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SEXO BIZARRO

por João Castro e Brito, em 28.03.20

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Confesso que o assunto não é virgem e penso que, neste aspecto, o leitor e a leitora deverão estar de acordo comigo. Todavia, tentarei abordá-lo, quero dizer, vou mesmo abordá-lo, mas numa perspectiva que não fira susceptibilidades porque não é esse o meu objectivo, apesar de não ser tão óbvio assim. Isto, não obstante parecer um bocadinho melindroso, não o nego. Avancemos, então, com caldos de galinha, com esperança de que não se entornem.
Para conferir alguma dignidade à complexidade desta matéria, só para não parecer vulgar ou, até ordinária, a despeito de estar na ordem do dia, decidi alterar o título deste artigo que inicialmente pensei em titular de DESVIOS SEXUAIS. Até porque me pareceu pretensioso porquanto, não sendo psicólogo nem sexólogo, pareceria mal meter a mão ou o que fosse em seara alheia, mesmo que a frase "meter a mão" se me afigure muito apelativa.
Depois deste ligeiro proémio com bolinha vermelha, prossigamos, então:
Segundo a opinião dos entendidos, nem todos os desvios da função sexual são considerados aberrações, embora, na generalidade, tenham como causa determinante, desarranjos de ordem psíquica. Excepção à regra são os vulgares fetiches. Ora, à luz da ciência actual e ao contrário do que muita gente pensa, o fetiche parece ser um óptimo estimulante sexual, embora careça de estudos mais decisivos.
Vejamos alguns casos de fetichismo que podem ajudar a compreender o fenómeno, interpretando-o como algo natural e, obviamente, dentro do comportamento comum, ou normal. Passo a citar:
Caso a) - Pessoas que conseguem obter excitação sexual manipulando ovos cozidos sem casca ou que conseguem ter três orgasmos consecutivos ao cheirar um par de meias em pura lã virgem, com uma semana de uso, em pleno Verão.
Caso b) - Sujeito que experimenta um orgasmo intenso (durante meia hora, no mínimo), após comer um quilo de bombons belgas com lacinho e tudo.
Caso c) - Indivíduo (do género masculino, ou feminino) que adora fazer sexo alternativo, imediatamente após a higiene oral.
No que concerne, verdadeiramente, aos distúrbios de natureza sexual, ou desvios, como quiserem entender, e continuando a citar, a zoofilia ocupa um lugar de destaque entre as práticas consideradas bizarras.
É banal referirem-se casos de relações sexuais entre seres humanos e aves de capoeira, cães, gatos, cavalos, burros, bois, vacas, bodes, cabras, ovelhas e por aí adiante. Inclusive, há referências a insectos, imagine-se! Como facilmente se depreende, a zoofilia não é rara e já vem de tempos muito recuados no tempo (passe a redundância).
Existem expressões curiosas no léxico popular que comprovam a existência dessas condutas. Por exemplo, frases como "não há meio de me livrar daquela melga"; "ainda por cima tenho de gramar aquele camelo na cama!"; "hoje vou dormir com aquela cabra!"; "que mal fiz a Deus para aturar aquele cabrão?"; "não gosto dele, é um porco!"; "será que é assim tão burro, que não perceba que já não gosto dele?"; "aquela vaca estragou-me a vida!", et cetera. Um leque vastíssimo de pessoas confessa, deste modo, que mantém relações carnais com bichos de duas, quatro patas e, em casos raríssimos, com mais de quatro patas. As relações com animais de uma pata ainda não entraram para as estatísticas, mas prevê-se para breve o seu arrolamento.
Algumas relações são satisfatórias, outras nem tanto, mas, enfim, é a vida, não se pode ter tudo! Contudo, embora nos pareça estranho, cada um é livre de fazer amor com quem ou com o que quiser. Há relatos que referem práticas sexuais com tijolos, garrafas, escovas de dentes eléctricas e outros objectos. Nada a obstar desde que a relação seja franca, mutuamente consentida e profícua; ninguém tem nada a ver com isso! Outros casos há, mais difíceis, de relações sexuais com couves galegas, lombardas, portuguesas, couves coração, ratinhas e de Bruxelas, o que quer dizer que não há impossíveis. Tudo se resolve com muita fé e força de vontade.
A posição para consumar o acto sexual também tem muito que se lhe diga, dado que não existem normas, mundialmente aceites, que definam qual ou quais as posições mais correctas para praticar sexo, o que tem sido motivo de acesas discussões entre adeptos de várias posições e adeptos da posição clássica.
Continua a ficar ao critério de cada um, a posição mais cómoda e, naturalmente, mais satisfatória. Quanto ao sexo em grupo, "ménage à trois", troca de casais, et cetera, serão assuntos de que me ocuparei num próximo artigo porque já estou que nem posso, estas coisas excitam-me, peço desculpa, vou ali molhar os pulsos com água fria e já venho. 

