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DESCUBRA AS 837 DIFERENÇAS

por João Castro e Brito, em 24.07.23

descubra as 837 diferenças.jpg

837 diferenças, subtis, fazem com que estas duas gravuras, aparentemente iguais, difiram quase de modo imperceptível. Cabe-lhe assinalá-las, com um bocadinho de paciência e olho vivo – naturalmente – , desenhando um pequeno círculo em torno delas que, como acabei de dizer, são muito ténues. Para as descobrir, também confio na sua perspicácia.
Como é hábito, em passatempos deste tipo, não se deve atribuir grande relevo a deficiências devidas à má qualidade das imagens. No entanto, pode-se socorrer de uns óculos com lentes mais grossas ou de uns binóculos. Todavia, queira aceitar, desde já, o meu mais sincero pedido de desculpa se, mesmo assim, isso continuar a dificultar-lhe a capacidade de observação dos pormenores mais diminutos.
Dica: aconselho que ache as 837 diferenças depois de um opíparo almoço.

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O ROCK PORTUGUÊS

por João Castro e Brito, em 24.07.23

O rock português tinha vindo para abanar o atoleiro em que se encontrava a cultura musical nacional. Estava-se no início da década de 1980 do século passado e esta expressão musical de origem anglo-saxónica (EUA) iria sofrer um impulso, nunca dantes visto nem tampouco imaginado, com a emergência de novas bandas e êxitos assegurados. Os UHF, por exemplo, lançavam um "78 rotações", ao vivo, com o título genérico "Roteiro de Lisboa". Esse LP (acrónimo de long-playing), incluía títulos sugestivos como "Rua do Carmo"; "Rua da Trindade"; "Rua dos prazeres" e "Rua das Necessidades". Já para não mencionar outro grande êxito surgido, mais ou menos, nessa altura, "Carapau de Corrida" que não fazia parte deste álbum e que seria editado num single de "45 rotações".
Os Taxi...quem não se lembra dos Taxi, santo Deus?! Eu era tão novinho e tão lindo..."puxa, vida", agora sou um canastrão! Desculpem lá este devaneio saudosista.
Mas, como ia a dizer, os Taxi aumentaram a tarifa e tiveram alguma dificuldade em editar um tema que, afinal, se tornaria num êxito de permanência no top de vendas da discográfica Valentim de Marvalho: refiro-me, evidentemente, ao "Rebuçado de Mentol" que, ao contrário da "Chiklet", não se agarrava às próteses dentárias.
Ainda, no campo dos consagrados, Rui Beloso lançaria um tema que ainda hoje trauteio quando estou debaixo do chuveiro: "Sai um café e um bagaço para a mesa do Xico Fininho!".
O chamado rock português, instalava-se, definitivamente, no nosso meio musical que andava pelas ruas da amargura no que concernia à mediocridade geral do que cá se produzia. Já imaginou o que era escutar na rádio o António Calvário a cantar "O Amor desceu em paraquedas"? Experimente ir ao YouTube e depois diga qualquer coisa, ok?
Curiosamente, meia dúzia de cantores e músicos da época, vendo que estavam a perder protagonismo, tentaram entrar na nova onda rock. Então, em 1982, formava-se uma banda chamada "RockPimba", com Marco Paulo nas teclas, Rui Guedes na bateria, José Malhoa na viola-baixo, Gaby Cardoso na viola-ritmo, Emanuel na viola-solo e Ágata na voz. Foi um sucesso estrondoso no meio sociocultural do género. Um dos temas da banda, "Eu tenho dois tractores", com música e letra do Marco Paulo, continua a ser tocado em festas de casamentos, batizados e romarias.
Pela mesma altura, António Vitorino de Almeira, recém regressado de Viena do Castelo, onde foi adido cultural, lançava um desafio público ao então Ministro dos Negócios Estrangeiros, André Gonçalves Pereira, convidando-o para formar um trio, ao estilo dos Emerson, Lake & Palmer, que, no caso vertente se chamaria Almeida, Pereira & Sousa – Marcelo Rebelo seria o baterista. Acrescente-se que Sousa não recusaria uma proposta tão irrecusável. Ele tocaria em todos os tambores necessários, até que alguém o ouvisse, e o certo é que uma grande maioria de ouvintes continua a escutá-lo atentamente..

