na célebre batalha campestre de Farsália. Acerca desta batalha, sabe-se agora que, após profundas pesquisas arqueológicas a cerca de meio metro, veio a confirmar-se através do carbono 14 que aquilo não passou de uma farsa.
Há quem sustente a tese de que Pompeu, depois de alguns reveses que não passaram pelos crivos desta estória, solicitou o estatuto de refugiado político ao Egipto.
Obedecendo a esta proposição, vou continuar a descrever o que aconteceu a seguir, incidindo particularmente na teoria do pedido de asilo político de Pompeu. Só para não acabar isto abruptamente, senão perde toda a graça . Então, sucedeu o seguinte:
Por essa altura subiu ao trono Ptolomeu que, desde pequenino, não ia à bola com Pompeu, vá-se lá saber porquê. Vai daí, matou-o enquanto este dormia uma sesta. É claro que César, apesar de adversário figadal de Pompeu na grande farsada de Farsália, não gostou e, por conseguinte, não foi de intrigas: deslocou-se pessoalmente ao Egipto para repor a ordem no império, tendo, para o efeito, degolado o Ptolomeu com requintes de malvadez, oferecendo a sua cabeça de bandeja... perdão, oferecendo o trono de bandeja à nova rainha, Cleópatra...
É aqui que reentra uma das personagens principais desta tragédia que, devido ao tamanho do nariz, já vinha a despertar há uma porrada de tempo desejos lúbricos no imperador...
Pois, acontece a qualquer pessoa, mesmo ao ti' César porque a vida não é só chegar, ver e vencer!
Ora, Cleo, como não podia deixar de ser, partilhou os seus lençóis com o senhor. Porém, naqueles tempos ainda não havia panaceias para levantar a moral e, além disso o velho sofria de arritmia galopante, uma doença chata que herdara da sua progenitora. Efectivamente, ele era um grande filho da mãe doente, desde o primeiro vagido.
Em face desse problema genético, César regressou a Roma para fazer um tratamento com águas termais, mas não resultou e, é claro, foi definhando aos poucos até que os médicos chegaram à triste conclusão de que o melhor era eutanasiar o homem; aquilo era sofrimento a mais...
É aqui que entra outra personagem essencial para a continuação desta estória: Marco António, ex-ajudante de César, que tinha formado um triunvirato de conveniência com Lépido e Octávio, dividindo tarefas administrativas do Estado. Quer dizer: todas menos dormirem, à vez, com Cleo; isso estava fora de questão. Por isso, MA tomou uma decisão drástica; ou seja:  Como, desde os tempos de César, já andava a arrastar a túnica a Cleo, às escondidas do imperador, para não ter a concorrência por perto, despachou Lépido para a Patagónia, Octávio para os Montes Hermínios e rumou ao Egipto. Antes de lá chegar, Cleo, só pelo cheiro, já sabia da sua vinda. Pudera!...
A pirâmide de Queóps desmoronou-se; as esfinges de Gisé e Tebas desfingeram-se; os Deuses rejubilaram e enfim, foi o bom e o bonito! Cleópatra havia-se esmerado na recepção a MA. Com mimos assim, era de esperar que o pobre estivesse perdido de amor, isso é factual; basta conhecer um pouco desta estória.
Mesmo com o rosto cheio de equimoses que mais parecia uma paisagem lunar, MA nunca desistiu da sua rainha. Paixões assim tão lindas acontecem uma vez de mil em mil anos; Pedro e Inês, comparados com este casal, deviam ser como o cão e a gata!
Por Cleo, MA era capaz de guerrear com Hórus e Doktem; que se lixassem, ele desejava desesperadamente! Havia o ónus do nariz da sua amada, que doía para caraças, mas que fazer se naquele tempo ainda não tinham inventado as cirurgias plásticas?!
Assim, como assim, concordaram em passar a fazer amor de lado; do mal o menos!...
É aqui que reentra, finalmente, outra personagem: Octávio, regressado a Roma. Como não era parvo, apesar de medir metro e meio de altura, aproveitou-se do idílio dos amantes para atacar o Egipto à socapa ou seja, pela calada da noite.
Cleo, para além de ser muito batida em batalhas na cama, também o era na batalha naval. Assim, fez uma pausa entre dois concúbitos (sem tirar, sublinhe-se) com MA e enviou ao encontro de Octávio a sua "invencível armada". Uma armada onde se incluíam algumas naus catrinetas cedidas pelo reino de Portugal de então, ao abrigo de um acordo de cooperação e defesa, bilaterais, celebrado entre ambos os reinos. Porém, foi derrotada; em parte porque muitas naus catrinetas metiam água e MA, atormentado pela dor e pela loucura, veio a falecer de desgosto e sífilis.
Octávio que, desde os tempos de MA, já cobiçava o nariz soberbo de Cleo, preparava-se, agora, para tomar para si tão ansiado e maravilhoso despojo de guerra. Todavia, Cleo estava pelos cabelos com todos os imperadores, senadores, cônsules, consulesas, pretores, tribunos, governadores, duques, duquesas, legados, legionários, et cetera, e (acho que vou rematar isto às três pancadas porque a parte final não me está a correr nada bem, peço desculpa) suicidou-se com veneno de cobra-de-capuz (chama-se assim porque o raio da cobra, ainda hoje, anda sempre encapuzada). Todavia, teve morte lenta e cruel porque morreu com indescritível sofrimento. Foi Shakespeare quem o disse e não altero nem uma vírgula, pá, desculpem lá!

