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entrevista com omar sharif.jpg

Como é comum em cenas imaginárias onde entram árabes muito maus e muito feios, as entrevistas são quase sempre feitas – salvo uma ou outra excepção – em esconderijos secretos, fortemente guardados, de preferência no meio do deserto, uma coisa, assim, a modos das arábias, estão a topar? Penso que conseguem idealizar um esconderijo, tal e qual, com camelos, baba de camelo, beduínos, babuínos, tempestades de areia, dunas, Rui Reininho, oásis, et cetera, n'é verdade? Bom, só para vos aguçar a argúcia e apetite voraz pela leitura, nomeadamente deste género, o palco proposto não foge à regra.
Por uma questão de segurança, acordada entre as partes, não vá o diabo tecê-las, fica tudo na poeira do deserto.
Por conseguinte, sejam regrado(a)s e não esqueçam um preceito muito importante: por muito crível que vos pareça, não devem acreditar em tudo o que ouvem, ou que lêem, ou até, mesmo, vislumbram. Cinjam-se somente ao que vêem. Razão tinha São Tomé ao afirmar um dia uma frase que ficou célebre: "Isto, só visto porque contado ninguém acredita!"
Portanto, caros e incertos leitores e leitoras, só devemos fazer fé das coisas, ou dos factos, perante o que vimos, ou em face do que verificamos (passe a redundância).
Posto isto, tendo sido só um aparte na tentativa – sei que vã – de introduzir alguma seriedade nesta estória, prossigamos.
Eis, então, o registo de uma entrevista que todo o jornalista que preze a sua profissão gostaria de fazer sem receio de perder a cabeça. Penso, embora sem convicção, que vai ficar para os anais da estória jornalística:
- Jornalista 1: «Senhor Sharif, antes de prosseguirmos com a entrevista, deixe-me dizer-lhe que o senhor tem uma parecença extraordinária com o actor americano, Marty Feldman!...»
- Omar Sharif, depois do tradutor (cavalheiro de óculos escuros) verter a pergunta, não sem antes ter ido verter águas (o senhor Sharif, entenda-se): «Eh pá, isto foi uma vontade imperativa de mudar. Não sei se sabem, mas eu era um puto muito feio; todos me rejeitavam na escola, principalmente as miúdas, e, sei lá, talvez por obra e graça de Deus (vulgo Alah) e só depois de ter visto "Frankenstein Júnior", fiquei rendido, pá! Desde então, foi um sonho que persegui incansavelmente. Um dia olhei-me ao espelho e pensei, cá, para os meus botões: "Tenho de mudar de visual, porra, isto assim não pode continuar!". Devia ter à volta de doze anos, mais coisa, menos coisa. Aliás, já tinha visto todos os filmes do Mel Brooks onde entrava o Marty. Porém, "Frankenstein Júnior" encheu-me as medidas. Principalmente a corcunda do Marty. Aquela giba excitava-me imenso! E os olhos dele, pá, olhem, não consigo explicar; eram bestialmente lindos! A talhe de foice, você também não é nada de desperdiçar, hã?! Cuidado consigo, você é mesmo um pão! Um bocadinho a puxar para o balofo, mas é assim que eu gosto. Não quer ser meu concubino? – Pausa para verter águas (o senhor Sharif, obviamente)
E prontos, pá, um dia dei de caras com o papá e, cara a cara, disse-lhe que não me sentia bem com a minha cara de enterro; queria dinheiro para fazer uma operação plástica. O papá mirou-me, com cara de poucos amigos: que não; que eu era a sua cara chapada; que uma operação dessas custava os olhos da cara e eu, sinceramente, fiquei com cara de tacho. Apeteceu-me vergá-lo, ali, à má cara, palavra! Contudo, contive-me e voltei-lhe a cara. A partir daquela infeliz conversa, fiquei-lhe com um pó danado e passei a congeminar uma maneira de me vingar da desfeita. Assim, um dia esperei que adormecesse e degolei o gajo, prontos! Não me perguntem por que é que o fiz, pois não tenho resposta para aquele acto tão tresloucado, tão...tão vil, tão...tão parricida. Sou assim, por natureza, muito repentista, muito imprevisível, q'é que querem?
Muito mais tarde, e com muitos sacrifícios, consegui juntar umas massas para fazer a operação – só Deus (vulgo, Alah) sabe quanto sofri, mas valeu a pena. Como já tiveram a oportunidade de constatar, a operação foi um êxito e os sacrifícios também, não obstante ter ficado com a cara à banda...»
- J1: «Indubitavelmente, senhor Sharif, entre um e outro, é difícil destrinçar entre o original e a réplica, exceptuando a barba, naturalmente. Ah, e agradeço o elogio, mas sou heterossexual, senhor Sharif!... Mas, indo ao encontro do assunto que nos propusemos trazer aqui, não sem antes o termos submetido à sua aprovação, porquê Califa?»
- Omar Sharif: «O que é que isso tem? É um título como outro qualquer. Bem vê, a Merkel é uma chanceler, o Putin é um czar, o Trump é um xenófobo, o Professor Marcelo é um beijoqueiro e eu decidi ser um Califa e, na minha opinião, foi uma decisão que tomei de bom grado e em boa hora!»
- J2: «Pensava que esse termo tinha alguma conotação religiosa...»
- OS: «Eh pá, isso é tudo uma treta pegada! Intrigas políticas, são o que são! Os gajos roem-se todos com inveja porque sabem que eu só limpo os pés a tapetes persas, essa é que é essa!»