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BALANÇA DE PAGAMENTOS

por João Castro e Brito, em 24.07.23

balança de pagamentos.jpg

O termo é utilizado quando os avozinhos e as avozinhas vão com os netinhos e netinhas ao parque infantil, os sentam nos baloiços e lhes dão pequenos empurrões até os pequeninos e as pequeninas caírem no chão, enjoados de tanto balançarem pra lá e pra cá. A relação entre este fenómeno e a economia é, ainda, de contornos nublados, sobretudo em dias de nevoeiro.
Economistas de nomeada, entre os quais destaco Fernando Medina e Mário Centeno, comungam a tese de que, quanto mais os avós baloiçam os netos, mais as crianças se enjoam e menos jantam. Trata-se de uma vulgar relação inversa entre o financiamento e a interpolação fiduciária, altamente correlacionada com a quantidade de gordura que os meninos e as meninas comem ao almoço. Esta teoria, indubitavelmente de grande interesse público, é de difícil aferição, sabendo-se que Fernando Medina e Mário Centeno não têm netos.
Porém, nada disto respeita a balança, anunciada em epígrafe, quebra-cabeças do ministro das Finanças, Medina. Já para não referir os constantes alertas do Presidente do Banco de Portugal sobre a má utilização dos bom nome e imagem de marca do banco dos portugueses, algo despropositado neste contexto. Mas se examinarmos minuciosamente o que escrevi até aqui, nada se encaixa, n'é verdade? Aliás, pelo andar da carruagem, isto vai descarrilar.
Mas, como dizia, esta teoria pretende confrontar créditos e débitos de diversas rubricas para lhes fixar semelhanças ou relações. Já para não mencionar as ralações que isso dá. Perceberam? Bom, se querem que vos diga, eu, muito menos, mas, continuando que se faz tarde.
Como não pesco nada de economia e muito menos de finanças, não posso expor aqui, em gráfico, a balança de pagamentos para o ano decorrente e seguinte, um ano que se adivinha muito tramado pra todos os tesos militantes. Contudo, vou tentar explicar a coisa da melhor maneira que sei para que todos entendam (inclusive, eu).
Então, é assim: quase toda a gente questiona, e com boa lógica: afinal, como é que esta balança pesa? A questão é candente, mas a resposta é fácil e corrente (passe a redundância, mas é só pra rimar com candente): pesa como as outras e passo a desenvolver o meu raciocínio com uma receita simples: botam-se num prato da balança dois galos de Barcelos bem nutridos e ainda vivos, besuntam-se com molho de manteiga Taveirola (passe a publicidade), panam-se bem com areia da praia-mar, fazem-se-lhes festinhas nas cristas e diz-se-lhes para aguentarem mais um bocadinho.
No outro prato colocam-se trouxas da Malveira, embrulhadas em preservativos (não confundir com camisinhas) e atadinhas com fita de nastro. Polvilha-se o chão com cabeças de alfinetes para abrilhantar, chamam-se os trouxas da Malveira, pergunta-se-lhes se a flutuação da cortiça é maior do que a inflação do euro e dá-se-lhes papas e bolos. Observa-se, então, o fiel da balança e chamam-se os bebedores de Canecas sem cedilha. Bebem-se uns copos de vinho da Azueira, comem-se as trouxas e os trouxas et voilà: a balança de pagamentos torna-se positiva, a crise vai-se embora e os galos param de espernear (?). Então, uma enorme acalmia atinge toda a economia, todas as finanças e todas as taxas de juros, juro!

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SURPRESAS URBANAS

por João Castro e Brito, em 17.07.23

surpresas urbanas2.png

PRIMEIRA:
Naquele dia, Carla, madrugou. Abriu os olhos; bocejou; espreguiçou-se; dirigiu-se à casa de banho; abriu a porta e deparou com uma cena muito bizarra: um engenheiro, desnudado, acabava de se assomar perante a sua surpresa e, naturalmente, susto.
Correu ao quarto dos pais, a gesticular e incapaz de falar:
- Que é isso, Carlinha, o que te aconteceu, minha filha?! – perguntou o pai, um bocadinho perturbado, mas, simultaneamente, cheio de curiosidade.
- Papá, está um engenheiro, nu, na casa de banho!
- Civil ou de máquinas, filha?
- De máquinas, papá!
- Então, manda-o reparar as máquinas de lavar a loiça e a roupa, antes de ligarmos para o 112.
 
