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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
Embora se aguarde com relativa expectativa uma confirmação oficial, ou pelo menos oficiosa, tudo leva a crer, por muito inverosímil que pareça, que o nome do actual Ministro da Administração Interna (MAI), Eduardo Cabrita, tenha sido proposto pelos comandos da Guarda Nacional Republicana (GNR) e Polícia de Segurança Pública (PSP) e também pela Direcção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), para uma candidatura vacilante a um Prémio Nobel, não se sabendo, ainda, de quê.
Os presidentes da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) não se pronunciaram até ao momento porque estão muito indecisos.
Não obstante ter-se encontrado facilmente um nome sonante, pelos menos para as forças da ordem, parece não haver consenso quanto ao Prémio Nobel a que Eduardo Cabrita se poderia candidatar, como referi. Aliás, o próprio candidato a candidato terá dito a alguém, não se sabendo a quem, que "houve negligência grosseira e encobrimento grave" na proposta da sua nomeação, para além de achar condenável não haver unanimidade quanto ao carácter do prémio, ao que uma alta patente da PSP, terá comentado: "pobre e mal agradecido, é o que é!".
Os delegados sindicais do Corpo de Intervenção da PSP, a despeito da força dos seus argumentos, não teriam logrado impor a tese segundo a qual o notável ministro se deveria candidatar ao Prémio Nobel da Paz.
No entanto, o comando da PSP, à margem da posição divergente dos elementos do sindicato, inclinar-se-ia para o Prémio Nobel da Física, devido à personalidade multifacetada do candidato. Isto, apesar de um dos seus representantes ter afirmado: "Não sabemos o que é a física, mas soa-nos bem."
A GNR tinha apresentado, a princípio, a proposta de candidatura ao Prémio Nobel da Pecuária, mas acabaria por recuar para uma proposição "mais sensata", segundo o porta-voz da corporação que concluiu: "Se o andidato fosse o apoulas Santos, vá ue não vá! Assim, pensamos ue o Prémio Nobel da uímica assenta ue nem uma luva ao nosso ministro. Questionado sobre a razão da escolha desta opção, respondeu: "orque sim, prontos!", despedindo-se com aprumo e alguma altivez, batendo a pala e as botas (não confundir com a expressão inglesa "kick the bucket" q'isso é outra coisa) altas nas pedras da calçada do quartel do Carmo.
Finalmente, o SEF, defendendo uma posição de compromisso, propôs o ministro da tutela para o Prémio Nobel da Língua Estufada, já que EC seria, na opinião do director da instituição, "Um vernáculo representante e continuador da língua de Pina Manique."
Mas, como disse inicialmente, por enquanto isto não passa de um mero boato (ou fake news, pra inglês ver).
Já agora, só a título de curiosidade: Como é consabido, Diogo Inácio de Pina Manique foi Visconde de Manique do Intendente que, no seu tempo, já era um bairro mal afamado. Contudo, não vou adiantar mais nada sobre o assunto, dado que viria a despropósito... Bem, só mais uma achega:
Dona Maria Pia, que nunca escondera a enorme devoção ao seu intendente-geral da polícia, mandou exumar o seu corpo, depois de morto e enterrado, para confirmar se não tinha ficado com olhos de carneiro mal morto. Para certificar o acto, na presença do Bispo Auxiliar de Lisboa, cujo nome é irrelevante para a estória, tiveram de lhe puxar pela língua e constataram que, para além de comprida, tinha a língua morta. Enfim, superstições, misticismos e outros desvarios do espírito humano, naturais naquela época e carecidos de razão, à luz do racionalismo cartesiano (agora esmerei-me). Graças a Deus que os tempos mudaram!
Foi um caso tão insólito que até fiquei de cara à banda! É verdade! Todavia, penso que é caso para admirar e, assim, animar as discussões de café no preciso instante em que passo a divulgá-lo, em primeiríssima mão, e é para já antes que se me varra!
Afinal, o caso não é para menos, dado que não abundam por aí casos como este.
Aconteceu outro dia, à luz do dia (imagine-se), na Rua do Ouro: Um cliente de um conhecido banco foi assaltado à mão desarmada, em plena via ourinária, pelo cofre forte do referido banco que, por acaso, não foi referido.
