por João Castro e Brito, em 29.10.19

Segundo o meu ponto de vista, que até pode estar desfocado - admito - , foi um programa de sucesso duvidoso, do governo de coligação PAF, de má memória para a generalidade dos portugueses:Até à descoberta desta "ideia genial", o governo de então, pela voz de um membro do seu elenco, tinha exortado as pessoas desempregadas a mudarem de vida, procurando convencê-las a sair da sua "zona de conforto".
Tal apelo havia sido feito por um "boy" imberbe, Secretário de Estado da Juventude e Desporto, que se dirigia, assim, a uma plateia de jovens luso-brasileiros em São Paulo:
"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Observação infeliz que se tornou viral, pela boca de alguns governantes, entre os quais, Passos Coelho.
O rapazinho, quiçá acabado de sair da universidade e alavancado para um cargo muito bem remunerado no ministério, por obra e graça, não de Deus, tampouco do Espírito Santo (deste último, sob reserva), falava assim, de barriga cheia porque sabia que jamais faria parte de uma geração sem saída e, por conseguinte, sacrificada em nome da sacrossanta importância do dinheiro...
Rapazinhos como ele, que pululavam e continuam a pulular na política, terão sempre o futuro assegurado, independentemente da organização partidária onde militam, de tal modo que a saída da "zona de conforto", para eles, sempre foi (e será) algo irrisório.
Na altura, com as legislativas à porta, a mesma canalha que encorajava os portugueses a procurarem emprego no estrangeiro, aprovava uma coisa artificiosa designada, por Valorização do Empreendedorismo Emigrante (VEM).
É claro que não passou de um logro destinado a tapar o sol com a peneira, com a falsa pretensão de apoiar o regresso daqueles que tinham sido escorraçados de Portugal:
”Não são projectos de dez ou vinte mil euros que me vão fazer regressar” - dizia uma jovem enfermeira (entre muitos outros compatriotas altamente qualificados) portuguesa de 30 anos a trabalhar na Inglaterra.
Ora, sabendo-se da existência de centenas de milhares de novos emigrantes a engrossarem a eterna diáspora nacional desde Sócrates (lembremo-nos das promessas desse, também, inenarrável ex-primeiro ministro do PS com relação aos eleitoralistas "150 mil novos postos de trabalho para jovens licenciados"), agravada tragicamente com a crise global de 2008 e as consequentes políticas de contenção e saque do governo de Passos Coelho e Portas, tudo feito com o beneplácito régio dos agiotas da TROIKA, era um apelo tão miserável que roçava o ridículo! No mínimo, detraía a nossa integridade intelectual.
O actual governo aprovou recentemente um programa, não sei se similar, chamado Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora (PNAID). Pelo menos, a sigla não está sujeita a interpretações obscuras como pareceu ser o caso de "VEM", pois só faltou o hífen e o "TE"...