SEGUNDA:
Roberto Castanheda não esperava que a mulher fosse interferir com os seus gostos pessoais – ou não fossem os seus gostos – no que concerne à forma de trajar, mas, efectivamente, aconteceu.
Estavam prontos para sair – lavados; penteados; engomados e perfumados – a caminho do São Carlos.
Castanheda pegou nas chaves do velho Bentley, conferiu na carteira os cartões de crédito e demais documentos indispensáveis, tomou o chapéu de feltro cinzento azulado, botou-o na cabeça calva e, enquanto observava a sua imagem reflectida no espelho, a esposa opinou, cortante:
- Vai levar esse horrível chapéu ante-diluviano? Fica-lhe mal, com esse fato, com essa gravata, com essa cabeça descabelada e até comigo. Tem tão mau gosto, Castanheda, valha-lhe Deus!
Visivelmente, surpreendido, pois estava longe de obter uma reacção tão reprovadora da mulher, Castanheda redarguiu:
- Mas gosto tanto do conjunto! Não sei que mal vê você no chapéu!?
- Tenha lá paciência, meu caro! Ou tira o chapéu ou não vamos à ópera! Decida já!
- Saiu-me uma boa tirana! Não vê que me sinto nu sem nada na cabeça?
- Escolha! – rematou ela, cruzando os braços.
Para evitar conflitos, aos quais não era atreito – pela sua afável natureza – , Roberto Castanheda acabou por ceder à exigência da esposa: deixou o chapéu em casa e abalaram a caminho do São Carlos.
Mal tinham andado dois quarteirões quando foram mandados parar numa operação stop. Castanheda foi imediatamente detido e levado para a esquadra mais próxima.
Moral da estória (se houver um pingo de moralidade nisto):
Esta coisa de uma pessoa andar nua na via pública ainda provoca muitos embaraços às autoridades.
 
TERCEIRA:
Numa loja que faz favores por encomenda:
- Pode fazer-me um favor?
- Com certeza; queira aguardar só um minutinho, se não se importa!
Passada uma hora:
- Eis, o seu favor!
- Mas, eu não pedi azul! – reagiu com surpresa.
- Queria noutra cor, era?
- Se puder ser, quero que me faça um amarelo torrado.
- Olhe, lamento, mas, de momento, não temos matéria prima.
- Deixe lá, serve mesmo um primo, já estou por tudo!
 
 