O meliante, não obstante o peso excessivo e a consequente dificuldade em andar, pôs-se rapidamente em fuga, após o furto das poupanças que o cliente transportava numa mala, as quais, como mais tarde referiu à autoridade, havia levantado até ao último tostão. Este último (não o tostão, mas o cliente), sem razão aparente, ficou atónito e, simultaneamente, estupefacto com a bizarra ocorrência. Pudera, até eu, mesmo sem razão aparente! Mas, do mal o menos porque não houve mortos e feridos e, mesmo que houvesse, alguém havia de escapar, como comummente se diz. Até porque, como se constatou à vista desarmada, o assaltante também agiu desarmado.
O cofre forte viu-se imediatamente perseguido por, nada mais, nada menos que duas polícias montadas (não confundir com o caso da Polícia Montada em canadianas, outra situação insólita e badalada que deixou muita gente perturbada) em bicicletas que, por feliz circunstância, faziam uma ronda pela artéria áurea (não confundir com a artéria aorta que vai dar à horta).
Já a noite ia alta, dir-se-ia que muito próxima do meio-dia seguinte ao assalto, quando foram finalmente capturados e presos preventivamente, a vítima do assalto, o cofre forte e as polícias, depois de devidamente desmontadas, estas por envolvimento emocional com o infractor.
Após a detenção foram mandados despir, a vítima do assalto e as polícias desmontadas (o cofre foi dispensado por uma questão de decoro) e, através dos métodos habituais, utilizados em casos idênticos: identificação documental e impressão genital (não confundir com impressão digital que é um método completamente diferente), constataram que o cliente do banco era do sexo feminino.
Somente o cofre ficou a aguardar julgamento em liberdade, sendo dispensado de apresentações regulares na esquadra da sua área de residência, devido à sua manifesta dificuldade de locomoção.
Mais tarde, apresentados ao tribunal da comarca, entendeu o juiz que o cofre forte do referido banco que, por acaso, não foi referido, era um caso com muito peso e, na circunstância, alegou não ter competência para o julgar, pelo que o processo seguiu os trâmites legais para um tribunal arbitral, por acordo entre as partes, com o auxílio prestimoso de duas gruas que se dirigiram, diligentemente, ao local.
Com respeito à pena aplicada às polícias montadas, dado o carácter "nimiamente emocional e obsessivo" do seu envolvimento com o cofre - segundo as palavras do juiz de primeira instância - , ficaram proibidas de contactar o arguido durante um mês. Esperava-se uma pena mais pesada, em face do acto irreflectido das polícias montadas, mas o magistrado foi um bocadinho complacente. De tal modo que, também ele, se deixou emocionar até às lágrimas com o relato comovente das agentes da autoridade, quando estas irromperam num pranto capaz de abalar a justiça mais cega; e em boa hora o fez. No meio de alguns sem coração ou até com pêlos no coração, ainda há juízes com o coração mole, graças a Deus.
Entretanto, sem acórdão do tribunal arbitral à vista, o Ministério Público está hesitante em relação à pena a aplicar ao cofre forte do referido banco que, por acaso não foi referido, porque, sendo o infractor useiro e vezeiro neste tipo de atentados às bolsas dos depositantes, adquiriu uma grande dose de impunidade e, consequentemente, alguma imunidade judicial.
Relativamente ao grau da pena aplicada ao cliente (perdão, à cliente), por ter levantado todo o dinheiro, é considerada, praticamente, uma pena com grau muito elevado, pelo que deverá perder a esperança de obter algum retorno proveniente de depósitos futuros, de qualquer outra entidade bancária, convidativo à sua manutenção.
Em face destas perspectivas, nada animadoras, o procurador do MP sugeriu que a senhora passasse, doravante, a guardar o dinheiro debaixo do colchão. A talhe de foice: acho que também vou levantar o meu discreto pé-de-meia do banco, dado que o onzenário ainda me obriga a pagar comissão sobre o "empréstimo" que lhe faço...
