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GOSTAS MAIS DO BOCHECHAS OU DO MAROCAS?

por João Castro e Brito, em 11.02.17

o bochechas.jpg

Nascimento: 7 de Dezembro de 1924.
Falecimento: 7 de Janeiro de 2017.

"É evidentemente um grande dia. O essencial para nós é mantermos a unidade das forças democráticas. As Forças Armadas iniciaram o caminho para a realização da democracia e para pôr um termo à Guerra Colonial, mas é agora que todos os problemas, os grandes problemas que se põem à nossa Pátria, vão começar."
Chegada à estação de Santa Apolónia depois do 25 de Abril de 1974.

"A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.”
A 21 de Abril de 1984, em declarações à revista alemã Der Spiegel.

"Querem atirar abaixo o herói de uma revolução? Toda a gente acha sempre o que quer, mas são os gajos que têm de decidir por aquilo que pensam. Poderia eu achar – sendo eu um homem do 25 de Abril, sendo grato aos homens que fizeram o 25 de Abril – que deixava o Otelo ficar na prisão, apesar das suas asneiras?"
Entrevista a Joaquim Vieira, em 2011, para o livro "Mário Soares - Uma Vida".

“Ó sr. guarda, desapareça Não queremos polícias!”
Para o guarda da GNR que lhe fazia escolta, Presidência Aberta na Área Metropolitana de Lisboa, Fevereiro de 1993.


"A Maria de Jesus sempre me acompanhou com compreensão e tolerância. Não direi com agrado; ela gostaria que eu fosse mais caseiro. A maneira inteligente de preservar o casamento é que cada um aceite o outro tal como é e não o queira à sua imagem e semelhança. O amor, quando não é apenas o puro egoísmo da satisfação dos sentidos, não é senão isso mesmo: uma forma superior de compreensão e aceitação!”
"Soares", de Maria João Avillez (1997).

“Por muitos anos que viva, nunca poderei agradecer suficientemente a Marcelo Caetano ter-me expulsado de Portugal.”
"Um Político Confessa-se", de Mário Soares (2011).

"O que a troika faz é ganhar o seu dinheirinho. Como é possível, que haja uns tecnocratas que decidem sobre o nosso futuro e as pessoas não se sentem, patrioticamente, vexadas por nós estarmos a ser um protectorado da troika?"
Maio de 2012.

"Veio, entretanto, a ser eleito Aníbal Cavaco Silva, membro do partido de Sá Carneiro, depois de ter sido Salazarista convicto no tempo da ditadura."
Janeiro de 2015, no artigo de opinião que assinava semanalmente no Diário de Notícias.

"Aproximar-me de Deus? Isso nunca me veio à cabeça!"
Em Fevereiro de 2015, em entrevista ao jornal i.

Só votei uma vez no "bochechas". Numa altura em que ele ainda não tinha "arrumado o socialismo na gaveta". Depois de o ter "arrumado" definitivamente, todas as ilusões em relação a uma mudança para melhor, se dissiparam. Vislumbrei isso quando afirmou que o (seu) socialismo, o qual apelidou de democrático, necessitava da iniciativa privada para fazer de Portugal uma nação próspera. Está aí, quase cinquenta anos após a restituição da liberdade, o legado do seu propósito. Paradoxalmente, também não sei se a via do socialismo "não democrático" seria melhor. Nunca foi experimentado em Portugal (penso que o PREC não serve de exemplo) e os casos de outros socialismos falhados, os "não democráticos". nunca me convenceram por via dos seus maus exemplos. Isto, sem embargo de considerar o esforço mediático de certos políticos e imprensa capitalista para santificar a plutocracia, pouco suasório, dado o seu desprezo pelo estado social (ou providência). Mas é claro que lhes agrada e às classes sociais onde pertencem...
Porém, continuo a pensar, ao contrário dos detractores de MS, sobretudo aos melindrados das ex-colónias que o culpam exclusivamente pela desgraça do seu êxodo, que Mário Soares fica na nossa História como um dos maiores combatentes pela liberdade. Afinal, bem ou menos bem, conseguiram sobreviver a esses difíceis anos de retorno e reistalaram-se definitivamente.
É evidente que não se lhe pode entregar o mérito todo de bandeja - o próprio o reconhece - pois foi graças a uma fantástica geração de militares que ele, Álvaro Cunhal e outros opositores ao regime de então, puderam regressar a Portugal e abrir as prisões da PIDE.
Contudo, hoje, esses heróis da alvorada de 25 de Abril de 1974 e dos valores da Democracia foram esquecidos; a sua lembrança desvanece-se no vento do esquecimento popular. Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vítor Alves e talvez outros, não tiveram funerais de Estado.
Otelo, um dia, também não vai ter e o seu desaparecimento vai soar para muitos ressabiados, figuras do poder, inclusive, como um alívio. Convém, aos "conservadores", apagar da memória colectiva esse período, certamente conturbado, mas um dos mais belos da nossa História.
Todavia, esquecer MS, mesmo com as más decisões que tomou, em alturas particularmente difíceis para o nosso país, seria trágico, na minha opinião, porque não temos o direito de desprezar o que fez por Portugal; faz parte da nossa História recente e de sempre. Juntamente com todos os que lutaram e morreram para restituir o livre arbítrio aos portugueses.
Um dia debruçar-me-ei sobre a verdadeira culpa da descolonização portuguesa...se me lembrar.