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OS BRAÇOS

por João Castro e Brito, em 12.07.23

manguito.jpg

Talvez você não saiba, mas debruçarmo-nos sobre os braços tem que se lhe diga e passo a explicar: um braço divide-se em duas partes: o braço, propriamente dito, e o antebraço, articulados entre si pelo cotovelo.
Analisemos cada uma dessas partes, separadamente, só para evitar confusões: o braço destaca-se do ombro e termina na articulação do cotovelo, certo? Assim, forma com o tronco um ângulo chamado axila, o qual serve para fazer cócegas e transpirar muito.
Quanto ao cotovelo, trata-se de uma espécie de dobradiça que impede que o antebraço fuja pra fora, permitindo somente movimentos como, por exemplo, um manguito*.
A propósito do cotovelo, importa referir que há gente que padece de uma doença muito comum, chamada "dor de cotovelo", para a qual não existem analgésicos.
Em relação ao antebraço, a sua função é evitar que a mão fique suspensa do cotovelo que, como toda a gente sabe, a acontecer, seria uma grande chatice.
O antebraço articula-se com a mão através do punho que pode ser de renda ou de ferro. Em ambos os casos é preciso ter pulso.
Tal como nas pernas, os braços dividem-se em direito e esquerdo. Penso que toda a gente sabe disto.
Para além dos dois braços, que estão ligados ao tronco (nunca é demais enfatizar), há a considerar outros: o braço-de-preguiça que é uma planta muito indolente; o braço de prata que é uma estação de comboios; o braço da justiça que é lento a condenar patifes poderosos e lesto a fazê-lo aos fracos; o braço-de-ferro que é quando alguém defende a sua dama com unhas e dentes, et cetera.
Os braços não se vendem. Quando muito, dão-se; e como é bom andar de braço dado, santo Deus!
Os braços são muito úteis para os seres humanos, embora não sejam imprescindíveis. Quem não tem braços caça com as pernas, como é curial dizer-se.
Além disso, para andar, as pernas, que já tive oportunidade de abordar em artigo anterior, dão muito mais jeito. E quanto mais compridas forem, melhor porque podem-nos safar de situações embaraçosas.
Quando estamos a braços com um problema, das duas uma: ou cruzamos os braços ou não baixamos os braços. Não existe meio termo.
É com os braços que envolvemos as pessoas de quem gostamos; neste particular utilisam-se os braços bem abertos e desejosos de apertar. Daí chamarem-se abraços apertados.
São os braços que transportam as mãos levando-as aonde são necessárias (faites la liaison...).
É também com os braços que esbracejamos quando estamos à rasca. Por exemplo, quando ficamos sem pé dentro de um ambiente líquido, sem sabermos nadar. Aqui, as pernas compridas podem fazer a diferença.
Diga-se, ainda e em abono da verdade, que cem braços são, regra geral, cinquenta pessoas.
A braça, ao contrário do que se possa imaginar, equivale (equivalia ) a 1,82882 metros e a braçada é o movimento dos braços, na natação, mas também pode ser um braçado.
A bracelete é um braço pequenino, mas também pode ser uma armela ou uma ramela (anagrama).
E fica, desde já, assente que um sujeito canhoto jamais será o braço direito de alguém.
Ossos: o braço possui, pelo menos, três ossos: o cúbito que é o osso do cotovelo e o que dá mais dores quando a gente recebe uma cotovelada em cheio, o úmero que é um osso muito homérico, e o rádio que, por sinal, só foi descoberto em 1902 por Marie e Pierre Curie.
Por último, nunca dê o braço a torcer senão aleija-se!
(*) A título de curiosidade, o Zé-povinho e o seu famoso manguito é uma criação de Raphael Bordalo Pinheiro. Património da tradição humorística Nacional, é um símbolo da resistência popular contra a opressão e os abusos do poder. O Zé-povinho teve a sua primeira aparição no jornal humorístico “A Lanterna Mágica “, no ano de 1875 do século dezanove.

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OS TRÊS EFES

por João Castro e Brito, em 04.06.23

fado, futebol e fátima.jpg

Olho para a varanda do último andar de um prédio em frente a este onde moro e tento escrutar o que motiva um gajo a limpar os sapatos com um spray e uma escova. Curiosamente, fá-lo com regularidade e até com alguma etiqueta. Não constato o acto porque me dê alguma espécie de prazer em bisbilhotar coisas que as pessoas fazem nas suas casas, mas porque lá calha presenciar, involuntariamente, a tarefa do vizinho da frente. Penso que tem a ver com o facto de demorar uma eternidade a deixar os sapatos num brinco. Simultaneamente, enquanto lhe observo os gestos rotineiros da operação, através da cortina indiscreta, chega-me o eco proveniente da TV, ali na sala ao lado – não importa distinguir o canal, pois estão todos sintonizados nos enredos do momento, os quais se vêm arrastando monotonamente há algum tempo desde o caso da tal indemnização milionária à Alexandra Reis. E quando não se rebate o enésimo episódio desta novela, rebatem-se outros como o da novela João Galamba e a Comissão de Inquérito da TAP ou as supostas habilidades do senhor Costa em desviar-se das questões que lhe são colocadas acerca da intervenção do SIS no caso do Ministério das Infraestruturas, et cetera. Quando não são estes, são os relatos recorrentes e exaustivos sobre a pedofilia clerical ou os assédios sexuais e morais dos "setores" aos alunos e alunas do ensino superior.
E ainda sobram as doses generosas de Fátima e futebol. Daqui, excluo o fado porque, entretanto, o fado regenerou-se, eu amo o fado, amo a saudade e o fado deixou de pertencer a essa trilogia tão famigerada, frequentemente referida como os três pilares da ditadura fascista para a pacificação e alienação das massas.
Tirando o aparte da minha paixão pelo fado, acho que este meu Portugalzinho não está, mentalmente, muito distante do de há meio século.
E continuamos com os peditórios para a Caritas, para o Banco Alimentar e demais instituições de solidariedade social.
As filas para a "sopa do Sidónio" também engrossaram. E a Banca, meus senhores?!... Diz-se à boca cheia que tem tido lucros fabulosos, o que, tudo junto, dá um bom caldinho!
Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes...