Correndo o sério risco de estar a publicar "fake news" - hoje em dia, estão na moda - , decidi também contar uma, esta por minha conta:
Começam a circular rumores sobre alterações às regras de algumas modalidades desportivas no pós-covid-19. Quiçá, no sentido de as tornar mais apelativas para as massas, nomeadamente para a massa mãe e para o pai também, sem esquecer as massas velhas e as massinhas tenras.
Alguém disse um dia que não há nada mais precioso no mundo do que as massas velhas e as massinhas tenras e não posso estar menos de acordo.
Bom, mas a eventualidade destas medidas poderá ter a ver com a previsão de que, lamentavelmente, os pavilhões gimnodesportivos e os estádios vão ficar vazios porque a malta, mesmo depois do vírus "assentar", não vai arriscar.
De outro modo, seria uma maneira de simplificar alguns preceitos e, por conseguinte, agilizar o trabalho dos árbitros, tornando-o, também, mais seguro.
Assim, à semelhança, por exemplo, das resoluções que se pensa que poderão vir a ser tomadas pelo Comité Internacional de Hóquei em Patins (CIRH), a Federação Internacional de Basquetebol (FIBA) também poderá vir a aprovar regras que permitam o toque de bola nos patins dentro do garrafão desde que seja empalhado e contenha palhete. Não será permitido o toque em garrafões com revestimento plástico. O ambiente agradece.
Também, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) parece estar em vias de introduzir o castigo máximo nas regras do jogo. Já utilizado com êxito noutras modalidades, o penálti seria, experimentalmente, indirecto no voleibol.
Para os lados da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), pensa-se também que, a breve trecho, venha a ser aprovada a marcação de golos de cabeça na modalidade, dado que é um jogo muito cerebral. No entanto, ainda é prematuro dar cabo da cabeça com conjecturas sem pés nem cabeça.
Por seu lado, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pensa promover, a médio prazo, a implementação do tradicional jogo de matraquilhos como desporto profissional, visto que a concorrência desleal das tecnologias de informação não poupa meios para fazer "reset" a estas memórias da nossa juventude. A FPF poderá, portanto, tentar, atrair praticantes para esta actividade tão antiga e salutar. O Benfica, o Sporting e o Porto já demonstraram interesse em aderir a esta feliz iniciativa da FPF que, por enquanto, não passa de uma ideia fixa.
Vamos esperar que outros clubes se lhes juntem e tenha pernas para andar, mas sem passarem a perna uns aos outros porque isso é muito feio no desporto, meus senhores!
Por seu turno (não confundir com "por Saturno") o lançamento (ou arremesso) do peso poderá vir a ser levado a efeito, utilizando a técnica do piparote, o que requer robustez, destreza e alguma hipertrofia das extremidades dos membros superiores.
Relativamente à pesca desportiva, pensa-se também que deverá incluir na sua lista de iscas oficiais, não só as iscas com elas, mas também outros engodos como os tradicionais couratos e pezinhos de coentrada. Simultaneamente, os concorrentes vão petiscando durante a competição e não adormecem. A menos que o vinho seja uma pomada.
Esperemos, então, para ver. Eu já estou sentado e "c'uma ganda sonêra". O almoço foi pesadote...
Aurélia era bela, tal qual uma aguarela. Aurélia tinha uma anca graciosa e uma coxa bonita a fazer lembrar uma coxa-de-dama, para não dizer uma coxa-de-freira. Também tinha uma perna longa bem torneada e um pé de lótus. Porém, o seio era o que despertava todos os sentidos que, como se sabe são cinco: visão, audição, tacto, olfacto e paladar. Houve alguém, não sei quem, que se lembrou de um sexto, mas isso é outro filme.
Seio cheio, embora não demasiado, tampouco desproporcionado, podia-se tomar, não a peito, mas como um seio farto. Aliás, igualzinho ao que tivera a sua mãe, a sua avó e, pasmem-se (também fiquei boquiaberto), o seu bisavô!
O seio da bela Aurélia era, indubitavelmente, o seio da família. Contemplá-lo era um consolo para os olhos e um lenimento para as dores d'alma; era como estar no seio de Deus.
É claro que Aurélia tinha tudo no seu lugar e aos pares, mas se escrevesse, por exemplo, que tinha dois seios, esta estória perderia toda a graça. Assim, ainda vale meia-graça e viva o velho!