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TRECHO DE UMA HISTÓRIA INACABADA: ACTO FINAL

por João Castro e Brito, em 15.12.21

Recapitulando e resumindo: este é o epílogo da minha história. Afinal, o desenlace habitual de todas as histórias de vida: a morte.
O desfecho da minha, em alguns aspectos, não foi muito dissimilar de outros. Num ponto fundamental penso que, na generalidade, todos estamos de acordo: é sempre uma tragédia finar. Sobretudo para quem, há muito, tinha passado do prazo, como foi o meu caso.
No entanto, ainda não me sentia preparado para ir de abalada, pois, por muito que lamentasse que não passava de um empecilho e desabafasse que já cá não estava a fazer nada, era a última coisa que eu desejava.
Enfim, "só faz falta quem cá está", como disse alguém, não sei quem. Para os que sobrevivem, o tempo é bom conselheiro e, por conseguinte, daqui a meia dúzia de anos ninguém se lembrará de mim.
Bem, para ser honesto, não contribuí grande coisa para ser recordado mais tarde. Contudo, agora, é-me indiferente...
Ainda alentei alguma esperança numa prerrogativa divina. Sei lá, se calhar porque houve coisas que não tive tempo de fazer, apesar de ter sido mais do que suficiente, o tempo que tive para as realizar, por muito paradoxal que possa parecer. Porém, não era Deus, mas a morte, por destino ou acaso, a reclamar a minha sorte.
Provavelmente, teria muito para contar pelo meio, mas a idade e o consequente declínio, encarregaram-se de apagar quase tudo da memória. Além disso, não tinha jeito nem visão para registar acontecimentos no papel, não obstante andar sempre a dizer que a minha vida dava um romance. Tenho de convir que foi repleta de dificuldades e decepções causadas pelo goro de algumas expectativas. Não por promessas porque nunca ninguém me prometera fosse o que fosse, mas por probabilidades. A concretização de objectivos - ou o seu malogro - assenta nas escolhas e caminhos que fazemos e tomamos, mas também em possibilidades mais ou menos aleatórias. No meu caso, diminutas em êxitos.
Contudo, sem embargo dos meus lapsos de memória, inevitáveis neste derradeiro acto, lembro-me de dois, se assim os devo entender: um de quando, por mero acaso, reencontrei o meu pai perto da Rua das Pretas em Lisboa, ao fim de quatro anos de silêncio, nunca quebrado por ambos. O dele era justificável, não tendo como quebrá-lo, dado que desconhecia o meu paradeiro. Presumia, apenas, que eu estivesse na capital. Foi um acaso que caiu como sopa no mel, digamos assim, porque fazia, mais ou menos, um mês que eu acabara de regressar de uma estadia de um ano no Porto e estava à rasca, sem um tostão para as despesas essenciais (vulgo sobreviver). Inclusive, a dona da pensão onde tinha um quarto, só não me pôs na rua por uma questão de caridade...
Depois deste episódio, destituído de qualquer manifestação emocional, o senhor pareceu perdoar-me o ultraje de ter saído de casa "à francesa". De modo que selou o restabelecimento das relações com um aperto de mão e uma nota de cem escudos. Importância que me passaria a enviar religiosamente todos os meses, desde aquele momento. Pelo menos até que eu arranjasse "mulher para sustentar"...
O segundo êxito, julgo que foi o mais marcante, naturalmente. No mínimo, alterou radicalmente o meu modus vivendi: o de construir uma família. Todavia, mesmo esse, foi alicerçado com a ajuda inestimável da minha parceira da vida. Com efeito, tão essencial e tão indefinível que não a pude estimar ou não tive vontade de o fazer, guardando a definição de tamanha grandeza, egoisticamente, só para mim.
Digamos que nem tudo foram falhas na minha vida. Houve um ou outro resultado feliz, quase sempre, fruto de casualidades. Nunca fui grande lutador. Entenda-se, por definição pessoal: não, o lutar pela subsistência, algo que fui obrigado a fazer, instintivamente, quando fugi de casa, mas esforçar-me para ter uma vida mais folgada e com menos embaraços. Julgo que me faltou a ausência de rigor no cumprimento de regras, atributo dos espertalhões. Herdara de meu pai um forte sentido moral e pensava que, se saísse da linha, ia viver os meus dias com esse peso e a consequente inquietação. Porventura, à espera de um julgamento severo do progenitor cuja rigidez de princípios estava sempre presente na minha lembrança como uma cisma.
A acrescentar às minhas limitações de vária ordem, já na fase final, havia a falta de vontade para me debruçar sobre coisas do passado. Pretendia durar os últimos tempos da minha existência sem alterar substancialmente a rotina a que me tinha habituado desde sempre. Até, mesmo, no tempo em que a minha companheira era viva. Sem grandes sobressaltos, sem grandes incómodos e sem que me importunassem muito.
Utilizando, abusivamente, uma expressão, dita "Zen", que se pode adequar à minha idiossincrasia, eu resumiria a minha vida passada a isto: "Não andem atrás de mim porque posso desconhecer o caminho. Não andem à minha frente porque posso não querer seguir-vos. Não andem ao meu lado; deixem-me, apenas, andar sozinho." Foi assim que vivi e assim acabei...
Em conclusão: não lamentem a minha morte, assim como eu não lamento a vida que tive e os fragmentos de felicidade que desperdicei. Não tive culpa de ter vivido durante muito tempo e muito menos ter sabido aproveitá-lo conforme se proporcionou ou calhou, sempre de forma acidental. Pouco generoso, diga-se em abono da verdade, mas também nunca fiz grande esforço para tirar algum proveito dessa escassa generosidade...
Por último, não me posso queixar do amor incondicional da minha família, embora em vida nunca tivesse querido fazer um acto de contrição por não ter correspondido de igual modo ou de não ter jeito para expressar a minha gratidão por dádiva tão generosa...
Foi como foi, pronto e ponto. Cada um é para o que nasce, como diz o adágio.
Fui.

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TRECHO DE UMA HISTÓRIA INACABADA: ACTO II