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CIRILO O CARNICEIRO

por João Castro e Brito, em 31.05.23

cirilo o carniceiro.jpg

(Cyril the butcher para inglês ver) é o pseudónimo mais conhecido para designar um famoso assassino em série, português, que se presume ter sido um imitador de Jack o estripador (Jack the ripper para inglês ver), que actuou na Buraca, uma zona mal afamada na periferia de Lisboa, decorria, então, o remoto ano de 1888.
O alónimo "Cirilo o carniceiro" surgiu após o endereçamento de uma carta anónima, assim assinada, para um conhecido vespertino alfacinha, escrita em alfabeto cirílico (só podia, n'é?), por alguém que alegava ser o assassino, a qual foi amplamente divulgada e motivo de grandes debates e algum temor, como é desejável nestas estórias.
É possível que a carta fosse falsa e talvez escrita por jornalistas numa tentativa para aumentar o interesse popular sobre o caso e vender mais jornais (os conhecidos pasquins dos nossos dias). Já naquela altura, valha-nos Deus! Sempre os mesmos...
O homicida sanguinário também foi epitetado de "o assassino das capelas" (the killer of the chapels para inglês ver) ou "avental de couro" (leather apron para inglês ver).
Pensa-se que as capelas tenham sido associadas a um estranho hábito de Cirilo: entrava numa capelinha para matar o bicho, sempre que completava mais um acto hediondo de estropiamento.
O avental de couro seria certamente para não se cortar e também para se proteger dos salpicos de sangue (esta é de caras).
Curiosamente, alguns jornalistas contemporâneos ainda utilizam estas denominações, embora eu não consiga explicar em que contextos. Quer dizer: até podia explicar, mas já não tenho muita vontade de o fazer porque estou farto de espremer o cérebro e não sai nada.
Queiram aceitar o meu mais sincero pedido de desculpas e bem hajam! Obrigado.
P.S.: é que isto saiu mesmo uma merda, pá, que grande chatice!

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OS IRMÃOS DALTON

por João Castro e Brito, em 31.05.23

os irmãos Dalton.jpg

Os irmãos Dalton eram mesmo de carne e osso e foram mortos durante um assalto a um banco.
Os verdadeiros irmãos Dalton: Joe, William, Jack e Averell, conhecidos como The Dalton Brothers (para inglês ver), não têm nada a ver com as personagens fictícias dos livros de estórias aos quadradinhos do Lucky Luke. Pelo contrário, estes, além de serem maus como as cobras, eram gémeos monozigóticos cujo acto de nascimento se revestiu de uma particularidade sui generis: no momento do parto, dois já sorriam, enquanto os outros dois nasceram mal dispostos.
Segundo relatos que ficaram registados nos anais da justiça Norte Americana, continuaram assim até ao final dos seus dias que, por sinal, foram curtos.
Uma coisa é certa e repito: os irmãos Dalton eram uns criminosos do piorio. Por essa razão, foram abatidos pela polícia, após mais um dos inumeráveis assaltos de que foram os principais protagonistas.
"O GANGUE DOS DALTON FOI VARRIDO DA FACE DA TERRA!".
Assim vinha mencionado o desfecho final das suas conturbadas vidas nas primeiras páginas dos jornais da época, em grandes parangonas.
Foram os assaltos bem sucedidos (imagine-se se tivessem sido mal sucedidos... Nem quero pensar!) que ditaram o fim do bando, no ano de 1892, quando tentaram assaltar um banco na cidade onde nasceram: Coffeyville (não confundir com Cofreville porque não existe), no estado do Kansas.
“Entre as nove e meia e as dez de quarta-feira, quatro malandros, dois aparentemente sorridentes e dois aparentemente aborrecidos, todos fortemente armados, chegaram numa carroça puxada por dois cavalos alazões” – relata um dos jornais da altura.
Os Dalton eram já sobejamente afamados para não serem reconhecidos e, assim, as pessoas com quem se cruzavam não tardaram a alertar as autoridades e, por conseguinte, armaram-lhes uma cilada (as autoridades, claro).
O final dos irmãos Dalton foi muito triste e muito feio porque houve muito sangue, suor e balas, é facto.
E desculpem lá ter de abreviar esta estória porque também já me está a dar a soneira.
Boa noite e continuação de boa semana!