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AINDA SE LEMBRAM DESTE ANÚNCIO? BELOS TEMPOS!

por João Castro e Brito, em 07.02.17

pasta dentrífica coito.jpg

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Chegou ao condomínio, situado no subúrbio, e estacionou o veículo de propulsão electromagnética numa plataforma móvel que o transportou ao silo correspondente. Seguidamente, entrou no ascensor, subiu trezentos e noventa e nove pisos e, com o dedo indicador esquerdo (era canhoto), validou o acesso biométrico ao apartamento. Depois, ordenou ao andróide mordomo para se desactivar: sempre subserviente; sempre cheio de falinhas mansas; sempre cheio de mesuras; sempre solícito; sempre cheio de etiqueta; sempre cumpridor do protocolo, enfim, uma melga do camandro, o andróide mordomo!

Chamou:

– Querida, onde estás?...Uhu!... Não há nada que se coma nesta casa, amor? Estou esganado com fome!
Dos lados da casa de banho, veio a resposta:
– Já desligaste o vatel? Pois, não devias tê-lo feito! Agora não te posso atender; estou a fazer um "system update"!
Estrelou uns ovos de dodô(*) e, enquanto os devorava com voraz apetite, contou as novidades do dia:
– Queres saber uma que ouvi hoje no serviço? Então, não é que o Tó Zé foi apanhar a mulher na cama com o andróide jardineiro, pá, já viste?! E sabes que mais? A coisa deu divórcio litigioso, o gajo aproveitou o pretexto e amancebou-se com o estupor do bonifrate, já viste?! É preciso ter lata que é coisa que não lhe falta, aliás! Há cada uma que a gente até fica parva!
Estranhando o silêncio da mulher perante a novidade tão surpreendente que lhe acabara de anunciar, dirigiu-se à casa de banho, pé ante pé, e descobriu-a na posição de quatro com o andróide despenseiro e, simultaneamente, a fazer um felatio ao andróide da limpeza doméstica.
Perante o lamentável cenário de libertinagem pura e dura com que se deparou, não esteve com meias-medidas: pregou um par de bofetões à mulher por andar a estragar os outros robôs com mimos e deu-lhes uma grande descasca por estarem a fazer sexo dentro do horário normal de expediente. E ainda os ameaçou com desligamento colectivo, sem justa causa, por via das tosses.
Passado o infeliz episódio, resolvido a contento de todas as partes envolvidas e após o jantar, entretiveram-se a fazer zaping em canais de memórias televisivas do século XXI. Entre os programas memoráveis dos canais generalistas de outrora, o tempo ia passando enquanto esperavam que o andróide lava-loiça acabasse de arrumar a cozinha.
Após as tarefas domésticas cumpridas, desactivaram a máquina e foram-se deitar; o dia tinha sido bestialmente fatigante.
– Queres ter relações sexuais? – perguntou ela, alheia à resposta.
– Estou com dores de cabeça... – esquivou-se, tendo a noção exacta do tom desapaixonado da pergunta dela.
– Deixa lá, delegamos nas nossas unidades sexuais autónomas» – disse ela.
Trataram de colocar uns dispositivos cheios de luzinhas coloridas, a piscar e a silvar intermitentemente, cada um em cima da respectiva mesa de cabeceira, e caíram instantaneamente num sono profundo, quase de morte. Os módulos deram, então, início a um ciclo de coito tântrico automático (ou não fossem autómatos) que se iria prolongar noite adentro.