- J3: «Recuando um bocadinho...»
- OS: «Cuidadinho porque o meu gatinho Hálim está mesmo atrás de si!» – Pausa para verter águas (o senhor Sharif, naturalmente)
- J3: «Não queria dizer isso, senhor Sharif. Recuemos ligeiramente no tempo até à decisão que tomou, de exterminar todos os que se opõem à criação de um grande califado – vulgo Estado Islâmico que, segundo o seu desejo, aliás ambicioso, vai de Mossul...ups, perdão!...Vai daqui até ao califado al-Andalus, passando por Vila Real de Santo António, com paragem em Tunes; isto em linha recta, evidentemente.»
- OS: «Se quer que lhe diga, não tenho a certeza de ter tomado tal decisão, pois não me lembro e pouco posso acrescentar ao que já disse. Aliás, conheci muito mal esses pobres infiéis e oxalá (vulgo, insha' Allah) continue assim...
Havia uns jornalistas americanos, n'era?... Sabem... não estou muito a par disso porque nunca assisti à decapitação dessa gente q'é que querem? Não vou à bola com eles, prontos! Mas sosseguem que vocês, enquanto estiverem aqui a registar esta entrevista, estão, mais ou menos, seguros... e digam lá ao Professor Marcelo q'a gente ainda não esqueceu a forma como esse filho d'um sacrista do Afonso Henriques correu connosco de Lisboa, hã?! A minha malta não é de vinganças, mas sabem como é, n'é? A propósito: o gajo ainda é vivo?»
- J3: «Não, senhor, morreu faz séculos... Mas insisto, porque é que matam gente inocente?»
- OS: «Isso, também eu gostava de saber!... A mente humana tem destas coisas! Sabe, é complicado, muito complicado, nós somos assim, muito repentistas. Eu próprio tenho medo da minha imprevisibilidade e, sem que alguém anteveja – inclusive eu – , degolo qualquer um que lute contra o Islão, fique ciente disto!»
- J1: «Ok, mas a criação do auto-proclamado Estado Islâmico, parece ter coincidido com a retirada das tropas americanas do Iraque. Há alguma relação?»
- OS: «Claro que há, mas neste momento não estou a ver que raio de relação possa existir!»
- J1: «Bom, mudemos de assunto, se me permite. As decapitações?»
- OS: «Bom, as decapitações continuam a decorrer a bom ritmo e, embora seja bizarro dizer isto, gramo à brava! Que Deus (vulgo, Allah) me perdoe, mas excitam-me!
- J2: «Mas, todos os condenados são inimigos do Islão?»
- OS: «De quem?!»
- J2: «Do Islão, o islamismo, a vossa fé, a revolução islâmica!...»
- OS: «Ah, isso!...Peço desculpa, estava a cofiar a barbicha...Bem, mas nem todos são adversários do...qual foi o termo que usou?»
- J2: «Pois... No Ocidente, nomeadamente nos Estados Unidos da América, para além de abominarem a frieza hedionda com que executam pessoas inocentes, criticam algumas das suas medidas como, por exemplo, a proibição da música...»
- OS: «Ninguém me entende, valha-me Deus (vulgo Alah)! Vou citar-lhe aquela canção do Sinatra: "Strangers in the night", uma que é assim, "Strangers in the night, dubi-dubi-dá...", conhece? Sabe, fala de um homem e uma mulher, dois seres estranhos que se encontram à noite, sem se conhecerem de qualquer lado e depois? Pouca vergonha, n'é?! Não queremos cá nada disso! Ainda se fossem dois homens, apesar de estranhos, vá que não vá! Tenho muita fé em Deus (vulgo Alah) e Ele há-de recompensar-nos, se nos portarmos bem neste mundo. E reparem bem na magnificência do Senhor (vulgo Alah): logo setenta e duas moçoilas virgens para todo aquele que Lhe (vulgo Alah) for fiel! Todavia – permita-me aqui uma ressalva – preferia setenta e dois moçoilos, oh, se preferia!» – Pausa para verter àguas (o senhor Sharif, quem havia de ser?)
- J3: «Quanto à conquista de território no Iraque?»
- OS: «O que é que tem o Iraque? Que é que quer que lhe responda? Só lhe posso dizer que a coisa, agora, está em fase de rescaldo. Perdemos aqui, ganhamos ali; utilizamos algumas armas americanas, outras russas, material capturado, outro comprado no mercado paralelo e alguns produtos químicos para matar mosquitos. São uma praga, pá!»
- J3: «Posso saber quem lhes fornece armas no mercado paralelo?»
- OS: «Se lhe dissesse, você ia pensar que estava a gozar consigo e ia-se escangalhar a rir. Nem eu quis acreditar, veja bem!»
- J1: «Acha que, neste momento, está seguro? Não tem medo de que lhe caia um míssil americano em cima da testa, ou uma daquelas bombas muito grandes que eles testaram, ultimamente, no Afeganistão?»
- OS: «Não, neste momento tenho mais medo dos sismos. Como sabem, estamos em cima de uma placa tectónica muito instável...»
- J1: «Bom, penso que há conformidade geral, ao afirmar que esta entrevista chegou ao fim. Obrigado pela sua colaboração, senhor Sharif.»
OS: «Sempre ao dispor, amigos! Espero que regressem em segurança aos vossos países. Vai um Johnnie Walker? É bonzinho... americano, claro! E umas bolotas de axixe de Marrocos, hum?... Também tenho drunfos, vai?...
Ide pela sombra que o sol queima! E cuidado com as gumias! Allahu Akbar!»
 
