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Criei este blogue com a ideia de o rechear com estórias rutilantes, ainda que às vezes embaciadas. Penso que são escritas sagazes e transparentes, embora com reservas e alguma indecência à mistura. No entanto, honestas.
Ainda se recordam das cenas de férias pagas por empresas a pessoas muito ilustres da nossa sociedade, nomeadamente aos políticos? Não? Eu reavivo-vos a memória:
A julgar pelas notícias que circulavam na imprensa, aqui há uns anos, eram moda. Agora não sei; parecem estar em banho-maria ou o segredo está muito bem guardado pela politicagem...
Ficava-se, então, com a impressão de que não havia figurão que nunca tivesse feito uma viagenzinha paga por esta ou aquela empresa (inveja à parte). Vai daí que também resolvi, depois de uma reflexão profunda ou uma cavadela mais afincada, conforme vos aprouver, deixar aqui uma referência ao excelso Presidente da República, "senhor Silva".
Segundo anunciava o jornal Independente de 20 de Agosto de 1993, sob o título garrafal "Cavaco come a papa", da autoria do seu director, então, Paulo Portas (vulgo, Paulinho das feiras), o PR tinha gozado uns dias de férias em Salzburgo, à pala da Nestlé, enquanto primeiro-ministro.
Depois, vieram os mentideiros do costume, aproveitando a divulgação desta notícia, dizer que o senhor, ao contrário do que vinha veiculado no jornal sobre o consumo ministerial de papas, era, isso sim, um consumidor compulsivo de bombons de chocolate da prestigiada marca, sendo seu hábito comer caixas inteiras, com lacinho e tudo. Vá-se lá saber da veracidade de tais rumores...
Ora, um sujeito que, para além de "nunca ter dúvidas e raramente se enganar" e ainda ter afirmado, com desusada sobranceria, que para serem mais honestos do que ele tinham de nascer duas vezes e outros quejandos, aceitar "prendinhas" desta natureza, para mais em exercício de cargo tão soberano, era uma enorme contradição. Tudo isto fazendo fé na premissa de que os "trabalhadores do Estado não devem pedir ou aceitar presentes, hospitalidade ou quaisquer benefícios que, de forma real, potencial ou meramente aparente, possam influenciar o exercício das suas funções ou colocá-los em obrigação perante o doador"...
Rezava a tal notícia, pela pena de PP, que a Nestlé a tinha confirmado, ad rem, sem retirar ou acrescentar ponto e vírgula (leia-se ponto e vírgula, respeitando uma pausa de alguns segundos entre as duas palavras).
Ainda, segundo o artigo, "a Nestlé teve a ideia, escreveu a Cavaco, organizou e pagou, mas parcialmente. Os custos foram partilhados: o Estado português (vulgo os contribuintes portugueses) pagou o Falcon da Força Aérea (imensuravelmente mais caro do que uma viagem, ida e volta, pela TAP), onde Cavaco Silva viajou (mais a Maria...), e a Nestlé pagou o resto".
Assim se teve e tem conhecimento, não tão mediatizado na altura, excepção, talvez, ao artigo de PP que, pela primeira vez, alegadamente, um político português, trabalhador do Estado, no caso um primeiro-ministro, se deslocou ao estrangeiro a convite de uma empresa privada.
Em jeito de epílogo, lembro-me de alguém (embora não saiba quem) que disse que a honestidade é algo muito caro e que não a devemos esperar de pessoas baratas. Todavia, penso que não devemos generalizar. Ainda há montes de gente boa e honesta no nosso país, que diabo!
Já, agora, a talhe de foice, devo acrescentar que "As férias do Sr. Hulot" ou como diria o "Monsieur Martin qui a émigré por la France dans un sac de carton, a beaucoup d'années"*: "As vacanças du Mussiur Hulot", é uma comédia francesa de 1953, dirigida, escrita e protagonizada pelo saudoso Jacques Tati. Quem nunca viu, veja! Pelo menos, três vezes...
* Não sei se o tradutor do Google traduziu isto bem porque não pesco nada de francium...
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