Mas, continuemos, senão varre-se-me todo este turbilhão de ideias que, qual riacho de águas agitadas, me atravessa o pensamento:
Aurélia herdara também o hábito espontâneo de ter o coração ao pé da boca ainda que, às vezes, falasse com ele nas mãos. Contudo, não tinha pêlos no coração. Honra lhe seja feita.
Também lhe sobrava aquela inevitável tendência impulsiva para dizer tudo à boca cheia. É claro que andava sempre com o credo na boca, como não podia deixar de ser! Depois, admirava-se de andar nas bocas do mundo! Pela boca morre o peixe; é o que é e sempre foi!
No entanto, à noite recolhia-se pela calada; ninguém dava pela sua ausência. Era raro escutar-se-lhe uma palavra, um murmúrio sequer; quando muito, um suave ressono. Até lhe chamavam, por brincadeira, a calada da noite, predicado que estava associado ao acto de dormir. Realmente, Aurélia, dormia.
Lânguida e insinuante, tinha o delicioso hábito de se sentar numa chaise-longue (a "chaise-longue" fica bem aqui; dá um ar mais chique à descrição) com uma perna às costas. Além disso, tinha outra perna porque, graças a Deus, Aurélia tinha um par de pernas. Todavia, não era um par de pernas qualquer: com efeito, era um par de pernas pernilongas, digamos assim. Demais a mais, eram duas pernas de se lhes tirar o chapéu ou até de chapéu na mão.
Aurélia sempre fora mulher de furtar o corpo ao que quer que fosse. Não era pessoa para dar o corpo ao manifesto, isso não! Pelo menos de corpo e alma!
Penso que o caso dela não era virgem, caso contrário seria um caso sério, mas, ainda assim, um caso casto. Em todo o caso não foi um caso fortuito, muito antes, pelo contrário! Às vezes são coisas que não vêm ao caso, acontecendo por acaso.
Aurélia tinha, também, uma língua de prata e comprida. Além disso era muito viperina (a língua de Aurélia); e para dar à língua, não havia ninguém que se lhe igualasse. Uma coisa é certa: fosse em que circunstância fosse, Aurélia não tinha papas na língua.
Por último, quando se tratava de puxar pela língua de alguém, ninguém melhor do que ela para levar, fosse quem fosse, a revelar o que desejasse saber.
Também sabia tudo na ponta da língua, faculdade admirável, numa mulher como Aurélia. E era certo que tinha sempre alguma coisa debaixo da língua para sustentar uma conversa. Criatura fantástica!
Alguém disse, e muito bem, que a contrafacção é um modo de vida, uma forma de estar e um estado de espírito muito português; uma coisa assim a modos como o fado ou algo para o qual estamos predestinados, mesmo antes de soltarmos o primeiro vagido. É claro que o fenómeno não é exclusivo de Portugal, mas, olhem, por exemplo: é como a saudade.
Também há quem diga que a saudade não tem tradução noutras línguas e que, por isso, só os portugueses é que a sentem de um modo especial e eu, muito sinceramente, acredito que é verdade!
Outro grande fadista de outrora também já dissera "erros meus, má fortuna, amor ardente" e, assim como assim, acho que é esta nossa aptidão nata para o género trágico, sei lá.
Porém, até então, ninguém se dispusera a dissecar o fenómeno com o bisturi exacto do cirurgião que opera um peito aberto ou com a perícia com que o talhante retalha uma rês.
No fundo, o objectivo desta minha incursão na contrafacção, foi uma tentativa para escalpelizar algo que pode vir a ser objecto de uma análise mais profunda e exaustiva por parte de quem de direito (ou de esquerdo, tanto faz). Perdoem-me se não fui mais longe, mas estas coisas não se compadecem com imponderabilidades; é a vida.
Os americanos genuínos, nomeadamente (ou exclusivamente) os "peles vermelhas", chamar-lhe-iam escalpar: um hábito cultural para o qual tinham muito jeito. Bom, mas naqueles tempos remotos a contrafacção não era um fenómeno tão preocupante como é actualmente. Nem de longe, nem de perto. Simplesmente, nem.