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Transcrevo-a tal como a recebi, de um amigo, via e-mail. Porém, quero sublinhar que não garanto a sua fidedignidade. Todavia, seja ou não uma carta forjada, penso que é um escrito de fino recorte literário e, por isso, merecedor de leitura atenta e agradável. É este o seu teor:
"Meu caro Lemos,
É coisa axiomática que o pénis não obedece a freio; e é de esperar que a natureza o tenha dado a animal que não lhe obedece. Mas, como a esta estuporada profissão que exercemos só aparecem anormalidades, aberrações e coisas em desacordo com a natureza, surgiu-me hoje no consultório esse rapazinho que lhe envio, com um freio de tal dureza e de tal conformação que o insubmisso pénis, tradicionalmente indomável, não teve outro remédio senão ceder.
Calcule os mistérios e os paradoxos desta ladina natureza! Esse moço, na casa dos 20 anos com uns corpos cavernosos que devem estar isentos de qualquer esclerose ou de qualquer obstrução, e com certeza dispondo de uma libido afinada capaz de lhe fazer sair, erecto, o próprio umbigo, resolve ir para o casamento com os seus (dele) três vinténs e confirma, então, a suspeita que já tinha, de que no auge da metálica erecção, o membro fica em crossa como o báculo de um bispo, por incapacidade de vencer a brevidade e a dureza do freio que lho verga para a terra.
Calculará, o meu prezado Lemos, as acrobacias de alcova que este desgraçado terá de realizar para conseguir a penetração de um coiso viril, quase tão torto como uma ferradura, na vagina suplicante da consorte.
De modo que o rapazinho veio pedir-me socorro e eu, condoído, peço a sua colaboração em favor da harmonia conjugal, com a certeza de que por isso ninguém nos irá acoimar de chegadores.
Condoa-se a cirurgia de braço dado com a medicina que, por intermédio deste fraco servidor que sou, já se condoeu e endireitemos a fera torta (e nada de confusões, que não é mole pelo que me afirma o proprietário).
Lembremo-nos, sobretudo, ao praticarmos esta obra, que vem aí um tempo em que um falo destes, mesmo em arco ou em forma de saca-rolhas, nos faria um jeitão, e ajudemos o pobre rapaz que se compromete comigo a fazer bom uso dele, emprenhando a mulher da primeira vez que o usar, depois da operação ortomórfica que o meu amigo lhe vai fazer sem sombra de dúvida.
Desculpe mandar-lhe desta vez uma tarefa fálica! Ouvi uma mulher um dia dizer que um Phallus é um excelente amuleto e que dá sorte verdadeira. Se quiser tirar a prova não tem mais que endireitá-lo... e jogar a seguir na lotaria.
Desculpe, pois, a remessa de bicho tão metediço que eu por mim prometo, logo que possa, e em compensação, mandar-lhe uma vulva virgem e nacarada como uma concha de madrepérola.
Um abraço do seu amigo certo Frederico de Moura
P.S. – Como a minha letra é muito má segundo a sua opinião, e como o assunto desta carta é muito importante para duas pessoas, uma das quais do sexo dito fraco, entendi do meu dever dactilografá-la. Assim, não haverá nenhuma razão para o meu amigo dizer que não entendeu o que eu queria e, por partida, deixar o aparelho na mesma ou pior ao rapaz.
Quero ainda dizer-lhe que, para sua compensação, tenciono depois do êxito que o seu ferro cirúrgico vai alcançar, comunicar o seu nome à mulher beneficiada que, por certo, lhe ficará eternamente grata, ficando sempre com a sua pessoa presente na memória, nos momentos – e oxalá que sejam muitos – em que se sentir penetrada por um badalo – perdoe-me o vulgarismo – que só o meu amigo conseguiu endireitar. E nem sei se o Estado virá louvar a sua acção, se lhe for dado conhecimento que os filhos que saírem daquele casal são devidos em grande parte, não ao seu membro reprodutor, mas, sem dúvida, à sua mão. E filhos com a mão nem toda a gente se poderá gabar de os fazer!
Creia-me seu afeiçoado, Frederico 27/3/1958"
 