Nota final: Tempos após este evento jornalístico, a notícia surgiu, prevista, em grandes parangonas nos meios de comunicação: Omar Sharif faleceu em Teerão, vítima de cancro na próstata e não como resultado do ataque de um drone norte-americano, como Trump tinha propalado no Twitter, sem sondar primeiro os seus consultores. Sempre o mesmo, o Donald. Que pato!

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A NOSSA BOMBA ATÓMICA

por João Castro e Brito, em 21.01.21

a bomba atómica portuguesa.jpg

Como me sobra muito tempo para pensar, tenho andado cá a cismar com uma ideia e decidi revelá-la só pra vocês. Sei cá; há coisas q'a gente não pode, simplesmente, guardar, mesmo que sejam falsas e, afinal, a falsidade até está na moda, n'é? Aliás, segundo Descartes que, como sabem, era um filósofo céptico c'mo caraças, as ideias são o produto de uma imaginação febril e, nessa perspectiva, existe uma necessidade imperiosa de as partilhar com alguém.
A relevância deste sentimento de identificação, digamos assim, prende-se com um aspecto de primordial importância para a nossa sobrevivência como país soberano. Se é que as pessoas ainda têm alguma noção do seu significado. Trata-se, obviamente, de um elemento fundamental para a nossa continuidade como nação independente.
Ora, a minha convicção é a de que estamos muito desprotegidos. A nossa defesa e integridade territorial andam um bocadinho à deriva; não conseguimos impor respeito, inclusive àquelas couvinhas de Bruxelas, e acho que é uma situação muito comprometedora para a nossa credibilidade internacional e, por conseguinte, deixa-nos muito expostos.
Penso que devíamos por cobro, de forma exemplar, a essa falta de consideração. Todos querem botar a pata em cima de nós e não pode ser! Temos de acordar deste maldito sopitamento que nos persegue há séculos! O que lá vai, lá vai. É tempo de olharmos em frente e fazer cumprir Portugal como dizia uma pessoa muito importante, cujo nome não me ocorre de momento.
Assim, lembrei-me da história dos submarinos e surgiu-me uma ideia que julgo que seria do agrado das altas patentes militares, nomeadamente do almirantado e do generalato.
Estou convicto de que ainda há patriotas, sabendo, contudo, que nos debatemos com uma crise de falta de patriotismo que até dá dó! Ao menos valham-nos as honrosas excepções dos políticos da nossa praça, designadamente, aqueles valorosos que estão lá fora, há uma porrada de anos, a lutar pela Pátria no Parlamento Europeu.
E é aqui que entra o conceito que está na base deste artigo: a bomba atómica. Pergunto porque carga d'água é que há países que têm bombas atómicas e nós não? Vá, expliquem-me! Lá porque somos pequeninos não significa que tenhamos menos valor, que diabo! Aliás, até se costuma dizer que os países não se medem aos palmos e, nestas coisas, dou a mão à palmatória da sabedoria popular.
Por isso acho que também devíamos ter uma bomba atómica. Das melhorzinhas, claro. Não queremos cá a porcaria que os americanos já não usam! Mesmo que fosse pequenina! Dava-nos cá um jeitão, não acham?
O ideal era - e aqui é que entra a prestimosa e elevada colaboração dos nossos almirantes - instalá-la num dos Tridente; sim porque a gente só quer uma, não são necessárias mais. Ficava instalada bem à vista para suscitar algum respeito aos transatlânticos que, um dia, não se sabe quando, vão voltar a atravessar o estuário do Tejo num constante vai e vem. Assim, os turistas palermas que nos visitarem, já podem ir contar lá para os seus países que a gente também tem uma bomba atómica e não está para brincadeiras!