Depois desta pequena introdução, o leitor mais perspicaz já terá reparado que o artigo é, indubitavelmente, dedicado à imitação fraudulenta e a outras actividades económicas consideradas menos lícitas ou mesmo ilícitas, digamos assim. No concernente ao assunto em epígrafe, fiz questão de me atirar de cabeça e mergulhar nas águas turvas do crime organizado que, como devem calcular, é um polvo com mil tentáculos, mais tentáculo, menos tentáculo.
Também houve alguém, não sei quem, que disse um dia uma frase que ficou célebre: "Para quê remexer no que já foi mexido repetidas vezes sem sucesso?" O aforismo, se assim se lhe pode chamar, encerra quase que um dever moral de todas as pessoas de bons princípios (não quer dizer que não enveredem por caminhos tortuosos que as levem a maus fins) no sentido de não se cavar muito fundo; só um buraquinho ligeiro que dê para meter o dedo mindinho.
Bom, mas isto foi um aparte que, por sinal, até está fora do contexto desta estória; prossigamos dentro do propósito.
É do conhecimento geral que se contrafaz quase tudo: bacalhau seco e demolhado; relógios e canivetes suíços; chocolate; bebidas espirituosas e espirituais (estas últimas utilizadas no santo sacramento); discos compactos; camisas de Vénus e La Costa (não confundir com o senhor Costa); perfumes low cost baratos (ou eles não fossem low cost); "smartphones" de 10 polegadas made in PRC; políticos made in Portugal, et cetera; o rol é extenso para caber neste artigo singelo.
Ora, o que nunca pensei era que fosse possível fazer contrafacção de caspa! É verdade, leram bem - de caspa! Nunca vi coisa assim, nem quando o rei fazia anos! Daí que me propus investigar o fenómeno por conta e risco próprios.
Por conseguinte, enchi-me de coragem e entranhei-me no busílis da questão que é, claro está, a contrafacção de caspa, algo que testemunhei com estes óculos que, não obstante estarem a precisar de um "upgrade" de dioptrias, ainda conseguem distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso. E é aqui que a "chitarra suona piu piano" como cantava aquele célebre cantor lírico, do antigo anúncio da pescada. E porquê? - Devem perguntar vocês com toda a legitimidade. E eu respondo com toda a pertinência: porque me disseram que é um produto importado directamente aos países produtores de caspa, banhados pelo Mar Cáspio e, mais grave, sem contrapartidas. E para quê? - Presumo que também estejam interessados em saber. Mais a mais, tendo-a cá com qualidade tão duvidosa como a que é produzida nesses países! É o nosso ancestral capricho de julgar que o que é nosso não presta tão ou mais satisfatoriamente do que aquilo que vem de fora.
Assim, habituado que estou ao submundo perigoso dos valdevinos casposos, foi por veredas e travessas que me aventurei em busca da verdade escondida. Afinal, por muito inverosímil que nos pareça, "the true is out there", como dizia o agente Fox Mulder.
Aqueles homens que me confiaram o terrível segredo, os quais quis manter no anonimato para proteger a sua privacidade, de seus nomes, Iliev Fedorofsky kasparov e Akbar Kaspolin Salamalek, respectivamente, está de caras, explicaram-me, tintim por tintim, que a caspa contrafeita era trazida à socapa para ser vendida a uma firma muito conhecida que, por sua vez, a exportava furtivamente para países onde a predominância da caspa era escassa por via da carência de pilosidade craniana nas suas populações. Todavia, um acontecimento imprevisto e simultaneamente trágico, não me permitiu levar a investigação até ao fim, conforme o objectivo que me propus atingir, porque tanto um como outro acabaram por ser encontrados mortos numa valeta em La Valetta, ao que tudo indica, vitimados por um ataque de caspa de origem desconhecida.
Prometo voltar ao assunto, lá mais para a frente, se não morrer, entretanto, não com um ataque de caspa, mas com o estupor do "coronavírus". Até porque o assunto é digno de um "thriller" que se debruce seriamente sobre a temática, sempre presente, da teoria da conspiração, não vos parece?
José Inocêncio da Silva, investigador contrafeito e por contra própria.
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