por João Castro e Brito, em 15.12.21

Desembarquei, pela primeira vez, em Lisboa numa manhã fresca e cinzenta de Outono. Decorria o ano de 1942.
Há fragmentos de memória que não se desvanecem, assim, do pé para a mão. Um qualquer sentido, uma vez subtil, outra vez abrupto, fá-los despertar, regressando momentaneamente ao pensamento; como se tivesse acontecido ontem.
Lembro-me que soprava, do lado do Cais das Colunas, uma aragem com cheiro intenso a maresia. Jamais vou esquecer esta particularidade. Fizera-me recordar as férias passadas no Algarve, entre Agosto e Setembro. Meu pai alugava casa em Albufeira todos os anos.
Assim que recebia as rendas das fazendas que tinham sobrevivido à loucura perdulária de seu pai, meu avô, estava pronto para partir com a família. E a família só ficava completa com a inclusão do seu estimado e inseparável cão na comitiva.
Era uma azáfama, a preparação da trouxa para o embarque. Ninguém ousava dormir na noite que antecedia o momento mágico da partida. Tentávamos não ser muito efusivos nas nossas manifestações de alegria. O senhor não acarinhava, fosse a que pretexto fosse, esse tipo de emoções, e nós tentávamos não contrariá-lo, não fosse mudar de ideias.
Felizmente para todos, as férias na praia, eram das poucas coisas em que meu pai não se coibia nos gastos. Eram prioridade número um, mesmo que passássemos o resto do ano a usar fatos de cotim e botas com solas cardadas, fizesse calor ou frio.
O odor do Tejo tinha-me reavivado, de forma brusca e violenta, essas memórias ainda frescas e, de repente, senti uma saudade enorme, todavia insuficiente para me fazer vacilar...
Refugiei-me sob as arcadas do Terreiro do Paço, deambulando por ali ao acaso, deixando as horas passarem sem saber ao certo como gerir a minha nova situação. Lisboa abria-se para mim e eu hesitava, tímido.
Ouvira falar, nas minhas tertúlias com camaradas mais vivaços, de um bairro alfacinha muito famoso naquela época - o Bairro Alto - e resolvi perguntar a quem passava como é que se ia até lá. O interlocutor propôs-me a tomada de um "eléctrico" até ao "Camões". Pensei que, com dinheiro contado no bolso, o melhor seria ir a pé e, esclarecido sobre o percurso a tomar, decidi dar corda aos sapatos e pôr-me a caminho...
Embrenhei-me naquele bairro de cangostas e becos, de estendais com roupa a pingar sabão, de cheiro a pataniscas, vinho e serradura proveniente das tascas galegas, quase uma em cada virar de esquina. Aqui e ali ressoavam-me os ecos de fadistas de ocasião, até a voz inconfundível do "Ti" Alfredo ecoava num qualquer rádio de goelas bem abertas. Cruzei-me com um bêbedo vagueando sem nexo, com putas atentando-me com promessas de prazeres inolvidáveis e outros cruzamentos.
Tantas emoções assim de chofre, nessas primeiras horas na capital, tinham-me deixado aturdido e encantado, saboreando tudo o que os meus sentidos puderam, até ali, abarcar.
Inebriei-me com o frenesim dos putos a chutarem na bola de trapos, das rameiras a invectivarem-se com verborreia indescritível, da varina a apregoar, com voz estrídula, algum peixe que lhe sobrara da manhã - a ninhada de gatos que pululava, em esfomeado miado, ao seu redor - e continuei a caminhar...
Exausto, mas estranhamente feliz, esgueirei-me por uma viela escura, a cheirar a vómito e a mijo, e ali verti águas, esquecendo momentaneamente o fedor nauseabundo.
Não senti remorso nem receio. Pensei como era boa a liberdade. Era, definitivamente, "o primeiro dia do resto da minha vida".

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TRECHO DE UMA HISTÓRIA INACABADA: ACTO I