É evidente que é preciso ter sempre algum cuidado. Imaginem que esta estrangeirada é mal intencionada e resolve não regressar aos países de origem. Com que intuitos, vá, digam?! Isto, agora, todos os cuidados são poucos, pois, por trás da aparente bonomia de um nórdico estupidamente louro, pode-se esconder um potencial jihadista islâmico!
Assim, para evitar surpresas desagradáveis, levavam logo com uma bujarda de aviso que até andavam de roda e punham-se logo na alheta que era limpinho! Só para não se armarem aos cucos! Depois, fossem lá fazer queixinhas ao Totta q'a gente até agradecia! Sem contar que era bestial para a nossa auto-estima, diga-se de passagem!
A propósito de auto-estima e antes que me esqueça, quero deixar aqui um aparte: reforçar a minha mais profunda admiração pelo nosso falecido rei, D.Sebastião "O Desejado". Ainda estou convicto de que, um dia, sobretudo com nevoeiro, ele há-de vir, se Deus quiser. Não me posso esquecer daquela sua célebre frase: "Mais vale ser rei por um dia, do que escrava toda a vida!", lembram-se? Se isto não era auto-estima, então era o quê? Bem, é assim: não sei se foi ele, se foi o Padre António Vieira ou o Fernão Mendes Pinto, mas isso não é muito relevante para esta estória. O que é relevante é que tenhamos em mente que de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos! Vejam o caso dos ex-soberanos, Juan Carlos e Sofia que, até há bem pouco tempo, dormiam em camas separadas desde que se casaram ou o da infanta Cristina, envolvida em escândalos de corrupção, juntamente com o seu marido, um conhecido empresário mafioso com ligações à Cosa nostra.
Já não há monarquias como no tempo do D. Afonso Henriques. Se bem que o que ele fez à mãe foi muito feio! Todavia, penso que os portugueses o perdoaram há muito porque desse triste episódio resultou este belo "canto à beira-mar plantado", como a malta gosta de dizer.
Mas, voltando ao "Toro de Osborne", é preciso estarmos atentos, não vamos levar uma cornada quando e onde menos esperarmos.
Esta coisa de partilharmos, há séculos, a mesma península, não obsta a que um dia, enquanto estivermos a dormir, os castelhanos não se lembrem de entrar por aqui adentro, aproveitando o facto de termos o mau hábito de adormecer de barriga para baixo.
Por essas e por outras é que era ideal termos a tal bomba atómica preparada para qualquer eventualidade. Além disso, se os "nuestros hermanos" soubessem que tínhamos uma coisa dessas, pensavam duas vezes antes de nos invadirem. Sempre ouvi dizer que o respeitinho é muito bonito! É claro que se atirássemos para lá a nossa bomba, eles podiam retaliar com a central nuclear de Almaraz, rebentar com aquilo e lixar tudo, mas quem tem cu tem medo e, com bomba daqui e central dali, sempre se reduzem as chances de uma crise atómica. É a chamada "paz nuclear", estão a ver a coisa?
A bombinha faz-nos muita falta! É pena estarem tão caras, mas isso também se podia resolver através de uma subscrição nacional. A dividir por todos não custava nada e até podia ser que nos fizessem um desconto especial. Se estamos a sustentar os banqueiros sem termos contrapartidas, não vejo razão para não acarinharmos, patrioticamente, a ideia de uma iniciativa de angariação de fundos para obtermos a nossa bomba atómica. Até pode ser que consigamos comprar uma mais baratinha através da Internet, com garantia de manutenção gratuita contra defeitos de fabrico, o que nos livraria de despesas adicionais, tais como uma explosão acidental, por exemplo.
Com uma arma assim, tão destruidora, acabava-se logo com os repontões do costume. Quem se portasse mal ia logo corrido à bomba atómica, fosse cá dentro ou lá fora!
Vamos lá amadurecer a ideia da nossa bombinha atómica, "faxavor", ok?
Agora, com tantos confinamentos, até temos mais tempo para reflectir...

