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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
É claro que ao abordar um assunto desta natureza tão delicada, ademais em tempo pandémico, as pessoas podem ficar, de um modo geral, com a ideia irreflectida de que a minha perspectiva implica imediata rejeição sociocultural subjacente, quiçá adjacente, dada a proximidade entre si. Ora, na minha modesta opinião, isso é mais um tabu e não me perguntem porquê porque não sei. Mas vamos ao que interessa:
Se todos os cidadãos, independentemente do género, cor, ideologia, paixão clubística, credo, orientação sexual e outras orientações, têm o direito inalienável e até, mesmo, constitucional à saúde, pergunto: por obra e graça de quem, é que não podem escolher a opção de adoecer? Não será, também, um direito de cidadania inalienável?
Entenda-se por adoecer, a prova cabal - não confundir com cabala - e sintomatológica que, como sabem, diz respeito à sintomatologia (esta é de la Palice, ou la Palisse, como quiserem) de estados de saúde reconhecidos internacionalmente como doença.
Portanto, deixo aqui algumas sugestões, ou propostas. Discutíveis, certamente, mas presumo que com alguma pertinência em face da situação em que se encontra a saúde em Portugal desde tempos imemoriais. No fundo, penso que poderá ser uma achega para agradar a todos de um modo geral e a alguns de um modo particular; a ordem dos factores é arbitrária. Por conseguinte, distribuamos o mal pelas aldeias que bem precisadas estão:
Proposta nº1: À semelhança de todos os cidadãos com direito à saúde, os cidadãos com direito à doença devem ter direito a uma cama e enfatizo: sem distinção de género, cor, ideologia, paixão clubística, credo, orientação sexual, et cetera.
Se não houver camas suficientes, os cidadãos doentes têm direito a permanecer numa maca em qualquer lugar de um estabelecimento hospitalar público, desde que não obstruam o caminho. Os corredores, regra geral, são a solução mais adequada.
Proposta nº 2: Os cidadãos com direito à doença têm o dever de impor a cessação da isenção do pagamento de taxas moderadoras no acesso às prestações de doença. E mais: Devem exigir, através dos seus subsistemas de assistência à doença, se estes não forem à falência, que as taxas moderadoras, o internamento e todas as prestações implícitas aumentem regularmente no início de cada estação do ano, sendo que o referido aumento deverá ser superior em 10 por cento ao valor da inflação trimestral anterior; seja ano comum, ou bissexto. Este último com 366 dias, como facilmente inferiram.
Desse modo, a sobretaxa que sobrevem à taxa de 10 por cento, podia reverter a favor de um fundo (ou fundação, como queiram - olhem, por exemplo, a favor da fundação Champô Limão, porque não?!) destinado a dar um penso a cada deputado da Assembleia da República que se oponha a esta extra...ordinária ideia. Ninguém está interessado em sustentar gajada desta que transpire sinais preocupantes de saúde por todos os poros!
Proposta nº3: Todos os cidadãos doentes têm o direito de esperar, pelo menos um ano, por uma operação à vesícula (menciono a vesícula a título de demonstração; pode ser outro órgão qualquer, desde que dê chatices a sério), mesmo que essa espera lhes cause inchaços, gases, enjoos, tonturas, dores nas costas, hálito fétido, icterícia e outros sintomas associados. São os efeitos normais de uma vesícula estragada. Contudo, se ultrapassarem o prazo de espera para além dos cinco anos não stressem, pois o fim está próximo.
Devido à actual crise económica e social (vulgo efeitos colaterais do "novo coronavírus") - digo actual porque já houve "bué" crises em Portugal - e à conjuntura planetária fortemente desfavorável (perguntem à astróloga Maia), a utilização de meios médicos complementares que, como sabem, vêm a seguir aos meios médicos elementares, devia ser fortemente regulamentada por forma a evitar maus usos por parte de alguns doentes, nomeadamente os do SNS, esses tesos do caraças, sempre de mão estendida, mendigando cuidados de saúde que não estão ao alcance de todos, naturalmente!
Não nos esqueçamos que sem doentes não há médicos, logo os doentes são a espinha dorsal da classe médica, n'é verdade?
Proposta nº 4: Os cidadãos com direito à doença têm o dever cívico de abandonar qualquer instalação hospitalar imediatamente, sem prejuízo da medicação a que estiverem sujeitos, a fim de abrirem vagas para outros doentes. Inclusive os doentes que forem submetidos a operações de peito aberto, ou qualquer outra coisa aberta. Devem sair rapidamente após terem sido suturados. Os hospitais públicos não são hotéis, que diabo!