António Frederico Vieira de Moura, Licenciado pela Faculdade de Medicina de Coimbra em 1933, e em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras de Coimbra em 1960.

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AS BICHAS

por João Castro e Brito, em 25.03.20

Talvez não saibam, mas, para alguns analistas, o século XX ficou marcado como "o século americano" (ver Wikipédia). Para outros, uma forma de capitalismo imperialista ou uma maneira popularucha de dizer ao resto do mundo que quem manda aqui é o "tio Sam", okay?...
O século XXI vai ficar nos anais(*) da história como o século das bichas. Não que não tivessem existido no século XX e em séculos anteriores, pois penso que existiram sempre, desde que as bichas se lembram de ser bichas, mas, no primeiro decénio deste novo século, as bichas ganharam um novo alor com o ressurgimento do anelídeo poliqueta ou simplesmente arenícola que, como é consabido, é uma bicha muito utilizada na cultura agrícola em areais ricos em citrato de potássio ou agricultura em solos arenosos salinos (vulgo fucus ceranoides), enfim, como quiserem entender.
Graças à conjugação de alguns factores favoráveis, que seria fastidioso enumerar aqui, as bichas adquiriram a importância e o estatuto determinantes que lhes são reconhecidos, tanto em Portugal como no resto do mundo, nomeadamente na União Europeia. Ora, para atingirem este excepcional status, muito contribuiu o extraordinário desempenho, muito esforçado e por isso louvável, de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia. Justiça lhe seja feita que nem tudo foi só trabalho sujo para o Goldman Sachs. Contudo, se me lembrar, prometo dedicar meia-dúzia de linhas a este notável político, que concorreu exemplarmente para o engradecimento de Portugal. Prosseguindo:
Que belos tempos, aqueles, em que havia bichas para tudo e em tudo quanto era sítio! Faziam-se bichas até para a sopa do Sidónio, conseguem imaginar? Pensar num cenário desses, nos dias de hoje, faz-me sorrir, se bem que com alguma nostalgia. É claro que sempre houve ovelhas ranhosas que quiseram travar o processo de desenvolvimento das bichas; isso é transversal a todas as épocas e a todas as sociedades. Quase o conseguiram com métodos que actualmente estão proibidos e que as colocaram (as bichas) quase à beira da extinção. Estou a lembrar-me, por exemplo, da hortelã-crespa, protegida com pesticidas organofosforados e carbamatos, dois venenos literalmente tóxicos, muito utilizados em tempos recuados, ou do estragão, uma planta muito picante que provoca estragos na flora intestinal, provocando disenterias severas. Bárbaro, é o mínimo que consigo articular.
Que bom seria que todos entendessem a maravilhosa mensagem contida naquela música dos Beatles: "Strawberry Bichas Forever!". Alguém está recordado? Às vezes oiço-me, involuntariamente, a trautear esta passagem. Sim, porque eu de inglês pesco zero!
É claro que convém sublinhar a importância das bichas como factor de progresso, desenvolvimento e sustentabilidade económica. A elas se deve a expansão que o comércio ambulante conheceu nos últimos quarenta anos, nomeadamente o comércio de santinhos e similares; não desvalorizando o papel secundário, mas, mesmo assim, importante, das industrias subsidiárias, com especial ênfase para as industrias dos tremoços, amendoins, pistácios, pevides, batatas fritas e equivalentes (só para não repetir similares que é chato).
Graças a este panorama encorajador, as nossas finanças nunca estiveram tão saudáveis como agora. As bichas são disso testemunhas incontestadas de garante do progresso e plena convicção num futuro risonho para Portugal e, naturalmente, para os portugueses.
Não sou amante de paráfrases, mas esta enquadra-se bem neste contexto: "Ditosa pátria que tais bichas tem". Não sei quem foi o poeta que a escreveu, mas é tão bonita, tão profunda, tão sentida que não a quis deixar passar para que todos  reflictamos acerca do seu significado.
Estaria a ser injusto se não destacasse o carácter sócio-pedagógico das bichas. Que melhor exemplo poderia aqui citar senão o de que as bichas são, acima de tudo, uma forma de estar na vida.
Diria, até, e perdoe-se-me a ousadia, que as bichas são uma das essências da humanidade. Assim, se as bichas estão para o Ocidente como o yoga, o Kama Sutra, o Ju Jitsu ou a meditação transcendental e o Jan Thai (forma do verbo Jan Thar em tailandês) para o Oriente, nos Polos Árctico e Antárctico, cabe-nos defender e propagar esta filosofia que resume o carácter ecuménico da revelação divina - passe o paroxismo com que termino isto. Só visto...
(*)Do étimo latino annus e não ânus, como poderão, erradamente, presumir. Aqui fica a clarificação.

