por João Castro e Brito, em 15.04.21
Penso, embora como sempre sem certeza, que a generalidade das pessoas sabe que Portugal, independentemente dos actores do poder e das doutrinas políticas que o têm norteado, criou uma casta, até hoje irremovível, de sacerdotes; uma espécie de guardiões do (seu) templo que, como tal, têm resistido ao longo de gerações a alterações do seu estatuto. E quando refiro o termo "ao longo de gerações", quero dizer que é código que persiste desde tempos afonsinos. Quando mais não seja para perpetuar anos de constantes favores intra-casta e por conta das contas públicas (vulgo o nosso dinheirinho). Pode ser esse costume e as defesas intransponíveis que em torno dele criaram, o que os tem livrado do ónus da justiça. Esse, somente reservado aos que não movem influências e também àqueles que estão "predestinados" a servirem de exemplo da incorruptibilidade dos princípios em que assenta a "democracia". No mínimo, do fim de um feliz estilo de vida que o mérito por si só, em igualdade de direitos e deveres com os restantes cidadãos, não o garantiria necessariamente.
E pronto, vem mais este desabafo a propósito de quê? Raios partam esta memória! Ah, a propósito do desfecho, mais que previsível, de um processo que se andou a arrastar durante sete anos: a tal "Operação Marquês", com um juiz a demolir a acusação com epítetos como " fantasiosa, inócua, pouco rigorosa" e outras pérolas de deixar estupefacto quem esteve presente no Campus de Justiça, dia 9 de Abril de 2021.
Sete anos e vinte e oito arguidos. No final desta tragicomédia nacional, apenas cinco vão a julgamento por indício de crimes onde não se inclui a palavra corrupção. Adivinha-se mais um arrastar da coisa, com o MP a recorrer da "decisão instrutória" e os advogados dos indiciados a acusarem o MP de manipulação da Justiça, enfim, o folclore habitual. Prevejo um processo com mais um acrescento de milhares de páginas. Quiçá lhe mudem o nome para Operação Marquesa.
Com sorte, para os restantes pobres arguidos, pode ser que prescreva...
Um bom pretexto para os novos fascismos se arvorarem em moralizadores do sistema...
Ai, o meu pobre país de Abril!