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contribuição para a declaração universal do do

É claro que ao abordar um assunto desta natureza tão delicada, as pessoas podem ficar, de um modo geral, com a ideia irreflectida de que a minha perspectiva implica imediata rejeição sociocultural subjacente, quiçá adjacente, dada a proximidade entre si. Ora, na minha modesta opinião, isso é mais um tabu e não me perguntem porquê porque não sei. Mas vamos ao que interessa:
Se todos os cidadãos, independentemente do género, cor, ideologia, paixão clubística, credo, orientação sexual e demais orientações, têm o direito inalienável e até, mesmo, constitucional à saúde, pergunto: por obra e graça de quem, é que não podem escolher a opção de adoecer? Não será, também, um direito de cidadania inabdicável?
Entenda-se por adoecer, a prova cabal e sintomatológica que, como sabem, diz respeito à sintomatologia (esta é de la Palice, ou la Palisse, como quiserem) de estados de saúde reconhecidos internacionalmente como doença.
Assim, deixo aqui algumas sugestões, ou propostas. Certamente que são muito controversas, não nego, mas presumo que, com alguma pertinência, em face da situação em que se encontra a saúde em Portugal desde tempos imemoriais.
No fundo, penso que poderá ser uma achega para agradar a todos de um modo geral e a alguns de um modo particular; a ordem dos factores é arbitrária. Por conseguinte, distribuamos o mal pelas aldeias que bem precisadas estão:
 
Proposta nº1: À semelhança de todos os cidadãos com direito à saúde, os cidadãos com direito à doença também devem ter acesso a uma cama e enfatizo: sem distinção de género, cor, ideologia, paixão clubística, credo, orientação sexual, et cetera.
Se não houver camas suficientes, os cidadãos doentes podem optar por permanecer numa maca ou numa cadeirinha de rodas em qualquer lugar de um estabelecimento hospitalar público, desde que não obstruam o caminho. Os corredores, regra geral, são a solução mais adequada.
 
Proposta nº 2: Os cidadãos com direito à doença têm o dever de impor a cessação da isenção do pagamento de taxas moderadoras no acesso às prestações de doença. E mais: Devem exigir, através dos seus subsistemas de assistência à doença – se estes não forem à falência – que as taxas moderadoras, o internamento e todas as prestações implícitas aumentem regularmente no início de cada estação do ano, sendo que o referido aumento deverá ser superior em 10 por cento ao valor da inflação trimestral anterior; seja ano comum, ou bissexto.
Desse modo, a sobretaxa que sobrevem à taxa de 10 por cento, podia reverter a favor de um fundo destinado a dar um penso a cada deputado da Assembleia da República que se oponha a esta extraordinária ideia. Ninguém está interessado em sustentar gajada desta que transpire sinais preocupantes de saúde por todos os poros!
 