Módulo xy:
– Pronto para inicializar acto, coordenadas XPD (xray, paso-doble) - 33° 69' 96'', diga se já posso metê-lo, over.
Módulo xx:
– Over me, é claro; para já, apénis tenho contacto visual. Pode dar início à aproximação copular...ups, "just a minute", necessita lubrificar um pouco! (A memorizar expressões e interjeições designativas programadas para hoje:
– isso, aí, aí tá bom, quero-te todinho só pra mim, tens um corpinho de sonho, mete-o todo, ai, ui"...brup, slurp, truca-truca, chloc, over).
Módulo xy:
– Cuidado, não perca o controlo nem declame poesia erótica da Natália Correia e muito menos do Bocage ou do António Botto sob risco de sobreaquecimento das células de iões de hidrogénio! Comutar para a posição de gozo total ATL (argenta, tango-louco) 433...ah, confirme se tomou pílula, over.
Módulo xx:
– Afirmativo, pílula processada. Vou comutar libido para pilota automática para poupar a sua pilha (pila em madeirense). Diga se tomou comprimido azul, over.
Módulo xy:
– Ok, acabei de processar sete. Já sinto algo. Todavia, mantenho-me em standby a aguardar efeito mais acentuado, over.
Horas mais tarde:
Módulo xx (a escaldar e a deitar fumo):
– Gozei que nem uma máquina perdida; noite inesquecível; estou de rastos; tenho de desligar; over and over.
Na manhã seguinte:
– Dormi como um andróide, querida! – exclamou, na casa de banho, sentado na sanita, a lubrificar as juntas.
– Ontem não te contei o que se passou na mercearia do senhor Narciso? – disse ela – Vê lá que a do 222º esquerdo pegou-se com uma venusiana do 335º direito! Tudo por causa da outra deixar sempre a roupa a pingar no estendal e molhar-lhe a roupa toda! O bom e o bonito, foi quando a venusiana a acusou de ter feito sete abortos espontâneos de uma relação extra-conjugal com um terminal de computador obsoleto. Como se não bastasse, ainda gritou, para quem a quisesse ouvir, que a do 222º tinha ido para a cama com um sujeito verde com antenas cromadas, vê tu! A do 222º não foi de modas e chamou-lhe venusiana(**), imagina! Zangam-se as comadres e descobrem-se as verdades, é uma vergonha!... Ai, estas malditas hemorróidas dão cabo de mim!» – desabafou ela a fazer um semicúpio, no bidé, com óleo mineral.
Ele, com o seu ar mais paternalista da galáxia, já imerso no óleo da banheira, enquanto deixava outro robô lubrificar-lhe as partes, perguntou:
– Foi bom, o sexo, ontem? – ela anuiu com indiferença.
Ele desconfia, há algum tempo, que ela tem um caso traumático com um andróide ucraniano.
Não tardaram a separar-se. Ele seguiu a caminho de mais um dia de labor numa fábrica de chipes e ela caminhou até uma cinemateca próxima de casa, onde desempenha trabalho de recuperação e catalogação de filmes indianos "hard-core" do século XX. Uma actividade cultural assim, a modos muito "kitsch". É um trabalho visual árduo e, naturalmente, cansativo, não obstante aqueles olhos grandes e doces que Saturno, um dia, lhe há-de comer.
 
(*) Ave pré-histórica das Ilhas Maurício.
(**) Seres hermafroditas com três pernas, quatro mamas, duas vaginas e um pénis assoberbante atrás das costas; e detestam que lhes chamem venusianas. Manias!

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