por João Castro e Brito, em 11.12.21

Cansado de ver passar os comboios, e na incerteza quanto ao que o futuro me reservava, resolvi abalar até à capital. Fartei-me daquela cidadezinha de interior, de patrõezinhos preconceituosos que me negavam um posto de trabalho, temendo que o meu apelido lhes pudesse causar engulhos.
Perante tanta má vontade, desisti de andar a "esmolar" de porta em porta. Era tempo de refazer a minha vida noutro lugar, algures onde pudesse passar despercebido e decidisse, de motu proprio, sem grilhetas nem estigmas.
Desta feita, em vez de continuar a vê-los passar, decidi apanhar o último, levando comigo apenas a roupa que trazia no corpo, algum dinheiro que minha mãe tinha providenciado, e a vontade indelével de esquecer tudo o que ficara para trás. Não guardei tristezas nem rancores, nem deitei culpas a meu pai pelos meus insucessos, nem à mulher que me pariu, pela bonomia excessiva, em face dos destemperos do marido com relação à nossa educação; muito particularmente à minha, pois um infeliz acaso quis que saísse primogénito...
Lembro-me ainda que, por essa infeliz razão e outras, fomos educados por forma a sermos comedidos, de acordo com regras de contenção e sobriedade impostas por meu pai, não obstante pertencermos a uma família pequeno-burguesa. Por exemplo, um dos meus irmãos, em pleno pino do Verão, pediu-lhe que mandasse fazer um fato mais leve para suportar melhor a canícula. Resposta imediata e sem apelo: a escolha dos tecidos, dos cortes e a altura apropriada para encomendar fatos, ou lá o que fosse necessário, era da sua exclusiva competência e não de um "imberbe" qualquer, enfatizando, bem, a palavra "imberbe". Meu irmão, que também não era bom de assoar, escolheu andar todo o santo Verão com uma batina de Inverno, de fazenda grossa, usada no colégio e a suar as estopinhas. Não se tivesse armado em cuco, pois então!
Recordo, como se fosse hoje: acabara de sair da adolescência, com as necessidades inerentes a essa mudança em todos os sentidos. É claro que dependia muito dos tostões que minha mãe sorrateiramente me metia no bolso, presumo que com algum receio de ser descoberta e também - garanto - com muito sacrifício. Isto porque meu pai nunca teve o costume de dar-nos dinheiro ou agraciar-nos com mimos. Pelo contrário, geria a economia do lar, destinando dinheiro para isto ou para aquilo, com metódica parcimónia; hábito que lhe ficou, em face dos maus exemplos de esbanjamento de bens de família por parte de meu avô paterno, nomeadamente dádivas "generosas" à Igreja e outros gastos desregrados com o jogo e sabe-se lá que mais. O seu filho herdara a gestão de uma casa quase arruinada e, associado a essa triste herança, o corte de relações com a família paterna por ter cometido o "sacrilégio" de se perder de amores por uma campesina analfabeta - a senhora, minha mãe...