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O TROGLODITA

por João Castro e Brito, em 22.03.23

o troglodita.jpg

Desconhecia o sedentarismo; respirava ar puro; bebia água límpida e tudo o que comia era cem por cento orgânico. Porém, aos trinta e cinco anos era um macróbio.
Conclusão: o que importa, mesmo, é a gente continuar a comer coisas boas como cozido à portuguesa; feijoada à transmontana; grão de bico com mão de vaca; pezinhos de coentrada; pataniscas de bacalhau com arroz de tomate malandrinho; joaquinzinhos com arroz de grelos; arroz de cabidela; lulinhas fritas à algarvia; iscas com elas; ensopado de cabrito; tripas à moda do Porto; bacalhau à Zé do Pipo; polvo à lagareiro; alheira de Mirandela; carne de porco à alentejana; ensopado de borrego; sopa de cação; sopas de beldroegas; migas; sardinhas assadas com pimentos; açorda à alentejana (peço desculpa por insistir na gastronomia do meu querido Alentejo) e que me perdoem os habitantes daquelas terras, certamente com fruitivos pratos típicos, das quais me esqueci. Se calhar, por ser pouco viajado e, por conseguinte, nunca ter provado o que de bom por lá se come.
Mas o que interessa aqui, nomeadamente a quem preza religiosamente a sua saúde e quer sobreviver para além dos trinta e cinco anos de longevidade dos nossos antepassados de há milhares de anos, é comer à tripa forra até ficar com aquela maravilhosa sensação de enfarte.
Finalmente, bem empanturrada, a gente senta-se num sofá até que a moleza passe. Pode, inclusive, beber um bagacinho ou dois para acelerar o processo de metabolização.
Detesto solenemente pessoal que defende ideias parvas como a combinação de exercício físico com "uma dieta equilibrada e saudável"! Para quê?! O paradigma do troglodita é bem esclarecedor, valha-lhes Deus!
E, como observação final, digo que devem aproveitar a nossa fantástica gastronomia, quanto antes, pois nunca se sabe se daqui a pouco tempo vamos ter necessidade de tomar comprimidos de iodo. E não estou a ser pessimista, palavra! Olhem, por exemplo, como já vão estando uns dias ensolarados, por isso propícios para sair da "hibernação", já estou a preparar-me para me ir empanturrar com um arrozinho de marisco à Ericeira. Vai custar uma nota, mas que se lixe! Vão-se os anéis, ficam os dedos...

 

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INFLAÇÃO GALOPANTE

por João Castro e Brito, em 16.03.23

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Agora que a taxa de inflação na Europa da União assume proporções assustadoras, com maior agudeza em Portugal por razões sobejamente conhecidas, parece que o BCE não tem vontade de a "acalmar". Como sempre, o bolso do comum dos portugueses tesos, entre os quais me incluo, é que paga. Por cá, há muita gente bem à rasca para conseguir manter a liquidez até ao fim do mês, o que me leva a sentir alguma inquietação em relação às suas dificuldades. É impossível, para quem tem preocupações sociais, ser indiferente aos problemas dos outros...
Este curto proémio poderá ser motivo para outra redacção mais séria, lá mais para a frente se me apetecer. Mas, a propósito de inflação, recupero um artigo, supostamente engraçado, que escrevi em 2014, noutro blogue que jaz morto e arrefece:

