As pesquisas que levei a cabo, na Wikipédia – convém, sempre, valorizar a preciosa ajuda desta excelente enciclopédia multilingue, online – , foram muito laboriosas, como não podiam deixar de ser e não me pergunte porquê, porque não sei ou por outra: porque sim, prontos (que me desculpe aquela pessoa muito querida que abomina a expressão "prontos").
Contudo, penso que valeu a pena, dado que, após várias análises, minuciosas e abrangentes, cheguei à conclusão de que a frase "pôr as barbas de molho", data do interregno e consta ter sido criada para aludir a uma personagem supostamente muito regrada da nossa História: Dom João das Regras. Isto, sem embargo de outras opiniões, contraditórias, que afirmam o contrário (óbvio), dizendo que o senhor, afinal, era uma pessoa muito desregrada. Vá-se lá saber; e agora também já é tarde.
Mas, você, certamente, já havia adivinhado de quem se tratava e eu estou para aqui a gastar o meu latim pro boneco. Sem ofensa porque não o considero um boneco. Ainda se fosse uma boneca, vá que não vá!
Apesar destes considerandos de natureza geral, estou a ver que qualquer dia sabe mais de História do que eu! Era o que me faltava!
Mas, como ia a dizer, posso provar que tudo o que foi escrito sobre Dom João das Regras é uma falácia completa. Com efeito, "das Regras" não passa de um apelido e, como não me canso de repetir, os apelidos valem o que valem e a mais não são obrigados.
Portanto, DJR (para não perder tempo a escrever Dom João das Regras porque é chato e só serve pra prolongar o texto, já de si entediante, como já deve estar a constatar), ficará eternamente associado ao período mais profícuo e, por conseguinte, mais brilhante de Portugal, quer se queira ou não; não existe meio termo. Ou se quer ou não se quer. Olhe, é como aquela coisa do malmequer (sem assim-assim), está a ver?
Até lhe posso dar o exemplo de um período análogo que podemos estar a viver neste momento: isso mesmo! O período provisório da governação da AD. Você hoje está imparável! Nem sei o que é que estou aqui a fazer, valha-me Deus!
Pois, DJR foi uma figura proeminente desse extraordinário período da História de Portugal, como já tive oportunidade de dizer, e estou absolutamente convicto de que, sem ele, teríamos passado da Primeira Dinastia para a Segunda num ápice e, por conseguinte, sem um intervalinho, sequer, para um café e um bagaço.
Durante esse período tão gratificante, em particular para a monarquia e para o povo em geral, DJR (que usava fartas barbas, conforme os usos e costumes da época), trabalhou afanosamente pra preservar a unidade nacional, fundando, para o efeito, o PUN (não confundir com o "pum" ou flato), Partido União Nacional (actual PPM, ressuscitado pelo PSD).
Em resultado da sua dedicação ao Reino, era muito frequente esquecer as suas obrigações protocolares e até os seus deveres conjugais porque perdia dias e noites a estudar as leis do país de trás pra frente e de frente pra trás. Há quem sustente a tese de que não ia à bola com as leis. Ademais, parece que não era grande amante de futebol.
Do que ele mais gostava era de contar os tostões. E mesmo assim dizia que o dinheiro não lhe chegava para as despesas. No entanto, argumentava sempre que se não fosse ele, isto seria um país sem rei nem roque (embora o rock fosse uma expressão musical ainda desconhecida). E acrescentava – sobranceiro – que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas. Manias!
Como era costume destas ilustres personagens do passado, parece que, exceptuando algumas mais sensatas, a generalidade era muito descuidada. E é claro que DJR não fugia à regra. Saliento, a título de exemplo, o caso de Ludwig Van Beethoven, que por acaso nem vem ao caso, mas, em todo o caso, vale a pena referir, se esqueceu de que era surdo e compôs a nona sinfonia sem escutar um único acorde. Ou o caso de Van Gogh que comeu, distraidamente, uma orelha enquanto pintava o seu auto-retrato. Daí, só nos apercebermos da existência da orelha esquerda ao observarmos com muita atenção a famosa pintura. Ou ainda o caso, relativamente recente, do Paulinho das feiras, ex-líder de um partido, também ressuscitado pelo actual governo, que se esqueceu da sua famosa decisão irrevogável, revertendo-a para revogável. Enfim, grandes génios! Há que desculpá-los.
Já para não referir o caso presente do grande "choque fiscal" do Luís Montenegro (ups, já referi!).
Bem, desculpe lá; isto já vai longo e divaguei, o que não é habitual.
E pronto. Para compor esta estória, terminando-a o melhor que posso, dizer apenas que DJR também foi muito bem apanhado, quando, certa noite, sentado à mesa com uma malga de sopa fumegante à sua frente, tão absorto estava nos seus pensamentos que, a páginas tantas, a cabeça lhe deslizou das mãos, mergulhando as barbas no caldo. O acontecimento não passou despercebido ao seu lacaio que, cada vez que DJR adormecia ao jantar desabafava para os seus botões: "pôs as barbas de molho, coitado!"
Existe uma outra versão que se socorre de uma afirmação muito antiga de João das Regras: "Para serem mais honestos do que eu tinham que nascer duas vezes".
Ora, acontece que houve gente mais honesta do que ele, que por sinal até nasceu duas vezes, não se sabendo como, e assim ele teve de pôr mesmo as barbas de molho pra não ficar mal visto e pra não ficar com a cara toda escanhoada, o que era uma desonra para qualquer fidalgo que se prezasse. Verdade ou mito, jamais se saberá, mas também não é relevante para esta estória.