Outro paradigma da personalidade agreste do meu progenitor, este de carácter anti-religioso, foi o facto de um dia eu ter aparecido em casa com uma gravura de "Nossa Senhora" que uma professora bem intencionada, mas desconhecedora do seu azedume contra a Igreja, tinha guardado dentro de um dos meus livros. Foi o suficiente para ele ter-se deslocado propositadamente ao colégio para travar-se de razões "filosóficas" com a infeliz criatura.
Épocas natalícias, pascais ou outras celebrações de carácter religioso, eram festas que passavam sempre ao largo da nossa casa. Jamais nos confessou o porquê de tão obsessiva intolerância. Presumo que tivessem sido ressentimentos contra a insensatez de meu avô, em face das ofertas excessivas aos clérigos...
Com vontade de apagar todas estas más recordações parti, um dia, sem saber o que me esperava, mas com uma certeza: um desejo inabalável de fugir. Sair daquela casa para sempre. Libertar-me, definitivamente, da persistente dúvida de ficar ou partir...

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CONSULTÓRIO SENTIMENTAL

por João Castro e Brito, em 09.12.21

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- Mamã, não sei o que lhe deu! Amo-o tanto, tanto e ele continua a defender tudo! Repara, mamã, que não há meio de tomar a decisão pela qual anseio há tanto tempo! Mais valia que arrumasse as botas porque o que é demais é moléstia e ele tem demonstrado que trocar os pés pelas mãos deixa marcas que não se podem apagar! 
O que mais me chateia, mamã, é que quando tento aproximar-me dele, rechaça-me para lá da linha de cabeceira e exige garantias de segurança e bola estável. Bem insisto! Contudo, ele defende todos os tentos!
Já experimentei ir à figura, mas ele afasta-me sempre com as pontas dos dedos. Nem sequer me sinto indefesa! Achas que esgotei todos os recursos, mamã?
- Escuta, filha, pelo que me contas, creio que, idealmente, terás de treinar muito as jogadas de antecipação. Movimentas-te ao primeiro toque, conduzes as pontas de lança pelo miolo do terreno e obriga-lo a vários golpes de rins.
Como se não o conhecesses, valha-te Deus, minha filha! Sabes que ele só resiste até um determinado momento porque, lá no fundo da rede, adora ser batido. Se seguires o meu conselho, pode ser que consigas dominar o histérico e mitigar o prejuízo que se adivinha. Oxalá esteja enganada e não tenhas de correr muito atrás dele (do prejuízo). Ao prosseguires com esta estratégia, ele vai ter de te marcar à zona; não tem outra alternativa. Se falhares, serás obrigada a mudar de flanco, parando no peito e tentando meter na pequena área. Batido, ele nada pode fazer senão carregar-te à margem regulamentar. Se tal acontecer, tens de fazer vista grossa. Caso contrário, vais beneficiar o infractor. Prevejo que, com esta estratégia, talvez possas conseguir um empate ao fim dos primeiros 45 minutos. Será preferível a este arrastamento sem justificação. Agora, se continuar tudo por definir até ao final do tempo regulamentar, então, minha filha, só te resta jogar fora de casa porque esta coisa não pode prolongar-se ad aeternum!»