Proposta nº3: Todos os cidadãos doentes têm o direito de esperar, pelo menos um ano, por uma operação à vesícula (menciono a vesícula a título de demonstração; pode ser outro órgão qualquer, desde que dê chatices a sério), mesmo que essa espera lhes cause inchaços, gases, enjoos, tonturas, dores nas costas, hálito fétido, icterícia e outros sintomas associados: são os efeitos normalíssimos de uma vesícula estragada.
Contudo, se ultrapassarem o prazo de espera para além dos cinco anos não stressem, pois o fim está próximo.
Devido à actual crise económica e social – digo actual porque já houve "bué" crises em Portugal – e à conjuntura planetária fortemente desfavorável (perguntem à astróloga Maia), a utilização de meios médicos complementares que, como sabem, vêm a seguir aos meios médicos elementares, devia ser fortemente regulamentada por forma a evitar maus usos por parte de alguns doentes, nomeadamente os do SNS, esses tesos do caraças, sempre de mão estendida, mendigando cuidados de saúde que não estão ao alcance de todos, naturalmente!
Não nos esqueçamos que sem doentes não há médicos, logo os doentes são a espinha dorsal da classe médica, n'é verdade?
 
Proposta nº 4: Os cidadãos com direito à doença têm o dever cívico de abandonar qualquer instalação hospitalar imediatamente, sem prejuízo da medicação a que estiverem sujeitos, a fim de abrirem vagas para outros doentes. Inclusive os doentes que forem submetidos a operações de peito aberto, ou qualquer outra coisa aberta. Devem sair rapidamente após terem sido suturados. Os hospitais públicos não são hotéis, que diabo!
E pronto; penso que a minha ideia tem pernas para andar, mesmo que sejam mancas. Uma coisa é certa: o primeiro objectivo foi concretizado há uma porrada de tempo, ou seja: aumentar o número de doentes em Portugal.
O segundo é ambicioso, mas não é impossível: transformar o nosso país, num lugar inóspito e, naturalmente, doentio. Muitos ministros da saúde desempenharam um papel importante na consolidação deste objectivo, salvo uma, ou outra vergonhosa excepção, nomeadamente o "pai" do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut que nunca devia ter nascido, esse grande malandro!

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COMO VAI A CULTURA, ZÉ?

por João Castro e Brito, em 08.01.21

como vai a cultura, zé.jpg

Bem, pá, na literatura e ensaio, o ano de 2021 talvez nos traga algumas boas surpresas, mas, se calhar, só depois do Verão. Uma delas até pode vir a tornar-se algo bombástica no panorama literário nacional. Segundo alguns estudiosos da obra pessoana, estarão por revelar mais 27 heterónimos de Fernando Pessoa, entre os quais se destacam dois em quirguistanês, um em aimará, outro em azerbaijano e quinze que o poeta não teve tempo de usar em vida.
Os especialistas chegaram a este lindo resultado depois de pesquisas arqueológicas no ano da morte de Ricardo Reis que se presume ter acontecido ao entardecer.
Ao seu excelente trabalho de investigação, deve-se, também, a exumação de três lenços de linho lindamente bordados e em muito bom estado de conservação, dez gramas de rapé, ainda consumível, duas peúgas desirmanadas, uma delas muito puída, conservando o cheiro das pústulas do "pé de atleta" de que o poeta padecia e, por último, um papel amarelecido pelo tempo, com um rabisco de duas estrofes do poema Fragmentação do "Eu".
Há quem especule que doeu muito, pois podem ter sido escritas em cima do joelho, num momento de negação da própria identidade, associado a dores no menisco.
Outros julgam tratar-se de um poema da autoria de Martinho da Arcada, rabiscadas num instante de exaltação do ego de Álvaro de Campos, entre uma bica e um bagaço, embora tal suposição careça de confirmação do Instituto de Estudos Sobre o Modernismo (IESM), nomeadamente, sobre o conhecimento da existência deste verdadeiro achado na obra édita do poeta, a qual, a meu ver, seria inédita, por muito contraditório que isto possa parecer.
Há ainda quem pense que foi a inspiração de Alberto Caeiro, numa das raras ocasiões de excitação espiritual, quase alucinante, e que hoje parece constituir uma raridade literária.
E pronto, pá, desculpa lá, mas por hoje é tudo porque me está a dar o sono. Porém, antes de terminar, deixa-me dizer-te mais uma coisa: é que até posso estar muito enganado, mas, salvo raras e desonrosas excepções, e a fazer jus a esta pequena abordagem, a nossa cultura parece rejubilar de saúde...
Em próximo artigo divagarei sobre outras áreas culturais não menos relevantes. É só teres um bocadinho de paciência. Boa noite e um abraço.

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