E pronto; penso que a minha ideia tem pernas para andar, mesmo que sejam mancas. Uma coisa é certa: o primeiro objectivo foi concretizado há uma porrada de tempo, ou seja: aumentar o número de doentes em Portugal.
O segundo é ambicioso, mas não é impossível: transformar o nosso país, num lugar inóspito e, naturalmente, doentio. Muitos ministros da saúde desempenharam um papel importante na consolidação deste objectivo, salvo uma, ou outra vergonhosa excepção, nomeadamente o "pai" do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut que nunca devia ter nascido, esse grande malandro!
Bom, na literatura e ensaio, o ano de 2021 talvez nos traga boas surpresas. Uma delas pode vir a tornar-se quase uma bomba no meio literário nacional. Segundo alguns estudiosos da obra pessoana, estarão por revelar mais 27 heterónimos de Fernando Pessoa, entre os quais saliento dois em quirguistanês e quinze que o poeta não usou em vida.
Os especialistas chegaram a este lindo resultado depois de pesquisas arqueológicas no ano da morte de Ricardo Reis que se presume ter acontecido ao entardecer.
Ao seu excelente trabalho de investigação, deve-se, também, a exumação de três lenços de linho lindamente bordados e em muito bom estado de conservação, dez gramas de rapé, ainda consumível, duas peúgas desirmanadas, uma delas muito puída, conservando o cheiro das pústulas do "pé de atleta" de que o poeta padecia e, por último, um papel amarelecido pelo tempo, com um rabisco de duas estrofes do poema Fragmentação do "Eu" Muito, que se pensa ter sido escrito em cima do joelho, num momento de negação do próprio "eu", e que a seguir transcrevo.
Convém relembrar os conhecedores do legado de Pessoa que esta composição poética manuscrita, pertence ao grupo original e não àquele que é dado a ler aos putos, actualmente, no décimo segundo ano (?).
Pensa-se que terá sido escrita pelo Martinho da Arcada, num instante de exaltação do ego de Álvaro de Campos, embora careça de confirmação do Instituto de Estudos Sobre o Modernismo, nomeadamente sobre o conhecimento da existência deste verdadeiro achado na obra édita do poeta, a qual, a meu ver, seria inédita, por muito contraditório que isto possa parecer.
Eis o que Alberto Caeiro escrevinhou, numa das raras ocasiões de excitação espiritual, quase alucinante, e que hoje parece constituir uma raridade literária.
A talhe de foice, peço desculpa por algumas alterações morfológicas e sintáticas que, eventualmente, possa ter introduzido aqui, mas penso que, em poesia, vale tudo menos arrancar olhos, como disse alguém cujo nome já se me varreu:
Uma vez amei e senti-me tão baboso q'até julguei que m'amariam, vejam bem!
Mas não fui amado, porra!
Não fui amado por uma única grande e exclusiva razão:
É que não 'tava calhado, q'é que querem?
Quem dera que eu fosse o pó da estrada, catano!
Vejam lá que, ao entardecer, acordo de noite e exclamo: Ah, onde estou?
Deste modo ou daquele modo, seja acordado, ou a dormir.
Sim, já tenho acordado a dormir. Acreditem q'é verdade!
Contudo, começo a conhecer-me e acho que não existo.
No concernente ao teatro, no dia 24 deste mês, se não houver confinamento geral para este evento, como tudo leva a crer, não obstante o Professor Marcelo ter acusado positivo à Covid-19, o Teatro Nacional Dona Maria II, levará à cena a tragicomédia "Presidenciais", de autor anónimo, contemporâneo. Antevê-se que esta peça venha a constituir um importante sucesso de bilheteira, conhecendo-se, de antemão, o seu desfecho. Vamos esperar para ver, se não morrermos antes. Uma coisa é certa: os habituais críticos já tecem cobras e lagartos antes da ante-estreia. Sempre os mesmos!
E, por agora, é tudo. Mas, antes de terminar, deixem-me dizer mais uma coisa: é que até posso estar muito enganado, mas, salvo raras e desonrosas excepções, e a fazer jus a esta pequena abordagem, a nossa cultura parece rejubilar de saúde...
Em próximo artigo divagarei sobre outras áreas culturais não menos relevantes. Façam o favor de se sentar.
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