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A TODOS OS HABITANTES DOS MARES DE PORTUGAL

por João Castro e Brito, em 06.12.21

a todos os habitantes dos mares de portugal.jpg

Esta é a grande novidade há muito tempo almejada pela população submarina e sucessivamente adiada por motivos que não vêm ao caso, mas, em todo o caso, deve-se salientar que foram objecto de negociações aturadas com alguns parceiros sociais, às quais não faltou a indispensável peixeirada e a inevitável salgalhada.
Apesar do momento não ser o mais adequado, entendeu o senhor Ministro dos Mares e das Marés, Doutor Marinho do Ó Carapau, avançar com o projecto. E julgamos que o fez por estar de maré, mesmo estando a "remar contra a maré", segundo a oposição. Os escamados do costume, enfim...
Sempre atento aos anseios da comunidade marinha, ou ele não fosse marinho e não obstante a maré estar baixa, dado que o mar atravessa uma maré de azar, decidiu, finalmente, fazer aprovar por unanimidade, com algumas trocas de solhas e muita caldeirada à mistura, uma medida de apoio extraordinária que vai de encontro às expectativas da generalidade dos seres subaquáticos: mandar construir o Lula Parque, aproveitando a reserva extraordinária do Fundo Marinho de Investimento (FMI).
A consecução desta obra vem preencher uma enorme lacuna (não confundir com laguna) no panorama lúdico-subaquático nacional.
Em verdade verdadíssima, dentro em breve, vai ficar tudo em polvorosa (deve pronunciar-se polvo rosa).
Será obra feita para que nos possamos divertir à brava no Lula Parque. Longe vão os tempos em que se faziam obras de fancaria e, ademais, de Santa Ingrácia!
Podemos andar às voltas, sem cessar, nos carrissóis de camarão, conduzir carrinhos de chocos, visitar o Submarino Nautilus do Capitão Nemo e deixarmo-nos tactear nas escamas, barbatanas e conquilhas, por ventosas de górgonas tailandesas, com a garantia, devidamente certificada, de finais felizes. Contudo, não há bela sem senão: Segundo a mitologia grega, as górgonas tailandesas são muito feias e más como as cobras. Logo, não devemos encará-las sob risco de ficarmos petrificados ou, na pior das hipóteses, sermos transformados em caras de bacalhau.
Ficaremos sem pinta de sangue nas guelras quando deslizarmos vertiginosamente na montanha russa do Canhão da Nazaré.
Pescadinhas ciganas de rabo na boca ler-nos-ão a sina na palma das barbatanas! Vai ser um fartote de prazer no Lula Parque! Garanto-vos pelas alminhas das belas nereidas a quem Camões, num momento de insuflação criadora, chamou Tágides.