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DIÁLOGO ENFADONHO

por João Castro e Brito, em 21.03.20

diálogos enfadonhos.jpeg

Ela tirou o roupão, compôs o cabelo louro platinado e fez o possível para não perder as estribeiras:
- Você tem esse jeitinho peculiar de me estragar o dia quando acordo bem disposta. As coisas que você ignora ao nível do equilíbrio psico-somático..., meu Deus que raiva!
- Espere aí! – interrompeu-a – Se vai começar a falar com prosápia, ponha os óculos de ver ao perto, pois dão-lhe um ar mais intelectual!
- Depois é isto: você não sabe, não se interessa por saber, e ainda se regozija com a própria ignorância! Diga-me uma coisa, se souber, claro: você completou o ensino básico?
- Sim senhora! E deixe que lhe diga que o concluí com distinção sem precisar de um empurrãozinho da Lusófona! Ou você pensa que eu sou como o Relvas?
- Com distinção?! Não agrida a minha inteligência, por favor! – e entre dentes – A mamã bem me avisou...
- Deixe lá que você, em contrapartida, é como o Jacinto que bebe do branco e do tinto! – disse ele.
Ela pôs um pouco de batom nos lábios finos para os fazer sobressair da alvura do rosto:
- Você é tão irritante, credo! Mas mudemos de assunto, senão isto azeda ainda mais. O que me está a preocupar é não conseguir encontrar aquele alfinete lindo que o meu primo Nando me trouxe do Catar. Aliás, nada comparável com a fancaria que você me costuma oferecer!
- Já cá faltava esse pinga-amor! E você ainda tem o desplante de contribuir para que isto se torne mais azedo! Então, foi o gajo que lhe ofereceu aquele broche ordinário! Eu sempre o soube, a despeito dos seus segredinhos parvos! Não sei para quê?!
- Gajo, não! – empertigou-se ela – Ele é um senhor e, ainda por cima, é comandante na TAP!
- O facto de ser piloto da TAP tem uma grande relevância para a nossa conversa, deixe estar! Ademais, agora que a TAP está nas lonas, diga ao seu querido Nandinho para se mudar para a Qatar Airways e que se deixe por lá ficar, pois faz cá tanta falta como uma viola num enterro!
Ela impacientou-se:
- Olhe, isso é dor de cotovelo, sabe? Não pode negar que o Nando é uma pessoa cultivada e até sabe umas máximas muito giras em latim. Você sabe algumas?... Não! Só se lembra de anedotas porcas que ouve contar naquela leitaria horrível, no sítio onde mora. Como é que aquilo se chama?... Buraca, que horror, nem vem no mapa!
Ele abriu a boca com uma expressão que deixava antever uma resposta rápida, sem evasivas:
- Pois sei! E citou com um sorriso rasgado: o fado é que induca e o vinho é que instrói! Tome lá e vá-se curar!
In Diálogos Enfadonhos de Joaquim Pereira da Silva Reboredo
Edições Mãozinhas de Veludo

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