O homem entrou numa pastelaria, pediu uma bica e botou um euro em cima do balcão.
O empregado mirou-o de soslaio e disse:
- A bica é um euro e cinquenta cêntimos, amigo!
- Mas, ainda ontem, aqui mesmo, paguei um euro por uma bica!
- Não desminto que a tivesse pago a esse preço, mas, de ontem para hoje, inflacionou!
- Isto está cada vez pior, é tudo a roubar, que raio de país!
Como estava com vontade de tomar um café, lá puxou de mais cinquenta cêntimos, só para não estar a empatar a fila de clientes junto à caixa. O empregado olhou-o novamente e, com cara de poucos amigos, disse:
- Você deve estar a gozar comigo! Então não vê que um euro e cinquenta cêntimos não chega para pagar a bica?
Meio baralhado e pensando que aquilo só podia ser para os apanhados, respondeu:
- Então, mas ainda agora me disse que a bica custava um euro e cinquenta cêntimos!
- Pois é, mas, com a inflação galopante, um euro e cinquenta cêntimos já não dá para as despesas q'é que quer?
- Então diga lá quanto é que custa a bica para não perdermos mais tempo, que diabo!
- 2 euros!
- 2 euros?!...Porra, isto está bonito, está! Pronto, aqui tem os 2 euros...
O empregado olhou-o novamente, meio chateado, e disse:
- Então, e o imposto?
- Oh que caraças, mas qual imposto?!
- O imposto de transacção que entrou em vigor às zero horas de hoje. Você não anda a par das notícias?
- Olhe, não sabia, palavra d'honra!
O empregado, com um ar de pessoa muito bem informada, continuou:
- Eu elucido-o. Aqui, no "Matutino", reza o seguinte: "O imposto de transacção sobre o consumo unitário médio, previsto para o ano decorrente e seguintes, sobe cem por cento"..., 'tá a ver?
E acrescenta, antes que o homem tenha tempo para retorquir:
Fora o preço do novo programa informático de facturação e outros encargos fiscais! Não podemos ser só nós, comerciantes, a suportar as despesas, caro senhor! Portanto, isso a somar aos dois euros que pretendia pagar até agora pela sua biquinha, arredonda-lhe a coisa para os dois euros e cinquenta cêntimos.
Como era de prever, o homem começou a mostrar sinais evidentes de grande perturbação:
- Mas, estão todos doidos?! Querem que me dê uma coisa má ou quê?!
- Bom – ripostou o empregado tentando acalmá-lo – , se pedir recibo com o número de contribuinte, ainda se habilita a um automóvel topo de gama que, como sabe, é sorteado semanalmente. Portanto, veja a coisa pelo lado positivo; nem tudo está perdido, amigo!
Manifestamente desesperado, o homem já estava por tudo. Ele só queria tomar uma bica, fosse a que preço fosse. Uma bica por CARIDADE (a palavra destacada a letras garrafais é despropositada, mas é só para enfatizar o momento dramático)!
Tinha acabado de absorver o primeiro gole do conteúdo da chávena quando o seu rosto empalideceu subitamente e:
- Mas esta merda é tudo menos café!
- É claro que não é café e escusa de ser malcriado, caro senhor! – apressou-se o empregado, indignado, a explicar – Este é um lote especial de cevada e chicória, uma mistura, digamos assim. Se continuássemos a servir café puro, como até ontem o fizemos, com a inflação galopante, a sua bica subiria para os cinco euros, amigo!
Foi nesse preciso instante que se deu um acontecimento inesperado, uma reacção que ninguém esperava (passe a redundância): o sujeito, certamente possesso (só pode ter sido), atirou-se para cima do balcão, agarrou o empregado pelo colarinho, e obrigou-o a engolir quinze duchaises, vinte e cinco bolas de berlim, três quilos de bolos secos surtidos, um frasco de rebuçados de mentol e cinco caixas de bombons de chocolate belga, com lacinhos e tudo.
Ora, algum tempo depois deste infeliz desenlace, de consequências muito graves, tanto para o empregado como para o homem – escusado será explaná-las – e após julgamento, o acórdão do tribunal foi sumariamente proferido pelo juiz presidente:
- O réu é condenado a quinze anos de prisão maior agravada, por crime de ofensa à integridade física, seguida de tentativa de homicídio!
- Tentativa de homicídio, senhor doutor juiz?! – balbuciou o homem – Quando as consequências do meu acto insensato – não contesto – foram praticamente inofensivas, pois não passaram de umas diarreias insignificantes, uma colite ou outra, uma úlcera péptica e uma perfuração esofágica; o senhor até foi trabalhar no dia seguinte e tudo, veja lá vossa excelência, e levo com quinze anos?!
- Tem alguma razão. Não lha dou toda, senão não o teria condenado a uma pena tão pesada! – respondeu-lhe o juiz – Se fosse ontem condenava-o a um ano de prisão com pena suspensa. Assim, olhe, culpe a inflação galopante!

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