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AS PERNAS

por João Castro e Brito, em 05.12.21

as pernas.jpg

Por razões que a própria razão desconhece, e sublinho que desta vez não se trata de razões do coração, apeteceu-me escrever sobre as pernas. Para quem não sabe, em princípio, são duas; e não confundam a expressão com o acto de escrever em cima das pernas (ou dos joelhos, como vos aprouver). A propósito, é um (mau) hábito que tenho, mas é assunto que poderei abordar noutra altura.
Então, em relação às pernas propriamente ditas, poder-se-á afirmar, com algum rigor científico, que só existem dos joelhos para baixo. Se se pretender confirmar tal evidência num sentido estrito, então, teremos de admitir que efectivamente as pernas começam na bacia e terminam nos pés que também são dois até ver.
As pernas, à semelhança de outras partes do corpo, podem classificar-se de duas maneiras: localização relativa e forma. Relativamente à localização ou localização relativa que não é a mesma coisa que localização absoluta – já descrita nos primeiros parágrafos – , temos as pernas esquerda e direita.
Já foram relatados casos em que existe mais uma perna: a do meio, mas isso será tema para outro artigo; uma coisa mais elaborada, lá mais para a frente. Assim a memória não me atraiçoe.
É fácil distinguir quais são as pernas direita e esquerda se, de antemão, estivermos habituados a escrever com a mão direita e a coçar uma orelha – habitualmente a esquerda que é onde se tem mais comichão (não tem explicação) – com a mão esquerda. Isto se a pessoa não for canhota porque se for, o caso muda de figura.
No respeitante à forma, as pernas podem ser perninhas; pernocas; pernões; pernaças; pernas-longas; pernas às costas; pernas para o ar; pernas de alicate; perninhas de rã; pernas de frango; pernas de peru; presuntos; et cetera.
As pernas, ou membros inferiores, não obstante serem maiores do que os membros superiores (geralmente), são constituídas pelas ancas, coxas, por si próprias e, naturalmente, pelos pés.
Uma perna sem pé, é uma perna coxa. Porém, um pé sem perna é um pé coxinho. Em ambos os casos há uma perna que é sempre mais curta do que a outra que se convencionou chamar de perna manca.
A articulação das coxas com as pernas é feita através dos joelhos que encerram as rótulas, elementos indispensáveis neste processo de ligação dos ossos, sem as quais estaríamos constantemente a dar pontapés na testa, o que convenhamos, não seria nada agradável! Para esse efeito existem as canelas que não são propriamente uma especiaria, mas antes aquele espaço entre os pés e os joelhos, esse sim, apropriado para levar caneladas.
Os pés merecem, ainda, uma referência especial, como é óbvio, embora me faltem as palavras para explicar os motivos de tal obviedade.
Independentemente de serem grandes ou pequenos, podem ser chatos; de galinha; de galo; de lã; de atleta; de meia; de bailarina; de dança; de elefante; de lótus; de feijão; de salsa; de cabra; de chumbo; de pato; de igualdade e de cereja. Isto para não dizer dos tão apreciados pezinhos de coentrada e de leitão.
Trata-se, também, de uma zona anatómica que, às vezes, gera alguma confusão nas pessoas menos esclarecidas. E porquê? – perguntam vocês com toda a propriedade. Porque, com efeito, as partes baixas do corpo são os pés e não as partes pudendas, como erradamente devem ter presumido.
A talhe de foice, os pés articulam-se com as pernas através do calcanhar de Aquiles (em princípio são dois ou seja: um em cada pé). No entanto não se pode esquecer o papel complementar e determinante do tendão de Aquiles (igualmente dois, até ver) em qualquer acção locomotriz dos membros inferiores.
Quanto à utilidade dos pés, vou ter de pedir a vossa ajuda para fazermos a seguinte experiência:
Façam o favor de não se sentarem, ou se estiverem sentado(a)s, levantem-se. Em seguida avancem, naturalmente, a perna direita cerca de vinte centímetros. Se já fizeram esse pequeno movimento pedestre, acabaram de dar "um pequeno passo para o Homem".
Agora, avancem lentamente a perna esquerda cerca de três metros. Já está? Em linguagem coloquial, deram "um salto gigantesco para a Humanidade".
Finalmente, movimentem alternadamente uma perna e outra, tanto para trás, como para a frente. Podem até recuar estrategicamente um passo para dar dois à frente, enfim, fica ao vosso critério.
É para o que as pernas servem: para andar; tanto para trás, como para a frente e, em certas circunstâncias, para o lado, como facilmente depreenderam; e também deduziram que esta coisa da anatomia é uma grande pepineira.
E pronto; se quisermos e tivermos muita força de vontade, podemos fazer muita coisa com uma perna às costas ou até com as duas.
Resta a velha e sacramental exclamação: Pernas pra que vos quero!

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